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  • Le Freak: Indie Rock no Agreste Pernambucano

    Por Nayara Nascimento Inspirada nas bandas Dinosaur Jr, Pavement, Sonic Youth, Pixies e bandas de rock dos anos 60, a banda Le Freak está em atividade há aproximadamente 20 anos. Em sua formação original, Beto Skin nos vocais, Alberto Leitao na guitarra solo, Charles na guitarra base e back vocais e Robson na bateria, a banda de indie rock santacruzense faz parte da história do movimento underground de Santa Cruz do Capibaribe. A banda, inicialmente chamada Projétil Lisérgico, surgiu do sonho em comum de quem curte rock: ter sua própria banda. Charles Marcolino, ex integrante da banda, comenta como bandas do mesmo estilo da capital pernambucana Recife, influenciou na formação da Le Freak: “ Quando a gente conheceu bandas como Supersoniques vimos que é possível ter uma sonoridade, mesmo em uma cidade do interior de Pernambuco". Em seus shows, a Le Freak sempre mantém seu repertório autoral, podendo algumas vezes homenagear com um cover as bandas que inspiraram a sua formação. Atualmente a banda possui o EP Le Freak gravado no estúdio Fábrica em Recife e o EP Aventures in Lo-fi em Surubim. Confira: A banda continua em atividade mas com a formação diferente da original, sendo Betto Skin no vocal, Alberto na guitarra, Lamarques no baixo e Eduardo na bateria. A Le Freak, assim como o Capibaribe In Rock, resistem e fazem parte da história cultural e política de Santa Cruz do Capibaribe. Confira alguns registros da banda:

  • Capibaribe in Rock através do anos

    Cartazes de todas as edições do Capibaribe in Rock desde de 1998

  • Capibaribe in Rock: há 25 anos Betto Skin, traça caminhos para cultura local

    Eu não tô sozinho, eu tô dando o sangue, mas sem tantos parceiros não teria conseguido, porque o apoio financeiro é importante também, mas não adiante fomentar se não tiver o artista, se não tiver o louco lá mostrando sua arte. Entrevista por João Rocha e Nayara Nascimento. Roberto José dos Santos Oliveira, nasceu na cidade de Limoeiro, em 31 de janeiro de 1972, sua memória fantástica se mostra presente já no início de nossa conversa quando ele lembra do horário e local que nasceu, às 08:15 da noite, em casa, recentemente completou seu quinquagésimo primeiro aniversário e nesta entrevista que você acompanhará a seguir, nos contou sobre detalhes que fazem do Capibaribe in Rock um dos eventos de maior resistência cultural de nossa cidade. Saindo de Limoeiro aos 17 anos, fugindo do alistamento militar, encontrou refúgio e aconchego na terra seca e árida que é a nossa Santa Cruz do Capibaribe, em 18 de junho de 1990 se instala nessa cidade banhada pelo rio capibaribe, por onde vive há mais de trinta anos. Mal sabia ele, naquela época, que vinte cinco anos depois estaríamos celebrando seu grande feito, movido por um coração valente, um corpo político e uma cabeça musical, o Capibaribe in Rock VIVE, trazendo músicas, cinema, artes, oficinas, desfiles, brechós, tudo que for de expressão artística, como o mesmo afirma. Quando tinha ainda pouca idade Betto já tinha uma paixão pela música, seja através de sua origem em Limoeiro que lhe apresenta o coco de roda, o maracatu e o frevo, seja pelas músicas que sua mãe ouvia, o popular brega do Odair José, seja pelo samba-canção entoado pelo Nelson Gonçalves, que seu pai tanto escutava, ou ainda pela amizade dele enquanto adolescente com Seu Zuzu, o dono da loja de discos de Limoeiro, onde adquiriu muitos de sua coleção de vinis, e onde também descobriu um universos de artistas nacionais e internacionais. Betto traz consigo nessa vinda para Santa Cruz um bisaco cheio de cultura/arte e uma vontade de movimentar, uma vez em Santa Cruz do Capibaribe agitou a cena cultural da cidade e hoje é um dos nomes na produção de arte e cultura de nossa região, ele abre seu baú de memórias para compartilhar conosco um pouco desse percurso enquanto agitador cultural, veja a entrevista a seguir: Betto, primeiramente gostaríamos que você nos contasse um pouco sobre a sua história e relação com a música. Sempre gostei de música, que da região que venho, em Limoeiro, sempre convivi com todos esses foguetes populares: coco de roda, caboclinho, ciranda, maracatu, frevo… Tenho uma proximidade com Recife também, então eu cresci absorvendo e conhecendo todas essas demonstrações culturais de nosso estado, sempre tive um apreço muito grande pelo teatro, através dos colegas do ensino médio. Inicialmente eu vim pra Santa Cruz, em janeiro, porque em Limoeiro tem tiro de guerra e eu não queria servir o exército, aí eu vim para cá e me alistei, como se já trabalhasse aqui, e morasse aqui, mas já tinha esse plano, como eu completei 18 anos em janeiro eu tinha que vim logo; No começo, comecei a trabalhar numa loja de moda praia e no ano seguinte comecei nesta empresa que trabalho até hoje. Eu tive uma boa adolescência e infância, peguei boas informações para ir montando essa construção de ser humano, em conhecimento e na parte pedagógica, e a parte da música entra através de minha mãe, de ser uma pessoa muito musical, ela gostava muito da linha popular do brega dos anos 70, Odair José, e do forró pé de serra; meu pai gostava muito de música de seresta, de cantores mais tradicionais, Celestino, Nelson Gonçalves, Silvinho, ele gostava muito de samba carioca e de Luiz Gonzaga e Quinteto Violado…Então eu cresci dentro dessa mistura de estilos, mas tudo música legal, de qualidade, tanto que se perdura até hoje, o que eu escutava, hoje em dia ainda se toca no rádio. Tem uma música que marcou minha infância, que é Sonhos de Peninha. Porque começou a me lembrar da década de 70, eu morava em Limoeiro, tocava muito na rádio, é uma lembrança que eu tenho de ouvir muito: “mas não tem revolta não…”. É uma música que perdura, porque Caetano regravou no final da década de 90 e virou sucesso de novo, provando que essas músicas perduram por muito tempo. Além da infância musical que eu tive em casa, na década de 1980, meu pai comprou uma mercearia lá em Limoeiro e tive a felicidade de morar na rua do cara que era dono da loja de disco da cidade, o nome era Primor Som, eu ia lá para comprar revistas que vendia também e comecei a olhar os discos, comentava com os amigos na escola, se eles falavam de alguma banda, eu ia lá na Primor Som procurar se tinha. E eu tive também a sorte de ouvir a rádio transamérica, a rádio cidade, a universitária de recife, que só tocava música clássica, era massa, a antena um que só tocava MPB, Jazz, Blues, ai eu anotava o nome das músicas, era Zuzu o nome do cara, ele fez parte da minha construção musical, eu pedia a ele: Zuzu traz esse disco pra mim, tenho um disco do Queens, the works, eu tenho até hoje, comprei com treze anos. Em 2022 o Capibaribe in Rock fez 25 anos de existência, um movimento já tradicional no calendário municipal, como você enxerga essa trajetória até aqui? Resistência, a primeira palavra que me vem na cabeça é resistência, é um movimento de resistência, de eu querer persistir em fazer isso, por amor mesmo, por ter continuado, conseguido manter alguns parceiros, instituições privadas ou públicas, como a UESCC (União dos Estudantes de Santa Cruz do Capibaribe), o CDL, que percebem muito a importância do evento, e eu tive a sorte de desde que criei o capibaribe encontrar com essas pessoas com sensibilidade cultural. A satisfação pessoal é grande, e por também contar com diversos amigos que sempre toparam participar do evento, seja de qualquer área que fosse, e esse foi um dos motivos que consegui manter o evento, por esse contato com esses artistas de outras áreas culturais. Aí tinha Pio e Nego que faziam os sombras, era mudo né; no teatro tinha aquela galera com Marcio Nunes, Professora Evani, com a saudosa Bethânia, com Lourdes, Ana e Márcia. Tinha também Maria Lu na fotografia, Gilberto Geraldo nas artes plásticas, tinha Edvan, Fábio Xavier, Cândido Freire… eram esses loucos que topavam a minha ideia, a gente ia se ajudando um ao outro e fazia acontecer. É a minha satisfação de tá com a galera que queria expor, que não tinha vergonha e ia lá, eu achava massa ver a arte deles sendo reconhecida. Quando eu convidava uma banda nova, ou que já tinha história na cidade, para participar do Capibaribe, eu via a satisfação, eles achavam massa demais. Acho que são um conjunto de fatores que me faz continuar resistindo, saber que eu tenho essa ideia louca de fazer e tem um bocado de doido comigo, seja participando como músico, como expositor, ou dando um apoio na produção. Acho que resumo em força de vontade e resistência mesmo, e eu sou satisfeito com o resultado que tenho, se der para fazer de determinado tamanho, eu faço, em tantos dias, eu faço, se for três bandas, eu faço, vendo que alguém quer fazer, eu faço, enquanto eu tiver convidando e a galera tiver topando, comprando a ideia, eu faço. Na década de 1990, quando inicia sua carreira artística enquanto DJ, e posteriormente na articulação do Capibaribe in Rock a partir de 1996, com participação que envolvia alguns nomes como Charles Leopoldino, Ailton e Gilberto Geraldo, estreando o festival em 1998… Gostaria que você nos contasse como foi o processo imersivo e criativo desse movimento cultural? Quando eu cheguei aqui em 1990 uma das primeiras pessoas que eu tive contato foi Carlos Felix, hoje em dia Carlos Mosca, que mora em Campina Grande, a primeira coisa que a gente se identificou é que ele gostava de The Smiths também, a gente tava conversando, não sei se era eu que tava escutando uma fita ou se foi ele que chegou ouvindo no carro e através desse papo a gente se identificou de cara pela questão musical. Carlos trabalhava com parte gráfica, e me convidou para fazer uma festa com ele: “tu vai discotecar?” - “vou sim”. A gente fez até um cartaz inspirado em uma capa do rolling stones, voodoo lounge. As primeiras festas com som mecânico foram no bar do copo sujo, que era como a gente chamava, lá na rua grande, quando a feira de mangaio era por lá, era um barzinho da parede meia suja, onde o pessoal da feira comia por lá. Foi nesse evento que surgiu o nome Betto Skin, Carlos me perguntou qual nome colocaria no encarte. A brincadeira com o Skin surgiu em um show de Zé Ramalho que eu tinha ido em São Bento do Una, e na volta a gente passou em Belo Jardim, foi quando eu comecei a usar o cabelo raspado, eu tinha um fusca com a placa de Santo André, uma triste coincidência, porque na época tava tendo os carecas da mercedes em Santo André, que metiam o pau nos nordestinos, nos gays, nos pretos, em todo mundo. Aí paramos para tomar um refrigerante, chegou um cara bêbado e veio até a minha mesa: “Você é um daqueles carecas da mercedes, que tá matando os nordestinos em São Paulo, você é um skinhead, repara na placa do carro…”, depois chegou alguém e levou o rapaz, e ficou por isso. Aí foi quando alguém sugeriu colocar no cartaz, Betto Skinhead, ai eu disse que não né, skinhead é muito pesado, mas bota Betto Skin, que é pele e a gente pode fazer uma referência a minha careca, ai ficou skin. O evento era eu tocando, a gente comprava as biritas, e lá a gente comprava um caldeirão de xerém com galinha, alugava o espaço e fazia a festa. Por isso que o Capibaribe sempre teve esse conceito de trazer a galera do rock e também o pessoal da diversidade, no primeiro Capibaribe in Rock teve Fabricio França com o grupo Sulancar, teve um desfile de Adriano Morotó, foi totalmente chocante. Eu vim conseguir fazer exposição no Capibaribe in Rock a partir de 1999, que foi no novo club, teve exposição de Carlos Felix, de Ronaldo Neves com telas, teve performance de Fabrício França, foi bem massa. Agora, hoje, eu sinto falta da renovação nas outras linguagens, a gente consegue sempre trazer novas bandas e grupos musicais, mas eu sinto falta dessa juventude participativa nas outras linguagens. Eu tentei fazer o Capibaribe por dois anos seguidos sem sucesso, eu conheci Ailton que morava uma rua depois da minha, e a gente tentava apoio nas lojas e nada, em 1996 e em 1997. Ai em 1998 eu já conhecia Charles de vista, e conheci o pessoal da Carcinose, tinha o pessoal que fazia um movimento em Surubim, também, e em maio de 1998, eles me convidaram para fazer um som lá, ai rolou essa empatia, essa conexão por identificação. E aí em juntei a Carcinose, o pessoal de surubim, uma banda de Ailton, e quando vi tinha seis bandas pra tocar na primeira edição do Capibaribe, que aconteceu na Estação do Som, onde é a farmácia Nataly, na avenida 29 de dezembro, Braz que era o dono me confiou o espaço e ai eu consegui fazer dois ou três eventos lá, até hoje Braz tem um carinho imenso por mim. Foi o que eu construí ao longo do tempo, o pouco que eu construí de respeito foram nos pontos essenciais, eu tenho uma casa que é a UESCC para fazer um evento, tenho contato de um pessoal que aluga som. O primeiro Capibaribe in Rock, aconteceu na data do aniversário da minha mãe, eu fiz involuntariamente, sem saber, depois foi que eu me toquei, em 08 de agosto de 1998, no mesmo ano, nós fizemos o halloween, em 31 de outubro e no final do ano fizemos a Zueira Natalina, então no primeiro ano foram três eventos. Tiveram pessoas essenciais para esse começo, todo o pessoal da UESCC, Gilberto Geraldo ajudou também muito, o primeiro cartaz quem fez foi Iron, e Charles foi uma pessoa essencial também, chegou junto e topou. A gente só conseguiu fazer porque deu um público da porra, deu umas 600 pessoas, tanto que a grana que deu, a gente ajudou a comprar os instrumentos da Carcinose, fui em Recife com eles comprar bateria, guitarra… Já passaram pelo palco do Capibaribe in Rock, gêneros musicais como a MPB, a música eletrônica, Indie, o Batuque e Maracatu, a voz e violão… Quando o festival foi pensado era para ser um evento direcionado ao Rock? Era para ser direcionado a todas as formas de linguagens artísticas e culturais, o rock no nome é algo ilustrativo, me lembra da raiz, porque eu sempre curti rock, mas a ideia foi espelhada no Abril pro Rock, que tinha uma feira pop, o mercado pop, tinha a galera do mangue beat, tinha expositores, e aí eu vi e queria fazer algo desse mesmo modelo, com bem muita diversidade, algo muito massa, no início, em 1994, o evento acontecia no maluco beleza e lá rolava de tudo, tatuagem, brechó, de tudo…eu pensei né, eu não vou fazer algo voltado só ao rock se o que eu quero é mesclar, tanto que a partir de 2001 eu comecei a fazer parceria com a UESCC, eles ofertavam oficinas de percussão e de DJ’s. A partir de 2000 eu comecei a fazer sozinho com a produção executiva do festival, de captar recursos, sozinho, assim, sozinho entre aspas, porque Charles sempre esteve comigo na captação de recursos, ele foi muito essencial, foi ele quem abriu as portas para o CDL, e também para outras três ou quatro empresas. Atualmente quem compõe a equipe de gestão do Capibaribe in Rock? Eu tenho como parceiros hoje em dia, na produção, Naldo Budega na parte gráfica, Jorge Luiz cuida das redes sociais, a divulgação, e apresenta o festival e a UESCC, que tá sempre como pedra fundamental, eu tô sempre contando com a UESCC, sempre é a casa, e eu. Mas assim, eu digo eu porque é quem tá correndo atrás, mas se eu não tiver banda para convidar, um segmento, um movimento para convidar, eu não consigo fazer. Esses que eu falei são os pilares mas todo ano a galera que aceita participar fazem o festival comigo também. Enquanto produtores culturais sabemos que o apoio financeiro público ou privado é bem escasso para produções artísticas, e se tratando de uma região do interior isso se torna ainda mais agravante. Dito isto, acreditar na (re)existência do evento foi difícil? E como aconteciam esses apoios no início? Muito, a questão do apoio é o seguinte, sem o fomento institucional, no caso, via pública, seja a prefeitura, a secretaria de educação e cultura, é impossível de se fazer o evento, porque a maior despesa do evento está na parte de som e de iluminação, de estrutura. Todas as bandas que se predispõem a tocar, sejam de Santa Cruz ou de fora, das cidades circunvizinhas, ou seja, que tenham o interesse em tocar no festival, mesmo sabendo que não tem cachê, por o evento ser um evento aberto, público, no máximo eu consigo dar uma ajuda de custo, hospedagem e a alimentação, alimentação sempre, é o essencial. Quando a gente consegue trazer uma banda de fora que vem tocar na irmandade, muita gente que vem me diz: arruma um lugar pra ficar aí que a gente vai por nossa conta, eu escuto muito “a gente quer tocar”. aí vem se diverte… Já teve banda que veio tocar de Mossoró, mais de 700km pra cá, eu disse que disponibilizava a hospedagem, mas o combustível não tinha como, eles disseram, não pow a gente vai por nossa conta, 30 de outubro o nome da banda, se eu não me engano vieram tocar na edição de 2013, eu acho bem legal isso ai. Mas o que eu consigo captar junto à iniciativa privada é justamente o básico para poder suprir essas necessidades. É um evento totalmente apolítico, mas sem o apoio da prefeitura eu não consigo fazer, quando eu chego em cima do palco eu não vou agradecer ao prefeito fulano de tal, mas sim a instituição, porque eu enquanto produtor cultural, eu faço um evento gratuito, tomando muitas vezes o lugar e a obrigação da iniciativa pública que é de fomentar a cultura, e trazer ao jovem e a sociedade o lazer gratuito e eu trago isso, mas ai a visão das prefeituras, das gestões, no meu ponto de vista é uma visão limitada, mínima, com relação ao evento, de interesse, apesar de eu ter esse apoio ai, mas eu sou daquele que se levar um não eu não vou para a rádio criticar, não vou perder meu tempo com isso não. E aí, eu sempre busquei ficar distante dessa disputa política que existe aqui. Mas era para se ter um direcionamento mais adequado para eu oferecer um evento melhor, com uma estrutura maior para o público, pro cidadão santacruzense que é obrigação do município, do estado, da união o que quer que seja, que é fomentar culturas públicas, e eu faço o papel da iniciativa pública. Do mesmo jeito que tem a visão limitada da iniciativa privada também, que às vezes dá o valor da cota mínima, que para o festival, não chega nem a 10% das cotas de grandes eventos ai. Outra porta que abriu nessa última edição do Capibaribe in rock foi uma parceria massa com a Rádio Polo, que cedeu espaço para divulgação, me convidou pra o programa dele, e eu conheci Silvio José pegando carona pra ir pra Surubim, ele era locutor de uma rádio de Surubim, em 1994 quando eu tava voltando para visitar Limoeiro, sempre tive esse carinho com Silvio, essa aproximação, já fez gravação pra mim, gravação de mídia sonora, sempre cedeu o espaço pra divulgação do Capibaribe, eu num sabia a rádio que Silvio tava, mas ele sempre se mostrou aberto a divulgar o festival, isso é outra coisa que eu achei massa, é outra porta que se abre, porque eu também nunca fui de forçar muito não, sempre se apresentaram pessoas sensíveis e permanecem parceiros. Eu só não tive apoio da gestão municipal nos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008, a gestão me procura em 2009 e a gente consegue destravar e eles também conseguiram compreender que o que eu faço é um festival apolítico, eu sou apolítico, o evento é direcionado pra música. Agora vê o que é um festival com o suporte de um edital, em 2009, rolou um edital para microprojetos do semiárido, que envolvia todo o semiárido do nordeste, pegou o agreste, uma parte da Bahia e de Minas Gerais, tudo que era considerado como semiárido, aí o Capibaribe foi contemplado, saiu o resultado no final de 2009, e eu executei justamente no Capibaribe de 2010. Nessa edição eu fiz um evento do jeito que eu queria, três dias, na sexta feira, primeira noite teve maracatu, chorinho, MPB e regional, na segunda noite rock, metal, indie, folk, no domingo teve grupo percussivo, três dias, todo mundo recebendo um cachê legal, um dos parceiros que sempre agregava era Alexandre Soares do Curta Taquary, esse ano de 2010 a gente colocou o projetor na calçada, na parede branca da frente da UESCC e ficou exibindo os filmes na calçada, Luciana fez as exposições dela, teve oficina de confecção de máscara, de percussão, tocou o maracatu chamado Brasilidades que tinha Rubinaldo Catanha e tinha outro Catanha, eram dois Castanhas, que os Catanha é uma etnia em Santa cruz né uma família não, uma musicalidade da porra, Santa Cruz é muito rica por isso. Aí eu digo porra como é massa uma estrutura pra um festival, foi, foi…(não conseguiu achar a palavra que descrevesse). Beto, saindo um pouco do protocolo, gostaria aqui de reverenciar a sua garra, persistência e resistência para comandar um evento que tomou essa dimensão que tomou, como ele está entalhado na história cultural e política de Santa Cruz do Capibaribe, e evidenciar o produtor cultural porret@ que você é, além de ser o vocalista de uma das bandas que mais passou no palco do festival, a banda Le Freak, que este ano completa 19 anos de carreira. Como você vê a relação entre o Capibaribe in Rock com a Banda Le Freak? Eu sou feito o dono da bola. O dono da bola era o jogador mais ruim da rua, mas ele jogava em todos os times sempre. A Projétil Lisérgico surgiu em 1998, e em 2003 fizemos um show lá na rua grande num palco bem grandão, o palco disputou espaço com os bancos da feira e os ônibus de excursão que vinha da Bahia, nessa edição veio dois amigos meus que eram do exército, mas gente boa, colocaram o rapel, montaram lá, Gilberto Geraldo desceu, quem tinha coragem desceu. Foi o último show da Projétil Lisérgico que foi em 2003, e aí em 2004 a gente já começou como Le Freak, aí tivemos um intervalo que foi o período que eu perdi meu pai, em 2005, em 2006 eu pensei em remontar a banda, mas eu vou cantar dessa vez, remontei a banda com Charles na Guitarra, eu no baixo, Beto Moura e Robson. O show de retorno foi no Capibaribe de 2006, que foi em frente ao Tibúrcio, foi na rua. Eu sempre compunha com Charles. A gente tem um EP gravado em 2014, gravado no Recife, com Charles, Renato, Lamarques, Leitão e Eu, e tem um agora que a gente gravou em 2021, gravamos em Surubim, no studio de Surubim, via Lei Aldir Blanc, que tá lá na nossa página no bandcamp (https://lefreakpe.bandcamp.com/), Adventures em Lo-FI, Aventuras de Baixa Fidelidade. No prédio de Arthur Clemente, que é pai de Lula Clemente que é um cineasta aqui de Santa Cruz que tem um filme muito cult que é a Galega da Moto. Na edição do Capibaribe in Rock de 2005, a gente tocou lá no prédio de Arthur, no térreo, chamava a garagem e em seguida teve a exibição do curta da Galega da Moto e a gente fez a trilha sonora ao vivo, eu no baixo, Carlos Mosca na Voz, Charles na Guitarra, a gente fez um bregão ficou do caralho! Para finalizar, trago um comentário que o Euzébio fez sobre você em uma entrevista para um blog da cidade, ele disse “Betto além de ser o criador do evento é o que ‘dá mais sangue’ para sua realização”. Diante desse fragmento e de tudo que conversamos aqui, o que seria, para você, o principal ingrediente para se criar e resistir um festival dessa proporção? Ter quem acredite, é como eu disse, eu não tô sozinho, eu tô dando o sangue, mas se eu não tiver banda pra tocar, se eu num tiver ninguém pra expor, se eu não tiver uma casa pra fazer, ninguém faz nada sozinho não. Se eu não tivesse todo esse apoio que eu tive e tenho…o mais massa é quando eu ligo pra alguém convido pro evento e eles dizem na hora “quero”, porque o apoio financeiro é importante também, mas não adiante fomentar se não tiver o artista, se não tiver o louco lá mostrando sua arte. Em toda história do Capibaribe tem muita gente que participou que fez esse movimento acontecer, num foi eu sozinho, eu catalizo, eu vou organizando por aqui, e sempre esperando uma ajuda maior, um reconhecimento maior, por ai.

  • Resenha Crítica da obra "Sombra Severa" de Raimundo Carrero

    Critica Literária por Ceres Maria. O autor Raimundo Carrero, é um importante escritor pernambucano que possui inúmeras obras publicadas e premiadas, muitas abordando temas de cunho social. O livro Sombra Severa tem como enredo a história de dois irmãos, Judas e Abel, que vivem em harmonia desde que seus pais faleceram. No entanto, tudo muda na relação dos dois quando Abel resolve trazer Dina, a mulher por quem se apaixonara para a sua casa com o objetivo de se casarem e serem felizes. Um dos pontos mais interessantes em sua obra é como o autor consegue abordar de maneira profunda o sentimento dos personagens e seus laços afetivos dos mais diversos tipos, como o amor, a felicidade, a lealdade, a determinação, a traição, o medo, a tristeza, o ódio e a inveja. Todos os sentimentos citados são importantes para o desenvolvimento dos personagens e para mostrar como esses indivíduos são humanos. Abel, o irmão mais novo que amava tanto Dina, estava disposto a batalhar com os seus irmãos, os Florêncio, pela a sua mão e buscava contar com o seu irmão mais velho, Judas, para lhe ajudar a escondê-la. Este estava disposto a apoiar Abel em seu plano, mas com tamanha dor, pois amava a mesma mulher que seu irmão. Seria o sangue o motivo de tanta devoção e zelo para a construção do laço afetivo entre ambos? ou esse mesmo sangue poderia dar início ao sentimento mais devastador e sombrio inerte ao ser humano, o ódio? Mas e se for os dois? É esse conflito de sentimentos que Raimundo aborda em sua obra. Judas ao que parece se dá bem com o seu irmão, mas quando descobre que Abel trouxe Dina para a sua casa, fica muito surpreso e amargurado, alegando apenas em seus pensamentos que o seu ato imprudente jamais deveria ter acontecido. Judas diz estar disposto a lutar com os Florêncio para ajudar Abel, mas a palavra luta que é tanto dita no começo da obra também haveria de ser um combate interno para o irmão mais velho, pois como Abel pôde trazer aquela mulher intocável para dentro de casa? Ainda mais com alguém que estava se segurando tanto para não desejá-la. É interessante observar como a escrita de Carrero é dramática. Na obra são trabalhados com imenso fervor os sentimentos proibidos e pecaminosos dos personagens, como o desejo, que lhes trazem culpa, ocasionando em atos insensatos, mas a primeira vista admiráveis devido ao amor tal qual fugir com a amante para viver a felicidade que almejam, conforme Abel. Ou cometer atos imorais e um tanto macabros como o abuso sexual ou assassinato por inveja, ódio e ciúme de um mesmo amor. A dramaticidade em sua obra está presente nos conflitos internos envolvendo as emoções dos dois irmãos. Abel percebia a raiva de Judas consigo por causa dos atos maldosos que realizava para atingi-lo, mas ainda assim o amava e não se revoltava contra o irmão. Abel sentia raiva de sua traição, mas não podia se afastar, pois se importava com Judas. Já este não compreendia de maneira clara os sentimentos que nutria pelo irmão, era inveja ou ódio? Judas buscava a resposta de sua indagação, relembrando o seu passado com Abel desde a infância, percebendo que sempre foi a sua antítese, sendo o mais novo a Luz e o mais velho a sombra. O autor faz inúmeras analogias envolvendo o cristianismo, sendo a obra uma alegoria à Bíblia. Exemplificando os nomes dos protagonistas, Judas e Abel que durante a estória percebe-se uma semelhança com a passagem bíblica das figuras de mesmo nome. Sendo os personagens, no livro, simples moradores de uma cidade do interior, mas com personalidades e essência similar as figuras da Bíblia, com o irmão mais velho sendo o traidor e o mais novo sendo morto pela inveja de Judas. A maneira em que Judas se vê refletindo acerca da origem de sua inveja sobre seu irmão e associa esse sentimento com a cobra do jardim do Éden é mais uma analogia que o autor faz ao cristianismo, ou quando Judas resolve matar o carneiro de Abel, referindo-se a história bíblica de Caim e Abel. O regionalismo está presente no livro de acordo com a cultura e costumes dos personagens, as práticas religiosas e o conservadorismo são bastante notáveis na estória. Exemplificando, a virgindade das mulheres, sendo representadas por Dina, que não pode conviver num mesmo ambiente com outro homem até que se case. Outro exemplo é a aparição e importância da religião, em que os personagens, como Judas, buscam amparo emocional na igreja da cidade, para confessarem os atos e pedir por perdão, como suplicar por proteção. Por fim, o seu livro assemelha-se ao segundo movimento do romantismo no Brasil, a geração do ultra romantismo, que é acentuado no sentimentalismo e pessimismo dos personagens. Judas é antagônico a Abel em personalidade e essência, se enxergando como a escuridão, o sombrio, algo que detestava em si e por esse motivo nutria um sentimento rancoroso por seu irmão, o considerando a luz. O autor ao expressar esse sentimento do personagem utiliza de uma escrita bastante dramática e excessivamente pessimista para mostrar que as emoções negativas do mais velho eram em demasia. Exemplificando o jogo de cartas que acontece num bar, em que Judas faz uma analogia dos naipes das cartas com o seu amor proibido por Dina e o quanto a moça era inalcançável. O ultra romantismo também trabalha o conceito de morte, em virtude dos personagens terem sentimentos pungentes em exorbitância, morrer seria o ápice para exprimirem as suas emoções. Assim como Judas que não queria viver pelo o que fez ao seu irmão, alegando que morrer seria a punição perfeita pelo seus atos. Desse modo, é de extrema importância ler a obra "Sombra Severa" de Raimundo Carrero quando se fala de literatura pernambucana, pois a maneira como conduz suas histórias fazendo analogias ao meio social em que vivemos/convivemos e como isso afeta a mente de seus personagens, aproximando-os de nós, mostra que somos um poucos loucos, perfeitos dramaturgos, e que buscamos lidar, do nosso modo, com a loucura. No entanto, os seus heróis diferem de nós, pois em sombra severa estão prestes a sofrerem um colapso mental por causa das muitas emoções que experienciam, e por esse motivo não conseguem suportar a realidade em que vivem, buscando soluções extremas para os seus impasses. Por essa razão, é espetacular o modo como o autor faz com que o leitor se encante com a complexidade dos seus personagens e com o seu mundo criado. Judas e Adão são figuras existentes na história bíblica, carregados de morais divinas, mas acima de tudo são humanos. Em sombra severa, os heróis sentem amor, inveja, tristeza e ódio por um mesmo alguém, podendo ser um irmão ou um amor, assim como nós. A complexidade de emoções que temos sobre o outro é o que nos torna ilógicos e por isso somos encantadores e enigmáticos, sendo Raimundo Carrero cirúrgico em alinhar esses pontos na sua estória.

  • RETRATO Raimundo Carrero

    Por Ceres Maria. Raimundo Carrero é um importante escritor pernambucano que possui inúmeras obras de valor cultural com reconhecimento nacional e internacional de seus livros que abrangem vários temas sociais. Nascido na cidade de Salgueiro em 1947, é filho do comerciante de roupas, Raimundo Carrero de Barros e Maria Gomes de Sá. O autor estudou o primário no colégio Estadual de Salgueiro e em sua adolescência cursou Ciências Sociais na Universidade Federal de Pernambuco. Em 1969, Raimundo Carrero trabalhou para o Jornal de Pernambuco cumprindo várias funções para a empresa como crítico literário e editor-chefe da redação. O jornalismo foi muito importante em sua vida, exemplificando o seu comentário numa entrevista à ensaísta e professora Heloísa Buarque de Hollanda: "O jornal disciplina, organiza o trabalho de escrever. No jornal você se exibe, perde o medo”. Além disso, trabalhou como assessor de Imprensa da Fundação Joaquim Nabuco, foi presidente da Fundarpe, Fundação de Patrimônio Artístico e Histórico de Pernambuco, participou do Movimento Armorial junto a seu amigo Ariano Suassuna, exercendo a função de contista e romancista em 1970. Carrero constituiu o Conselho Municipal de Cultura e o movimento cultural popular por oito anos e lecionou na Universidade Federal de Pernambuco durante os anos 1971 e 1996. Diante disso, o autor descobre o fascínio pela literatura por meio da biblioteca de seu irmão mais velho, em que os livros ficavam localizados embaixo dos balcões da loja de roupas e chapéus de seu pai. Dessa maneira, Carrero passa a ler José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Ibsen e Shakespeare. Mas antes de se tornar escritor, desenvolveu um grupo musical denominado Os Cometas, que consequentemente lhe trouxe uma experiência musical que ao retornar a Recife na década de 70, passou a tocar saxofone para uma banda de rock chamada Os Tártaros. Carrero começou a sua trajetória na escrita utilizando os papéis na loja de seu pai e sua primeira novela foi Grande Mundo em Quatro Paredes, escrita entre 1968 e 1969, mencionado pelo autor como uma “obra de menino”. Criou e mantém a sua Oficina de Criação Literária, que desenvolveu novos literatos. Carrero também escreveu a novela A Dupla Face do Baralho: confissões do Comissário Félix Gurgel, de 1984, publicado pela editora Francisco Alves em convênio com a prefeitura do Recife, proporcionou um intenso crescimento em sua carreira e sucessivamente mais obras foram surgindo. Raimundo Carrero foi eleito em 2004 para a cadeira 3 na Academia Pernambucana de Letras e com o decorrer escreveu 14 livros que lhe rendeu vários prêmios em suas obras, como o seu livro Somos Pedras que se Consomem de 1995, intitulado como uma das melhores obras da época de acordo com o jornal O Globo e selecionada como a melhor obra de ficção pelo Jornal do Brasil. Os seus prêmios literários são: Revelação do Ano, Prêmio de Oswald de Andrade com Viagem no Ventre da Baleia (1986), Prêmio José Condé pelo livro Sombra Severa (1985), concedido pelo Governo de Pernambuco, Prêmio Lucilo Varejão, da prefeitura de Recife, com O Senhor dos Sonhos (1986), melhor romancista do ano de acordo com a Associação Paulista de Críticos de Arte, Prêmio Machado de Assis, da biblioteca nacional, pelo livro Somos Pedras que Consomem e o prêmio Jabuti pela Câmara Brasileira do Livro, com a obra As Sombrias Ruínas da Alma (2000). Por fim, Para o autor a loucura é uma fuga da realidade daqueles que não querem conviver o com o real que os cercam, mas diz que todos nós somos loucos e comenta algo que seu amigo diz “o pior da vida é a ditadura da realidade”, pois as pessoas que seguem a realidade, o meio burocrático e tudo que cerca o real torna esses indivíduos mais loucos que os loucos. Para Carrero existe uma ordem e o louco é a desordem, e o artista busca organizar essa loucura em suas obras. Portanto, para Carrero o personagem habitual não é interessante, o que lhe instiga a escrever as suas figuras literárias, é a essência lúdica que possuem, como o Matheus da sua obra, o amor não tem sentimentos, que é o seu personagem favorito devido a sua insanidade.

  • Exposição Animação Pernambucana - 5 Décadas de História

    Por Ana Carolina Silva Duarte. O ano de 2022 marcou a celebração de 50 anos de animação pernambucana, iniciada com o pioneiro e mestre animador Lula Gonzaga. Para comemorar essa grande jornada de produção cultural da cinematografia, o Museu de Cinema de Animação Lula Gonzaga (MUCA), através do projeto do SESC, o ANIMASESC, elaborou uma exposição para contar a história de 5 décadas da animação em Pernambuco. Visitamos a exposição e a Spia conversou com Rafael Buda, produtor e realizador audiovisual, e coordenador na área de programação do MUCA. Carolina Duarte (CD): Como membro do MUCA, como foi idealizar e participar da exposição do ANIMASESC? Rafaela Buda (RB): O MUCA no ano passado completou 5 anos de vida, e a gente completou 50 anos de animação em Pernambuco, então são histórias que se entrelaçam. O MUCA inicialmente foi um projeto vocacionado para cuidar da preservação e memória da obra do mestre e patrimônio vivo Lula Gonzaga, mas que ao longo do seu tempo, da sua trajetória, expandiu para que a gente pudesse dialogar com outros artistas, não só de Pernambuco, como também do Brasil e internacionalmente. O MUCA hoje, funciona a 80 quilômetros do Recife, no agreste de Pernambuco, na cidade de Gravatá, é um espaço físico com cerca de 90 metros quadrados, onde a gente pode ir lá não só revisitar toda essa trajetória do mestre Lula, como também realizamos cineclubes, oficinas, eventos, e já recebemos inúmeras visitas, tanto de estudantes da Universidade Federal, quanto de animadores aqui do Estado e de outros países, posso destacar, por exemplo, a Alemanha, França, Argentina. Na nossa parte de formação, realizamos cerca de 6 oficinas por ano, formando uma média de 120 jovens do Agreste neste ciclo básico de animação, possibilitando que o Agreste possa ser hoje um grande polo de referência da produção de cinema de animação aqui do estado. Pensar a exposição foi um desafio enorme porque não foi fácil conceber o caminho que a gente ia desenvolver para poder apresentar isso para os visitantes, mas fizemos um recorte muito bacana. Queríamos não fazer uma exposição apenas historiográfica, digamos assim, mas trazer o que a animação tem de diferente das outras linguagens audiovisuais, que é a possibilidade de poder trazer cenários, objetos, matérias de jornais e experiências interativas, como por exemplo, a maioria dos filmes que nós jogamos luz aqui, trouxemos para que os visitantes pudessem apreciar, que foram cerca de 60 obras durante essas cinco décadas, elas também estão linkadas via QR Code, onde o visitante pode não só ver uma foto, ver o boneco, ver o cenário, como assistir o filme ao mesmo tempo. Então é possível ver, principalmente, a transformação tecnológica de animações com pouca ou quase nenhuma estrutura para serem produzidas, seja de recorte, seja com câmeras analógicas, seja com o processo digital até chegar hoje na possibilidade de trabalhar com 3D. Então acredito que foi uma exposição bem pensada, com a curadoria muito legal do Tiago Delácio, com a montagem muito bacana do Bruno Cabús e toda uma equipe que se envolveu e se dedicou intensamente para que a gente pudesse entregar o melhor que a animação pernambucana tem nessas últimas 5 décadas. (CD): Como foi que se iniciou a sua relação com a animação, esse interesse começou na infância ou veio depois? (RB): Desde criança eu gosto muito de desenhar, de ler revistas em quadrinhos, HQs, fui muito estimulado por isso através da minha mãe principalmente. Em 2005 eu tive a oportunidade de participar de um projeto na Casa da Cultura, por meio do Mestre Lula Gonzaga, que era um projeto chamado Células Culturais: Desenhando culturas, então a partir disso eu comecei a emergir mais no mundo da animação. Minha primeira formação é Ciência da Computação, então a gente acaba interagindo também com essa parte de design, games e de animação. Então, desde 2005, eu sou ligado à área de cinema de animação e desde 2013 eu me dedico integralmente a esse universo, ou seja, fazem 10 anos esse ano. O ano de 2013 foi quando a gente realizou o primeiro Animacine, que é o festival de animação do Agreste, com a coordenação artística do Mestre Lula Gonzaga, a coordenação do festival pelo Tiago Delácio e eu faço a produção. Nesse ano vamos realizar a quinta edição do projeto. Além disso, eu costumo dizer que o mais legal que o MUCA vem propiciando é a gente hoje poder trabalhar com o que eu chamo de ecossistema do cinema de animação aqui no estado. Nós trabalhamos com formação, através das oficinas do OCA, o Cinema de Animação do Mestre Lula Gonzaga, a gente trabalha com difusão através do nosso festival de animação, chamado de Animacine, trabalhamos com a preservação e memória, através do MUCA, onde a gente salvaguarda a memória de Lula e de outros animadores. E também, trabalhamos com realização, desenvolvendo não só os filmes das oficinas, mas as séries que vamos desenvolvendo ao longo dos anos. (CD): Rafael, a Spia quer perguntar se você tem algum conselho para dar para jovens estudantes e animadores ainda emergentes. (RB): Eu acho que o primeiro conselho é persistam. Trabalhar com animação não é fácil, apesar de ser hoje um mercado muito emergente, porque a animação atua em diversos espaços do audiovisual. Se você entrar hoje na TV aberta, uma propaganda daquelas, por exemplo, de loja de móveis tem animação, saldão, liquidação, e aí vem aquelas animações apresentando o produto, seja na internet, em sites de notícias ou em sites de vendas. Além disso, hoje existe um mercado muito grande de animação, principalmente de marketing digital, e também hoje no universo das redes sociais. Então a animação permeia tudo isso e é um dos mercados que mais cresce para além do cinema autoral e do cinema artístico, é o mundo dos games, que de fato os jogos digitais em geral, cerca de 30% a 40% da equipe também são formados por animadores. Então é possível entender a dinâmica desse universo para poder entender esse leque de mercado. A gente sempre trabalhou com a questão voltada para o cinema, que é o nosso foco de atuação, então para quem quer trabalhar especificamente com o cinema de animação, eu acho que a primeira coisa é persistir, porque não é fácil. Nós produzimos um filme de 8 minutos, que demoramos 3 anos e meio para produzir. Ou seja, é preciso muita resiliência, muita dedicação, uma galera com uma sinergia muito boa, muito envolvida no projeto para que ele possa concluir o seu ciclo. Hoje, mesmo na universidade, você fazendo filmes mais estudantis ou que não sejam para o universo comercial, existe uma gama de festivais que aceitam filmes nessa categoria, filmes de iniciantes, filmes estudantis. Inclusive, existem festivais específicos para isso, tem a Mostra Estudantil aqui de Pernambuco também, que é um espaço bem bacana para que você possa apresentar o seu primeiro trabalho. O Brasil tem sido uma grande vitrine não só de profissionais, inclusive, eu vi um paper esses dias de que devido, infelizmente, à pandemia, mas ao trabalho de home office, hoje muitos profissionais brasileiros pela sua qualidade, pelo seu traço, pela dinâmica do trabalhador, do animador brasileiro, digamos assim, pela perspectiva do trabalho home office, muitos animadores desenvolvem diversos trabalhos para fora do país, principalmente para o mercado do Canadá e para o mercado asiático. Então, assim, depende de onde você se posiciona, se você vai ser um animador, se você vai ser um roteirista ou um produtor. Eu penso que a gente não deve cair nesse desestímulo que muitas vezes é jogado para nós, tendo em vista que, quando vamos pesquisar e analisar o mercado, existe uma potencialidade enorme, então acho que é muito mais de como que a gente pensa a nossa inserção no mercado de trabalho. (CD): E nesse aspecto, como você interpreta a importância de um evento cultural como esse? (RB): Eu e Tiago, que foi o curador da exposição, pensamos muito hoje como o cinema e o audiovisual podem ocupar outros espaços, não só as salas de cinema e não só os streamings. Então, ano passado, 2022, foi um ano muito simbólico, nós realizamos uma exposição audiovisual no Rio de Janeiro sobre o Bicentenário da Independência do Brasil. Já no FIG, que é o Festival de Inverno de Garanhuns, a gente realizou projeções e vídeo mappings sobre a Semana de 22, que no ano passado foi o 100 anos da Semana de Arte Moderna, porém, focamos nos modernistas pernambucanos, que muitas vezes, quando se fala dos modernistas do país, só focam na turma do Expo Rio São Paulo. Foi muito bacana poder desenvolver esses dois projetos. E foi muito legal, porque a gente pegou as obras desses modernistas, animamos elas e projetamos nos prédios públicos de Garanhuns. Já esse lance da exposição era uma coisa que a gente já tinha feito no MUCA, não sobre esse tema, porque o MUCA, que eu inclusive convido todo mundo desde já a ir lá conhecer, a professora Amanda, o professor Buccini, eles sempre levam anualmente estudantes lá para conhecer o museu, então independente disso, é um espaço que está sempre de portas abertas para receber pessoas interessadas na área. Mas lá foi muito legal, porque quando a gente concebeu a expografia do museu, a gente fez uma trilha animada, que é um pouco do que vocês podem ver aqui, que são esses brinquedos óticos, os objetos, para conhecer a história do pré-cinema. Fizemos um espaço dedicado ao mestre Lula, um espaço de formação, uma videoteca com livros e filmes que a gente em breve deve estar consolidando o nosso sistema para empréstimo, para pesquisa e tal, fizemos também um espaço para exposição. Por quê? Porque a animação permite que você também tenha produtos físicos, seja 2D, 3D, que aí você pode imprimir aquele objeto, seja stop motion, recorte, ou outras técnicas que permitem que você tenha um objeto ali para poder apresentar. Então quando inauguramos MUCA em 2017, lançamos a nossa primeira exposição, que foi a exposição de um filme que nós fizemos abordando a comemoração dos 20 anos da banda Devotos, que é uma banda de punk rock daqui, inclusive aqui de Casa Amarela, e que na época, também em 2017, eles estavam completando 20 anos de trajetória, a gente fez uma experiência muito interessante, onde a gente juntou 100 animadores do Brasil todo para poder fazer esse trabalho. E aí eu fiquei muito nessa ideia de que a gente deveria fazer uma exposição e trazer esse universo para o público, já que o primeiro filme de animação foi em 1972, então em 2022 a gente estava completando 50 anos de animação em Pernambuco. (CD): E por último, que recomendações você tem, tanto de conteúdo, como de artistas, para dar aos animadores iniciantes na área. (RB): Ah, enfim, tem muitos livros legais, né? Tem um livro, inclusive, daqui do nosso professor, parceiro e amigo Marcos Buccini, que conta a história do cinema de animação de Pernambuco. Tem um livro do professor Antônio Moreno chamado "Experiência Brasileira no Cinema de Animação" . Antônio Moreno foi muito amigo nosso, parceiro, e amigo de Lula, que inclusive, foi para Zagreb com ele nessa época, né? A Embrafilme enviou três animadores do Brasil para poderem estudar fora, e o livro dele também é sobre animação. Tem um livro do professor lá da Unicamp, Wilson Lazaretti, que também é um livro muito legal, que trata sobre essa história da animação, como funciona a história do pré-cinema, o livro se chama "Manual do Pequeno Animador", da editora Komedi. Tem uma pessoa que eu recomendo muito, que hoje ele é professor lá em Minas, a gente já teve a oportunidade de lançar o livro dele aqui em 2015, no segundo Animacine que é o Sávio Leite, ele é professor lá da UNA, mas que hoje ele é um dos principais expoentes nosso da animação do ponto de vista de literatura, porque ele já lançou, se eu não me engano, cerca de 3 a 4 livros do universo da animação, livros inclusive de artistas, de pesquisadores americanos, onde ele a faz tradução. Mas esse livro é muito legal dele, chamado “A Maldita História da Animação Brasileira", onde ele faz entrevistas com os principais animadores do Brasil. Tem um livro que foi lançado recentemente pela editora Martins, se eu não me engano, que é também de um grande produtor e um grande animador brasileiro, o Otto Guerra, onde ele lançou sua autobiografia e é um livro muito legal. O livro "Nem Doeu (Autopornografia)", da editora MMARTE, conta toda a trajetória dele, que é muito engraçada, e ele tem trabalhos muito interessantes, que é possível comprar pela internet. Inclusive, a gente também trouxe ele para o Animacine, no último Animacine ele foi um dos nossos homenageados. SERVIÇO EXPOSIÇÃO ANIMAÇÃO PERNAMBUCANA - 5 DÉCADAS DE HISTÓRIA Onde: Galeria de Artes SESC Casa Amarela Av. Norte Miguel Arraes de Alencar, 4490 Horário: 09h às 19h de segunda à sexta

  • Cantautores e produção colaborativa na mostra Reverbo (PE): agregando para reverberar

    Divulgação cientifica por Amilcar Almeida Bezerra, Amanda Mansur Nogueira, Vinícius Barros de Oliveira. O coletivo de Cantautores “Reverbo” nasceu em 2016, em casas, terraços e apartamentos no Recife com músicos criando junto e separadamente. No estudo desenvolvido por Amilcar Almeida, Amanda Mansur e Vinícius Barros, o conceito de “cantautor” está na base de uma cena musical que propõe novas formas de circulação sustentável para a canção autoral, centradas na produção colaborativa, na performance individual e em mostras coletivas. Resumo do artigo O termo “cantautor” vem sendo utilizado na mídia pernambucana para designar um tipo de artista independente que compõe e performa a canção para um nicho do público local em bares, cafés e teatros. Neste estudo desenvolvido com o coletivo de Cantautores “Reverbo”, sugerimos que este conceito de “cantautor” está na base de uma cena musical que propõe novas formas de circulação sustentável para a canção autoral, centradas na produção colaborativa, na performance individual e em mostras coletivas. Publicado na Revista Terceira Margem, idealizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o artigo pode ser acessado no link abaixo: Cantautores e produção colaborativa na mostra Reverbo (PE): agregando para reverberar

  • “Eu abro neste filme um espaço para que eu possa falar de amor, para que eu também possa me colocar"

    Entrevista e perfil por Sammy. Amor, tempo e memória. Esta é a essência da história do documentário longa-metragem “Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem" da diretora, roteirista e montadora, Natara Ney. A pernambucana, formada em jornalismo pela Unicap - PE, cursou Teoria da Montagem na Universidade de Brasília. Em 1993, mudou-se para o Rio de Janeiro onde vive até hoje e trabalha como montadora. Como editora, Natara é reconhecida pelos trabalhos em “Tainá 3” e “Desenrola”, de Rosane Svartman; “O Mistério do Samba”, de Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor; “Todas as Mulheres do Mundo” e “Separações”, de Domingos de Oliveira; como também nas séries de televisão “Ó Paí, Ó”, de Monique Gardenberg e “Novas Famílias”, de João Jardim, e no documentário “Divinas Divas”, sobre a primeira geração de artistas travestis brasileiras, dirigido pela atriz Leandra Leal. A cineasta negra também dirigiu o curta “Um Outro Ensaio”, sendo este premiado em festivais de Gramado, Rio e Triunfo, o documentário “Cafi”, premiado no Brazilian Film Festival em Los Angeles e o documentário longa-metragem “Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem". Na 7ª edição do festival VerOuvindo, no Campus Acadêmico do Agreste da Universidade Federal de Pernambuco, localizado em Caruaru, foi realizada a sessão especial do documentário “Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem" com audiodescrição, contando com a presença da diretora para uma rodada de bate-papo. O documentário conta a história sobre um lote com 110 cartas de amor que foi encontrado em uma Feira de Antiguidades, todas escritas por uma moradora de Campo Grande/MS para o seu noivo no Rio de Janeiro. Durante 2 anos, 1952/53, ela relata sobre a paixão e a distância. A partir desta descoberta, uma investigação se inicia para localizarmos este casal apaixonado e descobrirmos o desfecho do romance. Após a reprodução do longa e de tirar um pouco de lágrimas e relatos reais das vivências do público, Natara conversou com a Revista Spia sobre a concepção e a produção do documentário. Além da sua experiência como diretora, roteirista e montadora. Sammy (S): Sua vasta experiência e seu trabalho como roteirista e montadora são amplamente conhecidos, mas como foi o processo de filmagem do longa-metragem, agora no papel e diretora? Natara Ney (NN): Depois desse e até durante esse projeto, eu dirigi outros projetos pequenos. A minha formação como montadora me ajuda muito, porque quando eu vou para o set eu tento ter o máximo possível previsão, eu decupo todas as cenas antes de filmar, por exemplo, nesse projeto aqui, eu fui na feira de antiguidades várias vezes, porque ela foi muito filmada. É uma feira muito conhecida no Rio de Janeiro e eu não queria fazer só uns planos da feira, eu queria que cada plano tivesse um sentido. Então ia muito como o Felipe lá, ficamos passeando, olhando as barracas, até que descobrimos que a melhor forma de filmar seria como se alguém tivesse procurando coisas e ao invés de filmar-la era de frente. Filmamos através de espelhos, através de buracos, para gente dar uma visão de dentro da feira pra fora, a gente tentava ser o olhar de quem estava ali dentro. Então a minha formação de montadora faz com que eu vá para o set como tudo muito decupado, anotado, pensado. Claro que no set de filmagem vamos nos deparar com inúmeras variações, mas eu tento fazer o mais decupado possível, mais desenhado possível, para que se ocorrer alguma variação, eu tenha pelo menos alguma base para onde caminhar. Eu não gosto de ir para o set, achando que vou chegar lá e vou ser a “criativa”, não sou a criativa, a minha criação acontece antes. Até porque o set já vai ter isso, nos preparamos para uma dia de sol e acaba chovendo, nos preparamos para um dia de chuva e faz sol, então se você não tiver tudo muito pensado como quer, você nem acha uma solução de como conduzir as cenas, porque eu também não quero chegar lá com 300 horas de material filmado que você termina nem usando. A minha experiência como montadora faz com que eu pense muito antes de filmar, é isso que me ajuda muito, pensar no que eu quero, quem vou entrevistar, o que eu quero daquela pessoa, porque já está tudo mais ou menos previsto, eu preciso saber o que tirar daquela pessoa, para que tudo que venha, venha como lucro. S - Você é formada em jornalismo pela Unicap de Pernambuco, poderíamos dizer, então, que a busca pelo paradeiro do casal pode se assemelhar como uma investigação jornalística? NN - O jornalismo foi quem me deu esse sul pra eu pensar “Isso é uma matéria, eu encontrei as cartas e preciso saber o que aconteceu com eles”. O jornalismo foi uma base, mas era sobre amor, sobre memória, então a jornalista foi se diluindo na pessoa que está narrando aquela história, o tema não me permite uma concisão, sabe. E a cada coisa que eu descobria, eu chegava a conclusão que não tinha como ser cartesiana nesse processo, porque você imagina: você vai pra uma cidade, que era quase o oposto do lugar onde você nasceu, que foi o que aconteceu como o personagem Osvaldo, ele nasceu no Ceará e foi embora para o Rio de Janeiro, do Rio ele foi enviado para o Mato Grosso do Sul e ele se hospeda em um hotel que fica em frente a casa da mulher por quem ele se apaixonou, casou e viveu por 60 anos, o jornalismo não cabia essa narrativa, eu poderia ter seguido esse caminho da narração jornalística e ter contado a história de maneira mais didática, mas para mim esse formato não cabia. O jornalismo também foi o sul na hora de montar a equipe, porque eu sabia que ia precisar de uma certa agilidade, então já conversei com o fotógrafo, com a produtora, com o assistente de câmera e com o técnico de som e a nossa equipe era isso, cabia todos em um carro. O jornalismo me deu a base para saber conduzir o projeto com o mínimo de pessoas possível. Mas a partir do momento que eu me deparo com a emoção, a partir do momento que cada pessoa que tocava nas cartas e abria sua própria vida para mim, o jornalismo foi se diluindo e foi virando uma coisa mais poética. S - Estamos vivendo um momento onde as relações e relacionamentos vêm e vão de maneira muito rápida, “Espero que esta te encontre e que estejas bem” pode ser um respiro de alívio, um lembrete para desacelerar? NN- Eu acho que é um lembrete para sermos mais honestos nas nossas relações e pararmos de impor tantas regras, nós colocamos muitas regras nas relações. Eu tenho estudado muito sobre afeto para uma nova série que estou fazendo, que é sobre amor preto e o que acontece, a gente, todos nós, fomos educados para entender que o amor é de uma certa forma e que alguns corpos são possíveis de ser amados e outros não, e que o amor certo é aquele que as pessoas se casam, moram juntos e tem tantos filhos, quase como uma fórmula e não é assim, somos diferentes e cada um de nós vai sentir e demonstrar o amor de uma forma, então acho que o filme mostra que é possível amar e demonstrar várias forma de amor. Nos faz pensar também, o que queremos quando estamos nos relacionando. Eu quero me sentir bem, eu quero me sentir acolhida e respeitada, eu quero me sentir livre, eu quero me sentir pertencendo a aquela relação, eu não quero ter medo do meu companheiro, eu não quero ter que fazer coisas só para agradar meu companheiro ou minha companheira. O filme nos provoca a pensar em afeto e em como queremos nossas relações e não apenas a fórmula que nos é dita como certa. Eu fiz esse filme para falar de amor, porque eu cresci não me vendo nos filmes, séries ou novelas sendo amada. Meu corpo, meu cabelo crespo, minha bunda grande, meu peito grade, claro, eu falo isso na minha vivência, eu tenho 55 anos, agora podemos ver outros símbolos, outras mulheres, você vê a Preta Rara, você vê a Jojo Toddynho, MC Carol, você vê mulheres com outras corporalidades falando de amor, tesão e afeto. Eu não vi isso na minha formação. Então eu abro neste filme um espaço para que eu possa falar de amor, para que eu possa me colocar e dizer que é possível e que o amor existe para todos os corpos. Eu acho que essa é a grande reflexão que temos que fazer. S - A produção cinematográfica nacional tem atravessado momentos delicados nos últimos anos, praticamente um desmonte. Dessa forma, como você enxerga o futuro do cinema? NN - Como eu enxergo o futuro do cinema [...] precisamos respeitar as políticas públicas, principalmente as políticas públicas de inclusão, os editais precisam ser inclusivos, a gente tem que lutar por isso. Precisamos lutar para que exista cinema em Caruaru, para que tenha cinema em Triunfo, para que tenha cinema em Belo Jardim, para que tenha cinema em Arcoverde. Temos que lutar para que as cópias circulem, temos que lutar para a formação de profissionais negros e negras no Brasil e temos que fazer com que essas coisas sejam políticas públicas inclusivas, então eu enxergo o futuro do cinema ainda com muito trabalho a ser feito.

  • O vestido de espumas de Paloma

    Crítica cinematográfica por Leandro Ferreira Em seu mais recente longa-metragem, intitulado Paloma, o diretor Marcelo Gomes configura, a partir dos intentos dos corpos marginalizados, um documentário em forma de ficção. Inspirado em uma história real, somos introduzidos a um curto recorte da trajetória da protagonista Paloma. No cenário do pequeno município de Saloá, com população de apenas 15 mil habitantes, somos apresentados a uma personagem distinta, munida do sonho de formalizar a união de seus laços afetivos na igreja, com uma cerimônia de casamento. A protagonista, homônima à obra do diretor Marcelo Gomes, nos mostra a vontade de potência proveniente de uma mulher trans em busca de sua utopia. Atravessada pela fé e pelo desejo, a vida e o cotidiano de Paloma são perpassados pelo matrimônio: o trabalho rural no Sítio Fernando é intercalado pelos penteados que, realizados por ela, enfeitam a cabeça de suas amigas e ensaiam as possibilidades para o seu grande dia, enquanto em casa, mesmo as brincadeiras de boneca com sua filha atuam em simulacro das expectativas para esse evento. Perpetuado pela ludicidade das ações, o retorno à infância remonta a trajetória que se desdobra sob o olhar dos espectadores, envoltos no ideal onírico do ímpeto e da crença, manifestada entre as conversas que tangenciam preces, romarias, procissões e promessas e capazes de proporcionar a esperança necessária para continuar a enfrentar as labutas diárias. O relacionamento com o parceiro, Zé, passa a ser demarcado por conflitos que se acentuam através de posturas antagônicas, o afeto privado destinado ao casal torna-se cada vez mais claustrofóbico devido aos olhares de julgamento que enclausuram não somente os espaços aos quais estão passíveis de ocupar, mas as experiências às quais estão destinados. As divergências entre os interesses do casal e o consequente desgaste oriundo dos atritos entre o querer de Paloma e o não querer de Zé, cerceados pelo ambiente de hostilidade velada da cidade e suas localidades de lazer, aproximam o casal de uma lacuna cujo espaço passa a ser preenchido por uma outra paixão. O breve envolvimento de Paloma com o motorista do transporte que a leva até o trabalho, Ivanildo, marca uma cisão que só pode ser recobrada pelo intento maior de adentrar a igreja de véu e grinalda, cumprindo os trâmites que antecedem seu final feliz. Visando o distanciamento dos cenários de violência que por muitas vezes estão relegados às existências que transpassam o viés da cisgeneridade, seja na ficção ou na realidade, a trama se esforça nas tentativas de não ser resumida aos sofrimentos enfrentados pela protagonista, entretanto, não os ignora. Em momentos de sutileza, é possível notar os espaços de acolhimento nos quais Paloma pode tecer uma rede de apoio, que, mesmo tidos nas condições de marginais, ressignificam as perspectivas norteadoras de sua história: é nesse sentido que o bordel lhe promove o acolhimento e solidariedade em seus momentos de necessidade. Em contraponto à luxúria que fetichiza a existência desse espaço, tal qual a de Paloma, são tecidos enlaces entre suas condições. Por intermédio deste e de outros espaços, é realizado um movimento de incursão por uma sociofamiliaridade que não adentra os laços sanguíneos, mas que está determinado através da luta contra as condições de precariedade experienciadas por estes corpos desde a epigênese de suas transgressões. Constitui-se assim uma categoria outra de família, na qual “primas” compartilham uma condição social propulsora do estreitamento entre suas similaridades e contradições. Mesmo em consonância aos intentos estabelecidos pelas estruturas que mantém espaços heteronormativos, como a igreja, e cumprindo as normas sociais determinantes para esse espaço, assim como os ritos estipulados por suas diretrizes para a realização de um casamento, Paloma é excluída da possibilidade de adentrar tal evento por sua identidade de gênero. Imparável mesmo diante da sucessão de eventos infortúnios que a circundam, Paloma consegue arquitetar a sua cerimônia em conjunto ao padre Luiz Gonzaga, figura pouco convencional às tradições da igreja. Em uma grande festividade realizada em uma escola municipal, e com mais de 300 convidados, Paloma concretiza seu maior ímpeto. Desfilando até o caminho do púlpito trajada com o vestido de noiva mais caro encontrado, de alvura tão branca quanto o sorriso que ostenta no rosto maquiado, o apogeu finalmente encontra nossa heroína. Afora as paredes que dimensionam essa união para outro âmbito, uma equipe de jornalismo registra tudo com um recorte midiático banhado em sensacionalismo, e aproveitando-se da inocência e felicidade que perpassam Paloma, coletam seu relato em entrevista, apenas para espetacularizar sua vivência como um freak show, criando um ambiente hostil para os recém-casados. Coordenada pela recorte midiático, a rebordosa que se instaura no município reverbera na lua de mel do casal, o revertério toma conta dos círculos sociais mais íntimos do marido, Zé, de modo que sua família e amigos passam a tratá-lo como uma figura jocosa, situação ímpar que provoca a separação entre ele e sua noiva, abandonada na lua de mel. Se desfaz o amor na alvura das pancadas das ondas do mar de encontro a areia, da mesma limpidez da cor do vestido utilizado durante a cerimônia que deveria anunciar a conclusão da sua saga, o tão esperado final merecido. A praia, outrora leito nupcial, se torna também palco para a maior desilusão amorosa da protagonista, que retorna a cidade de Saloá e encontra a violência cada vez mais à tona, impossibilitando sua permanência nesse espaço que cerceia sua vida. Em busca de uma nova possibilidade, Paloma se destina a uma nova caminhada, afora os limites de Saloá, onde possa conviver com serenidade. Talvez uma e única mulher trans entre o pequeno quantitativo de habitantes de Saloá, a personagem principal dessa narrativa é denotativa da totalidade de uma população marginalizada, excluída pelas potências bravias da cisheteronormatividade, cujos espectros atuam enquanto fatores limitantes aos corpos considerados dissidentes, que transmutam os padrões impositivos de uma cultura hegemônica opressiva. A trajetória de Paloma é perpassada pelas estruturas dominantes do país que assassina uma pessoa trans a cada 48h e figura há 13 anos no topo dos índices de crimes de ódio contra essa parte da população. Não assegurado nem o direito básico à existência, figura um movimento de resistência, cuja potencialidade reside em Paloma e muites outres que se distanciam da conformidade de gênero compulsória propagada pela sociedade. O resgate à memória travesti traça um gesto de esperança. Reconfigurar as histórias de amor cujas existências estão limitadas às vidas secretivas revela outros afetos, cujas presenças estão fronteiriças à cartografia heteronomativa.

  • Som ao Redor: Sessão comentada

    Por Ana Carolina Silva Duarte No aniversário de 10 anos do filme “Som ao Redor”, o diretor do filme, Kleber Mendonça Filho, realizou uma sessão comentada no Cinema da Fundação. Ao longo do filme, fiz perguntas sobre sobre a produção, montagem e as inspirações por trás das cenas na narrativa. Antes de iniciar as perguntas, Kleber comenta sobre a cena inicial do filme: “Sempre gostei de abrir o filme mostrando um panorama de sons e imagens que definem o filme, e o bairro em que se passa.” Para você, qual a importância em fazer um filme contornando o dia a dia das pessoas, seu cotidiano? R: “Cenas em que nada acontece dão uma musculatura à vida, ao dia a dia. O percurso dos personagens andando e entrando nos prédios é importante, na construção dos personagens” Mais tarde no final do filme, Kleber comenta que às histórias do cotidiano contam a lógica da vida, neste momento ele fala do desaparecimento da personagem Sofia no filme, já que ela não está mais namorando com João, ela não aparece mais. Como foi o processo de montagem do filme, o corte final se diferencia muito do roteiro original? R: “A montagem do filme demorou 1 ano e 3 meses para a gente terminar”. Ele também fala que, por mais estranho que pareça, o corte final ficou bastante parecido com o roteiro. Ao longo da sessão, Kleber expressa admiração em mostrar os aspectos bons do nosso cotidiano. Ele fala como algumas das cenas presentes no longa, ele viu acontecer em sua vida, como a cena em que a irmã da personagem Bia briga com ela por ter comprado uma TV maior que a irmã. Além disso, o arco dos seguranças da rua foi também algo que aconteceu na rua onde Kleber morava. Kleber fala como o filme expressa a hierarquia urbana presente na rua, fazendo uma analogia com a cena em que Seu Francisco recebe Clodoaldo na sala, e não na área de serviço como antes, pois agora ele tem assuntos do seu interesse com Clodoaldo. Na cena em que mostra o pesadelo, o diretor achou interessante que o som fosse somente o dos passos das pessoas entrando na casa, e a progressão do som dessa invasão. No fim, ele comenta como o filme fala bastante sobre a violência em vários aspectos, na narrativa individual de cada personagem, violência de classe, violência racial e de gênero.

  • Agda na Aurora

    FOTOGRAFIAS Teresa Benassi Volátil, mutante, diáfana e tão estrada, poeira, barro e chão ao mesmo tempo. Retratar Agda em fotografias, descrever em palavras uma criatura que encerra em si o singular e o plural, é desafio ingrato. Impossível traduzir o todo, no máximo consegui capturar alguns retalhos do imenso e multifacetado manto com o qual ela nos abraça dentro e fora do palco, nos emociona e toca n´alma. Não poderia ser diferente o show de lançamento do seu primeiro álbum em Recife: um encontro de águas justamente na rua da Aurora, onde o rio Beberibe, antes de abraçar o mar, encontra o rio Capibaribe, vindo lá de longe do planalto da Borborema, de onde vem Agda, sua música, sua poesia, rima, improviso e exuberância. Na beira d´agua, com as luzes e bandeirolas da nossa conhecida Rural, o "Veículo AutoEmotivo" que faz o show onde chega, com seu “Som na Rural", Agda interpretou tudo, todas as músicas do álbum e mais algumas. Cantou para um público festivo a entoar junto com ela grande parte das canções. Trouxe convidados ao palco, circulou entre os músicos e a plateia; recitou, contou estórias, cantou e encantou a todas e todos, mais do que sempre faz em suas cantorias. Uma celebração, deveras. Em Agda, tudo pode ser e pode até nem ser. Tudo vai ao sabor de um vento poético, melódico ou não, que dança, brinca, voa entre sertão, agreste e até litoral. É arte que pulsa e corre que nem cometa que risca o céu. Fotos: Teresa Benassi Teresa Benassi - artista nascida em Pernambuco. Uso da imagem permitido apenas para fins não comerciais e com o devido crédito da autoria. Mais informações: teresabenassi1@gmail.com

  • Agda, uma narrativa fantástica do agreste

    Crítica musical por Mariana Gonçalves Da rua grande, centro de Santa Cruz do Capibaribe, Agda Bezerra Nunes Moura, bisneta, neta, filha, irmã (d)e poetas. Não tinha como escapar. Cantora e rimadora como o avô; o homem gravador do prata, sertão do Pajeú, ela pertence geracionalmente às tradições do repente e memorialismo da poética sertaneja. Agda é movedora artística: ativa na poesia, música, teatro. Desde criança. Cantora, compositora, atriz, desenhista, multi-instrumentista, autodidata, Agda assina todas as canções do autointitulado álbum de estreia. Potente e difusa, a rima de Agda dá o tom das 17 faixas. Em seus 51 minutos de duração, as odes contam a jornada sensorial e imagética da artista pelo território do palpável e do sonhado, visto ou contado, sentido, sofrido e marcado numa narrativa fantástica do agreste que lhe criou. Unindo territórios e aportando a forma das atmosferas poéticas todas as melodias são preciosamente produzidas por Juliano Holanda; mago das cordas, o violonista de Goiana, mata norte pernambucana, é também cantor, compositor, diretor musical do disco e do show Reverbo: movimentação pernambucanamente diversa que abrange uma crescente e cambiante ruma de cantores, compositores, escritores, mestres da lírica vindos de todo o estado e da qual Agda participa e por qual já interpretou composições contidas no álbum. As narrativas são construídas de várias vozes, misturando os tempos e percorrendo cidades, sons, sotaques, silêncios, cacofonia, agonia; calma; divididas em quatro temas, quatro canções cada. Dos parceiros de Reverbo o duo pinça Flaira Ferro (Nem lá Nem Cá), Isabela Moraes (ter sidos) Martins, Almério, Mery Lemos (produtora executiva da Reverbo, assume percussão e empresta voz e riso ao coro feminino de o cigano com Ezter Liu, Joana Terra, Miriam Juvino, Numa Ciro, Paula Tesser e Virgínia Guimarães, esta última, multiartista, cineasta e designer responsável pela identidade visual do projeto). Figuram ainda Lirinha, ator, compositor e cantador de Arcoverde, práxis e palavra potente empresta a voz a bilhete 2. Entre os santacruzenses tarimbados Lara Moura, Olegario Lucena e Fábio Xavier que engrossam o sumo sonoro junto com Isaar, o saudoso Jr. Black, Johann Brehmer e Moringa. Tempo 1 - Apontar 01 - Transversal Envolto em cordas, o vocal cortante é a tônica da faixa que abre o disco. Evocando a beleza misteriosa dos grotões do capibaribe, dos sítios de pomares frondosos, o patrimônio arqueológico e reserva ambiental de onde podem ser vistos ao pé da serra a vila do Pará e o desenho rural numa região onde predominam planícies e as pequenas propriedades. O poço fundo distrito fronteiriço que abriga a barragem do rio que batiza a cidade. A fera solta na feira da rua principal, o centro seco no ‘sol costurando’ uma origem dos áridos motivos do raconto de ser de onde está. 04 - Partida Os violões de agda e Juliano confabulam progressões circulares pra Lara e a passagem entrecortada da terra que leva a arcoverde, sertão e do corte colorido que uma mulher um fruto e um menino pintam no caminho. 05 - Nem lá, Nem cá Mery Lemos dá o nome na percussão energética, ligeira e quente da sinergia Flaira e Agda em verso eufônico num rimado alto astral acerca de ir e saber quando chegar só. Dois reais no bolso e um sonho. 07 - Bilhete a José Declamação de amor no corpo do silêncio, nó fraterno da pura voz de Agda. Resistência do tempo na calma. Na calma da dor: amor, como certeza. Tempo 2 - Dus Doidos “Sinto no corpo do silêncio algo. Uma coisa que queira nos salvar. Eu nem sei nem do quê, nem para quê; mas um dia você me disse que a calma é a maior resistência do tempo. Eu te amo por isso também Nos guardemos na calma da dor. Tenha meu amor como parte da força de ser com a dor escrevendo, com aquele jeito de misturar as coisas e parecer doida misturando tudo o que é bom. poder ser assim com você” 09 - As Lavadeiras Destacando o feminino na confluência de memórias do Capibaribe as sereias-lavadeiras são embaladas nas cordas de Holanda, Olegário, Xavier e na percussão de Johann e Mery. Maria, Tereza, Helena, Inacia; sobrepostas nas vozes de Agda, Jr. Black e Marcello Rangel e no mover do rio à contenda da lida das mulheres dentro do fluxo do mundo. Tempo 3 - Ter Sidos. 11 - O Cigano Camaleão do invisível e artista de estrada a quem nada satisfaz; veste carapuça de 'sonhador cativo da fantasia', impregnado de vicio sorvendo do mundo cada gota de vida. torpe, o vadio se equilibra no ar 'indo e voltando, diluindo e reintegrando', queimando no ultimo suspiro do figurado cambiante cigano o tudo e o nada. Mery Lemos (da Reverbo, assume percussão e empresta voz e riso ao coro feminino de o cigano com Ezter Liu, Joana Terra, Miriam Juvino, Numa Ciro, Paula Tesser e Virgínia Guimarães, esta última, multiartista, cineasta e designer responsável pela identidade visual do projeto). 13 - Bilhete 2 Lirinha e Agda e a poesia onírica e nebulosa do saber que tudo se cabe em si, sem corpo, onde quiser. refazendo o mundo por dentro. Tempo 4 - Poeira 16 - Fora do Eixo Na única composição de Juliano com Agda no álbum a linguagem universal do desamor tem uma intérprete ímpar. À flor da palavra, sentimentos triturados, corpos separados em versos de promessa mantidos na fé e na vontade: esperança em semente viçosa. junto d'o cigano e nem lá nem cá é ponto altíssimo do álbum pela riqueza de imagens e prosa de fino esmero. 17 - A curva da Miroucha De volta ao canto de sombra frondosa com aroma de passado, Agda toma de volta o fio com que costura no bojo da memória retalhos de ser. Realizado com apoio do Funcultura agda é bem resolvido como registro fonográfico e de linguagem, própria e fértil, que não se encerra em si; celebra dinâmicas azeitadas e não deixa arestas a aparar. Mostra razão de ser, maturidade e inventividade de uma artista plena. O show do disco está em circulação e pode ser visto dia 4 de fevereiro em Triunfo dentro do festival donas Marias às 19h na Praça Josias Albuquerque; entrada franca. Cópias físicas de agda estão disponíveis em Recife na Passa Disco: Rua da Hora, 345 Espinheiro e em Santa Cruz do Capibaribe na Farmácia do Trabalhador: Avenida Prefeito Ferraz Filho, 290, Palestina. na DM pro mundo em @agda___ Preço sob consulta

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