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  • “POR TRÁS DA LINHA DE ESCUDOS”: OS LIMITES ESTABELECIDOS ENTRE OS MILITARES E A POPULAÇÃO

    Documentário de Marcelo Pedroso trás reflexão acerca dos antagonismos e tensões entre grupos como obstáculos substanciais no processo de transformação social Texto de Louise Farias e Naely Barbosa Foto de Naely Barbosa O principal objetivo do cinema documental é mostrar um aspecto da realidade, sob determinado enfoque e enquadramento, através do olhar de um realizador. Entretanto, acessar o outro pode ser uma tarefa demasiadamente complexa, e nem sempre chega a ser alcançada da maneira como se espera. Da mesma forma, é possível que o diretor tenha uma expectativa inicial do efeito produzido pelo filme, mas o resultado pode assumir uma lógica diferente da desejada – o filme desenvolve vida própria, sua particularidade como obra artística. Algo dessa ordem aconteceu ao longa-metragem Por trás da linha de escudos (2023), de Marcelo Pedroso, que aborda as questões de segurança pública no Brasil, mostrando as ambiguidades da vida militar e assumindo uma postura crítica em relação aos atos realizados por meio dos batalhões de choque pernambucanos. A construção narrativa do documentário se desenvolve em meio à contraposição de pensamentos dos militares e de Pedroso, que além de diretor do documentário é ativista de esquerda. Trecho do Documentário Por Trás da Linha de Escudos A premissa da obra é trazer o Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco e os manifestantes, especialmente os do Movimento Ocupe Estelita, criado em 2012, em um cenário de enfrentamento mútuo. O filme apresenta os conflitos entre os manifestantes, que defendem a não destruição do Cais José Estelita, marco cultural e histórico de Recife, e o Batalhão de Choque que intercede pela decisão que beneficia o Consórcio Novo Recife, composto por grandes empresas imobiliárias, e que criou o Projeto Novo Recife, uma ação que visa a construção de prédios comerciais e residenciais no local. Autor dos filmes Pacific (2009) e Brasil S/A (2014), Pedroso realizou Por trás da linha de escudos seguindo uma abordagem expositiva e participativa; os planos alternam entre cidadãos ativistas na defesa de seus objetivos e policiais se preparando para o combate armado nas ruas. Pedroso atua não somente como observador, mas como personagem em ambas as realidades, conhecendo e entendendo o funcionamento da dinâmica em cada um dos espaços. Apesar de seu posicionamento político claramente definido, o realizador se dispõe a acompanhar e experienciar a rotina dos policiais com o objetivo de conhecê-los para além do pequeno visor presente em seus escudos. Os primeiros contatos entre os militares e a equipe se dão de forma lenta e gradual, na tentativa de conquistar a confiança dos oficiais e soldados. Entretanto, logo é percebido que existem muros comunicacionais entre soldados e civis e, mesmo ao retirarem o escudo policial, a armadura interna segue intacta e intransponível, pois os policiais parecem não conseguir ultrapassar os limites da missão e dever dos quais foram incumbidos. Trecho do Documentário Por Trás da Linha de Escudos A desumanização do indivíduo e a transformação do homem em um soldado, são um dos principais questionamentos do longa. É possível extrair algo de uma das entrevistas que nos intriga e faz pensar sobre o que a função de um policial exige e o que ele precisa, na maioria dos casos, deixar de lado ao vestir a farda. Ao detalhar seu processo de treinamento para o Batalhão de Choque, a soldado Talita revela que durante essa transição, é preciso que o policial molde a si mesmo para estar em conciliação ao que o BPChoque exige. Isso implica pensar na possibilidade de uma inflexibilidade e rigidez serem características que devem estar ativas nos militares na totalidade do tempo, mesmo fora de combate direto. Na tentativa de compreender como a rigidez militar se desenvolve, Pedroso e sua equipe passam a participar dos treinamentos e das operações junto aos soldados; durante as práticas, os policiais expõem a si mesmos à asfixia e até ao vômito, provocados por inalação de gás lacrimogêneo. Pois, durante uma ação de combate, o policial ataca com o gás não só o “inimigo”, mas também a si, uma punição mútua. Nesse sentido, o longa acaba por realizar uma crítica ao sistema de formação dos militares e à lógica de separação do exército que acaba desumanizando o homem para que ele não se reconheça em seu oponente, tornando o brasileiro inimigo dele mesmo. A doutrinação militar utilizada para separar os indivíduos é dura e fere não apenas fora das tropas e bases militares, mas também dentro dela. Ao sentir na pele cada treinamento, Pedroso reflete e considera que, ao ser submetido a um treinamento de longo prazo, talvez até ele fosse transformado em soldado. Muito mais do que evidenciar a rigidez no processo de transição do indivíduo em um soldado, Por trás da linha de escudos resgata o pensamento de emergência para a possibilidade do diálogo entre grupos antagônicos, com cenas e falas que instigam o debate público. O diálogo é a grande arte e riqueza social, construído continuamente entre indivíduos através do exercício de ouvir e compreender o lugar do outro, para caminhar coletivamente em direção à urgente transformação social.

  • A Musicalidade Revolucionária em Pernambuco com Gabi da Pele Preta

    A musicalidade revolucionária em Pernambuco com Gabi da Pele Preta Por Madu Rodrigues Foto de Gabi da Pele Preta (Crédito: Rafaela Amorim) Quem é Gabi? Nascida em 1 de novembro de 1985, Gabriella Ariadne Silva de Freitas, também conhecida como Gabi da Pele Preta, é uma atriz e cantora de grande incursão em Pernambuco e no Brasil, trazendo através de suas músicas, que mesclam raízes do samba, jazz e MPB, a sua essência de vida como mulher preta, ativista e interiorana. História Filha de membros da primeira Igreja Batista de sua cidade natal, Gabi da Pele Preta nasceu em 1985, no município de Caruaru, Agreste de Pernambuco, e teve uma formação protestante de grande importância para a sua bagagem musical. Formados em História e Filosofia, seus pais faziam parte do Coral Madrigal Batista e vivenciavam o evangelho de maneira muito ativa dentro do seio familiar. Durante a sua infância e adolescência, Gabi cantava músicas da igreja e MPB e com o  incentivo do pai, percebeu a música como uma ferramenta de ensino para mostrar uma construção narrativa da história do país. A exemplo de: Chico Buarque, Gilberto Gil, Vinícius de Moraes, Zé Ramalho e tantos outros intérpretes musicais aos quais a artista se inspirou. De acordo com a cantora, desde o início, teve  a certeza de que, se um dia se tornasse uma artista, gostaria de ter uma comunicação cidadã, de identificação e com uma função social a partir de suas obras. Compromissos esses que eram vistos através dos cantores apresentados pelos seus pais. Em 1997, quando tinha 12 anos, o seu pai faleceu e durante muito tempo teve que trabalhar, assim como os seus irmãos, para ajudar a sua mãe. Gabi já foi operadora de caixa, palhacinha de trânsito e garçonete de bufê, sendo constantemente questionada pelas pessoas sobre o seu talento e por não estar cantando, ao qual ela sempre explicava que, devido a sua condição social, não poderia. Ainda assim, Gabi frisa que: “sempre agarrou as oportunidades que lhe eram apresentadas no momento”. Anos depois, foi aprovada em Comunicação Social e com 18/19 anos, viu um meio de se inserir artisticamente em Caruaru. Através do teatro, entendeu que essa incorporação seria possível, pois poderia pertencer a um grupo e ser uma atriz que cantava. Nesse mesmo período, fez um teste para uma peça de teatro e conseguiu um papel em “Amor em Tempo de Servidão”, criando com esse grupo teatral o alicerce para trabalhar com arte. Mais para frente, integrou o grupo “Samba de Tamanca”, descobrindo um caminho para trabalhar com samba, o que marcou o início de sua trajetória como cantora. Foto de Gabi da Pele Preta (Crédito: Rafaela Amorim) Carreira Trabalhando com música há 18 anos, Gabi da Pele Preta começou a sua trajetória em 2006, quando entrou pela primeira vez em um bar para cantar. De início, percebeu o samba como um grande alicerce, passando a ser reconhecida como sambista, embora cantasse de tudo um pouco. Anos depois, começou a se interessar por outros ritmos e conheceu Thera Blue, um cantor de sua cidade, que produziu o seu primeiro show a convite da Secretaria da Mulher de Caruaru. Durante sete anos, foi acompanhada em seus shows pelo músico Felipe Magoo, atualmente conhecido como Felipe Gonçalves, e por três anos pelo violinista Fernando Bezerra. Posteriormente, teve um problema na voz e precisou deixar os palcos por um tempo. Com a sua retomada vocal três meses depois, conheceu o garanhuense Alexandre Revoredo, que lhe ajudou a voltar do zero em um período em que os bares do país foram preenchidos pela música sertaneja e cantar o seu antigo repertório, composto por Chico César, Marisa Monte, Elis Regina, Maria Bethânia e músicas de seus amigos e outros artistas, não fazia mais sentido nesse cenário. Nesse mesmo momento, conheceu Nina Oliveira e a Marcha Mundial das Mulheres e acabou percebendo que aquela comunicação de cunho social é o que faria sentido de ser levado para o palco, seguindo o objetivo central de conversar sobre assuntos como as questões feministas, negritude e Direitos Humanos, com um repertório militante e de modo autoral. Em 2016, Gabi da Pele Preta teve o seu projeto musical aprovado pelo Edital Molotov, onde, com a ajuda de Alexandre Revoredo, com quem já tinha feito algumas parcerias, produziu um show acompanhada pela banda do garanhuense em Belo Jardim - PE, se consolidando ainda mais no meio artístico até os dias atuais. Músicas e Participações Em seu primeiro trabalho, a cantora enalteceu a alegria e a liberdade por meio do single politizado “Revolução” (2021), composto pelo músico Juliano Holanda, sendo, também, o seu primeiro trabalho em estúdio. Já em 2022, lançou o seu EP composto por quatro músicas de caráter social, produzido pelo músico, compositor e poeta Alexandre Revoredo. “Canção para curar a voz”, “Palavra Feminina”, “Virá” e “Gente” são as canções compostas por Ezter Liu, Joana Terra, Izabela Moraes e Uma Luiza Pessoa. Conheça algumas participações de Gabi da Pele Preta: Foto de Gabi da Pele Preta e Alexandre Revoredo (Crédito: Fernando Pereira) Single “Disque Denúncia” (2016) no Elefante Sessions. Single “Conectadas pela música: para espantar a dor” (2019) (feat). Single “Recados” (2020) de Thera Blue (feat). Álbum “Revoredo” (2020) - Música: “Andor”. Single “Xô te vê” (2020) de Agda (feat). Single “Vídeo chamada” (2021) de  Renata Torres (feat). Álbum “Coração no Meio” (2021) - Música: “Recife, Capital Federal do Carnaval Brasileiro”. Albúm “Isolados”(2022) - Música: “Liberdade” de Sam Silva (feat). Trilha sonora de “Cangaço Novo” (2023) - Música: “A terceira lâmina” de Forró no Mundo (feat). Baile do Menino Deus (2023) - Música: “Ciganinha” de Baile do Menino Deus. Assista a entrevista completa!

  • Alexandre Revoredo: Um Artista Multifacetado

    Entenda a trajetória que conferiu a Revoredo uma importância fundamental para a cultura interiorana de Pernambuco. Reportagem por Letícia Cavalcante Foto de Revoredo (Breno César) Alexandre Revoredo, uma figura que ultrapassa os limites artísticos, é conhecido como músico, compositor e poeta. Nascido em Garanhuns, sua jornada criativa veio de berço por sua família profundamente musical. Aos sete anos, venceu um concurso de música promovido pelo projeto cultural Mobralteca, e desde então, a música tem sido uma constante em sua vida. Como autor, Alexandre Revoredo encantou o público infantil com suas obras "DiAnimal" (2018, CEPE) e "O Casaco Oco de Isaac" (2022, Vacatussa), nas quais ele entrelaça narrativas com poesia e sensibilidade. Além dos livros, ele compartilha suas poesias no perfil do Instagram @1diadepoesia, no qual seus versos são expressados para além das páginas. Sua contribuição para o cenário artístico vai além da escrita. Revoredo é uma peça fundamental no Coletivo Tear, grupo de artistas de várias linguagens que engajam a cultura da região. Desde sua criação em 2011, o Coletivo Tear possibilitou a criação da Aldeia Tear, um espaço cultural que tem o artista como um dos gestores. Além disso, Revoredo também movimenta o cenário cultural do Agreste Pernambucano com a Mostra Mundaú de Canções, o Studio Tear, o TeArte - Viva o Coletivo e O Livro em Cena. Seu comprometimento com a promoção da cultura se mostra presente ainda na direção musical de espetáculos infantis como "Luanda Ruanda - Histórias Africanas", "Ayô - Histórias de Griô" e "Histórias da Caixola", o que traz à tona narrativas que encantam e educam. Em março de 2020, o artista deu um passo marcante em sua carreira ao lançar seu primeiro álbum, intitulado "Revoredo", disponível nas plataformas digitais. Produzido por Juliano Holanda, o disco apresenta 11 faixas autorais e inéditas, sendo viabilizado através do incentivo do primeiro edital de Música do Funcultura do Agreste Meridional. O sucesso foi tamanho que lhe rendeu os prêmios de ‘Melhor Cantor Popular’ e ‘Melhor Show/DVD’ no Prêmio da Música de Pernambuco em 2022. É notável que suas obras são atravessadas pelas influências da cultura pernambucana e carregadas da tradição popular, com rimas e versos metrificados. Com mais de 15 anos de experiência, o multiartista compartilha sua jornada com a Revista Spia, revelando os desafios de produzir música no interior pernambucano e contando como suas canções podem surgir de forma inusitada. Para espiar a entrevista completa, confira o vídeo produzido para o canal de YouTube da Revista Spia.

  • "Janela Poética" Movimenta Cena Literária De Caruaru no Instagram

    O projeto foi criado por um estudante universitário e compartilha poemas e poesias autorais na internet. Reportagem por Ramona Ferreira e Newton Barros Foto de Gael O “Janela Poética” é um perfil literário digital que visa compartilhar poemas e  poesias autorais em formato de Reels no Instagram. Idealizado pelo estudante do curso de Comunicação Social do Centro Acadêmico do Agreste, Gael Vila Nova, o projeto teve início em setembro de 2023. O objeitvo principal é movimentar a cena poética e literária de Caruaru através das redes sociais digitais, além de dar visibilidade aos poetas locais. De acordo com o coordenador do projeto, o nome “Janela Poética” foi inspirado em um movimento antecessor, ocorrido durante a Pandemia de  covid-19, intitulado: “Fazendo do Insta uma janela poética”, onde Gael utilizava a rede social para recitar seus próprios poemas. A referência ao verso de Mário Quintana, “Quem faz um poema abre uma janela”, reflete a proposta de tornar o Instagram um meio de divulgação da poesia. O projeto, que é mantido por uma Bolsa de Incentivo à Criação Cultural (BICC), através da UFPE,  visa criar uma movimentação literária e estabelecer um público consumidor de poesia autoral, além de contribuir para o enriquecimento da cena literária local nas redes sociais e conta com o apoio de oito poetas colaboradores. São eles: Ser Imenso, Mano Monteiro, Urbano Leafa, Bernardo Reyes, Estefane Sá, Tainá Lima, Rosberg Adonay, além do próprio idealizador desse movimento. Gael Vila Nova decidiu que cada poeta escolhido teria a oportunidade de recitar e divulgar três poemas autorais até o encerramento do projeto, que acontece em março deste ano. A seleção dos colaboradores foi feita com o intuito de diversificar o conteúdo compartilhado e considerou gênero, estilo de poesia e a presença ou ausência de livros publicados pelos colaboradores. Questionado sobre o futuro do “Janela Poética”, após o encerramento da vigência da BICC, Vila Nova responde que deseja consolidar o projeto como um veículo de divulgação e fomento à poesia contemporânea de Caruaru e também considera a possibilidade de submeter o projeto a editais futuros. Acompanhe no nosso Instagram: https://www.instagram.com/reel/C485hXNi7H6/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA=

  • O Fantasma Capturado pela Câmera

    Crítica cinematográfica por Joebson José Trecho do Filme Retratos Fantasmas “Vou fechar o cinema com a chave de lágrimas”. Nas transformações do esquecido centro do Recife, o diretor e crítico de cinema, Kleber Mendonça Filho, nos conta sobre os fantasmas que habitam por lá. Retratos Fantasmas (2023) teve estreia especial no Festival de Cannes e conta a história do cinemas de rua que um dia foram cultuados, mas que hoje tornaram-se farmácias ou igrejas, ruínas de templos sagrados para a cinefilia que perderam o seu espaço para as modificações do capitalismo. O diretor pernambucano passeia por esses lugares, presenciando as transformações na arquitetura urbana, além de dedicar atenção ao grande valor de arquivos e documentos pessoais e públicos. Dividido em três partes, o documentário sai do micro, a relação de Mendonça com a mãe e a sua casa de infância (também cenário para alguns de seus filmes na década de 90) para o macro, as grandes salas de cinema do Recife, suas construções, auges, quedas e destruições. Trecho do Filme Retratos Fantasmas A obra de amor ao cinema do diretor é ainda mais poderosa para quem conhece e acompanha a sua filmografia, especialmente pela relação deste recente trabalho com alguns elementos passados, simbolismos complexos e personagens marcantes, como a participação do cachorro Nico em “O Som Ao Redor” (2012) e o problema com cupins, abordado em “Aquarius” (2016). Kleber Mendonça Filho também referencia alguns realizadores pernambucanos, como os ilustres Katia Mesel e Cláudio Assis, com destaque para trechos de suas obras mais conhecidas e aclamadas. Também presta homenagem ao cuidador do Cine Art Palácio, seu Alexandre, com quem o diretor conviveu durante a sua juventude e recebeu vários ensinamentos e conselhos sobre o mundo da sétima arte. Sendo ele também quem cita a marcante frase: “Vou fechar o cinema com a chave de lágrimas” durante o longa. Trecho do Filme Retratos Fantasmas O documentário possui um belo trabalho de cuidados com restauração de imagens, pesquisa, montagem, trilha sonora e som. Tudo para falar não somente de cinemas mortos, mas também da transformação da arquitetura, disputa do público contra o privado e, principalmente, um relato pessoal e íntimo pela visão de quem presenciou o seu espaço mudar durante várias décadas e não pôde fazer nada. Em uma mistura entre comédia, ficção e realismo, o diretor, em apenas 1h30, traz um projeto poderoso para expor o seu amor pelo cinema, mas também entrega uma investigação que servirá de referência no campo da pesquisa sobre cinemas de rua no futuro. O filme mostra que os fantasmas dos cinemas mortos do centro do Recife perpetuam em arquivos, relatos, fotos e em memórias, seja com um tom de suspense ou de melancolia.

  • Documentário CABOCOLINO encanta público no 31º. Festival de Inverno de Garanhuns – FIG 2023

    No último domingo (23), foi exibido no Cine Jardim do SESC Garanhuns, o documentário CABOCOLINO, o filme, que tem uma trajetória de prêmios e participações em grandes festivais do País, encantou o público presente na mostra audiovisual que faz parte da programação do FIG-2023. Após a sessão de exibição do documentário em sua versão com acessibilidade completa (LSE, Libras e Audiodescrição), a plateia pode interagir em um animado bate-papo com o Diretor do filme, João Marcelo e o protagonista o Sr. João de Cordeira, muitos presentes ficaram emocionados com a narrativa da obra, elogiando também a qualidade técnica do filme. Cabocolino foi um projeto nascido nas salas do curso de Comunicação Social, Campus Agreste, da UFPE, sendo o objeto do TCC do aluno João Marcelo, sob orientação da Profa. Dra. Amanda Mansur, em um dos momentos do bate-papo, o diretor pontuou sobre a importância da universidade pública, da interiorização do ensino superior e as políticas de incentivo público a cultura disponibilizada pelos entes governamentais. O protagonista “João de Cordeira”, indagado sobre as transformações em sua vida após lançamento do filme, disse: “Tudo mudou para melhor, hoje as pessoas me param nas ruas e me elogiam pelo meu trabalho, fiquei ainda mais conhecido, muitos dizem “O senhor agora é um homem famoso! ”, ainda fico emocionado”.

  • Capa do EP: Mozart Oliveira

    Por Maria Clara Mendes. A capa do primeiro EP de Mozart Oliveira segue a premissa do que uma capa de disco é capaz de causar como primeira impressão. Basta olhar a capa por alguns segundos e milhares de curiosidades são atiçadas sobre a obra. Impactante, original, repleta de símbolos, tem muito de Mozart na capa, conversamos com ele para entender os significados desse trabalho. Dono de uma voz inconfundível e de uma presença hipnotizante nos palcos e fora dele, Mozart Oliveira, natural de Gravatá, agreste pernambucano, é uma das revelações da música brasileira. Cantor, compositor, poeta, documentarista, entre outros atributos que não caberiam aqui, mas que explicam um pouco a magnitude de tudo que este artista produz. “Há uma assinatura de quem sou na capa do disco. Não identifico a capa em si como uma espécie de amostra sonora e melódica do disco, mas sim o que coloquei de mim mesmo e de quem sou nas canções”, revela. Fica evidente a presença de Mozart em suas próprias canções, o que transforma a experiência de ouvir o EP emocionante e de fácil identificação com o público. A cada faixa inúmeras sensações nos levam a lugares pessoais em que as nossas memórias e afetos se encaixam com tudo que é cantado e declamado. A criação de uma obra com essa força tem o talento e a criatividade de seu criador como um dos alicerces. A capa do EP surge, assim, em sintonia com esse lugar. “Eu sinto que a capa se relaciona muito com uma dimensão interna, como se ela emergisse justamente desse oceano particular e denso onde guardo muito do que sinto e onde eu mergulho para ativar minha criatividade artística”. Um dos destaques da capa está na figura do próprio Mozart, centralizada, representada em um desenho do artista pernambucano Heitor Silva. O desenho traz um Mozart sem roupas, envolto a uma planta, junto da constelação de Aquário, e com um coração flechado à mostra. Um ouroboros, serpente egípcia cuja representação denota o conceito de renovação, cerca o desenho protegendo praticamente todo o corpo de Mozart, exceto a mão direita. A mão direita tem dois dedos apontados para cima, enquanto a mão esquerda traz dois dedos apontados para baixo, alusão a famosa frase “o que está acima é como o que está abaixo”. Conceitualmente uma referência extraída das obras de Hermes Trismegistus. Olhos aparecem na palma das mãos de Mozart. Ao fundo vemos a representação de uma noite estrelada. O nome Mozart Oliveira aparece na parte superior da capa. Os detalhes da capa corroboram com a força artística que Mozart traz dentro de si e que transforma por completo tudo que compreende sua obra. É também a comprovação de um artista que sabe o que quer e que tem repertório para colocar em prática suas ideias. A parceria com Heitor Silva, portanto, não poderia ser mais apropriada. “Conversamos bastante sobre as cores e quais técnicas de ilustração poderiam ser utilizadas, além de toda a parte de inserção de símbolos. Escolhi Heitor porque notei nele o que eu gostaria como identidade visual desse projeto”. O contato de ambos artistas se deu à distância, através do WhatsApp, em uma valiosa comunicação e troca de referências. Há uma conexão da capa com as canções, então, naturalmente, a conexão também envolve Mozart Oliveira e todos que se identificarem com o repertório do EP. "Com a colaboração da artista Acsah Lírio, conseguimos no show projetar a capa durante a execução das músicas e era muito mágico ver o público se voltando para a projeção, mergulhando no universo sonoro que criamos para cada canção". Um universo singular que parece nos dizer muito além do que está sendo cantado, é um universo para sentir e se deixar levar. Tudo que corresponde a este trabalho chama atenção pela qualidade e pela capacidade de despertar emoções. As músicas, a capa, o artista Mozart Oliveira e toda a equipe por trás da produção do EP, merecem reconhecimento. Estamos presenciando o desabrochar de uma geração talentosa do agreste pernambucano, da qual Mozart é um dos nomes para se guardar com carinho e ouvir com paixão. Um agradecimento a Mozart Oliveira. Para os curiosos: Laboratório 63: https://www.instagram.com/laboratorio.63/ Heitor Silva: https://www.instagram.com/heitorsilva.art/ Mozart Oliveira: https://www.instagram.com/mozartoliv/ Filip Bagewitz: https://www.instagram.com/filipbagewitz/ Acsah Lírio: https://www.instagram.com/artedelirio/

  • Crítica Musical do EP Mozart Oliveira

    Crítica musical por João Rocha. Há um bom tempo na estrada da música pernambucana, com interpretações emocionantes de artistas da música popular brasileira, como Maria Bethânia, Gal Costa e Cazuza, Mozart Oliveira lança seu primeiro EP neste ano, com canções autorais e parcerias, apresentando sambas, bossa nossa e muita poesia romântica, em letras que falam de amores diversos, o artista se desnuda, assim como na capa do álbum, criada pelo ilustrador Heitor Silva, a criação mostra Mozart nu com uma hera atrepada ao seu corpo, cheio de simbolismos e significados, identificamos o ouroboros, a cobra que morde seu próprio rabo, apresenta também a constelação de aquário, o céu estrelado, algumas tatuagens e um coração perfurado por seis flechas; na segunda faixa do disco, Mozart não pestaneja em dizer “romântico, romântico até dizer chega”, esse amor antigo e demodê se mostra presente por todo o disco. Produzido pelo Laboratório 63, com participações de Filip Bagewitz, Matheus Lucena, Guira, Joyce Noelly, Ythalla Maraysa, Izadora França, Rosberg Adonay, Cizou José, Matheus Ferraz, Gael Vila Nova e Valdemar Neto. Mozart provoca o ouvinte a viajar nesse mundo íntimo e cru de melodias ritmadas pela ancestralidade musical de artistas muito jovens. São seis canções, que em 27 minutos e 55 segundos contam um pouco da trajetória deste artista agrestino. 1. Vem Em uma voz aveludada e um coral que arrepia, a primeira canção conta com uma melodia predominantemente de instrumentos de cordas, Mozart chama o amor para mais próximo de si, em vem ele divide os vocais com Filip Bagewitz que também participa da composição da música. O canto dos amigos criam um coral harmônico ao fazerem a segunda voz, proporcionando essa força coletiva que canta e acredita no amor, “juntos seremos uma estrela, pra quem de longe olhar (...) e todas vão cantar.” 2. Esquecimento Esquecimento inicia no movimento do samba, dançante, Mozart metaforiza o mar, o rio, transbordando o sentir, nos embriaga com a sensação de amar que nos faz perder o compasso ainda que o remelexo dos pés continuem, o artista nos provoca com a questão “amar é esquecimento?”. A faixa conta com uma poesia em fala, onde ele expõe sua forma de amar que por ora diz basta e em outro momento corre em ritmo alheio em busca desse amar que está fora de moda. 3. Samba do Amor Com inspirações da bossa nova, o samba de amor pede um gingado mais lento para sambar, e sambar para esquecer ou lembrar da coragem que é preciso para amar, pois o amor dói. Mozart canta a tristeza de derramar a paixão, completude possivelmente realizada pelas vozes de Joyce Noelly, Ythalla Maraysa, Izadora França e Valdemar Neto. 4. Um Bardo Retomando arquétipos seculares como o boêmio e o bardo, Mozart canta em uma melodia latina, espanhola, mas muito pernambucana o amor efêmero que sente o ritmo do coração de olhos fechados, performando a melancolia do sofrimento que é amar. 5. Flamenco Como o próprio título descreve, esta canção, iniciada em língua espanhola, apresenta o flamenco, com toques de instrumentos de sopro, incentivando a dança caliente proporcionada a dois corpos, que se entrelaçam e se degeneram em amor e poesia, como descreve também a letra da música. 6. Samba de Carmen O EP é em sua essência carregado de nostalgias, e muito samba, permitindo o embalo de quem o ouve. Samba de Carmen, a última canção do EP, retoma o coral acalorado e harmônico presente na faixa inicial, dando o último laço e fechando o ciclo desta produção que deixa o sabor de experiências vividas e daquelas que ainda viveremos, pois não há como fugir do amor e consequentemente do sofrer.

  • Retrato Mozart Oliveira

    Entrevista por Leandro Ferreira. Natural de Gravatá, agreste pernambucano, Mozart Oliveira é uma das revelações da música brasileira. Cantor, compositor, poeta, documentarista, entre outros atributos que não caberiam aqui, mas que explicam um pouco a magnitude de tudo que este artista produz. A Spia conversou com o artista acerca da sua trajetória, vivência e influências musicais. Veja na entrevista a seguir: Leandro Ferreira (LF): Mozart, você transitou por diversas linguagens artísticas. Você esteve associado ao GAMR, e realizou produções audiovisuais a partir desse espaço. E, além disso, você também se associou a outros atos como em plano musical, performático, poético, como o Tríplice Mistério. Como você se desdobra por esses espaços? Mozart Oliveira (MO): É algo que eu só me debruço quando eu preciso escrever algum release para algum projeto. Sempre fiz o que era possível no momento em que eu estava ali me exercitando enquanto artista. A parte do Triplice Mistério, por exemplo, foi muito de chegar em Caruaru e encontrar um movimento que a gente criou na época, que era o Malin, em que a gente declamava poesias ali na Estação Ferroviária. Ali eu me enturmei, e ali a gente se criou. No GAMR, o Grupo de Apoio aos Meninos de Rua de Gravatá, foi quando eu vim de Recife, esse era o único lugar que educava através de arte e cultura. Depois de um tempo, chegaram equipamentos de fotografia e de cinema. Quando eu vi, já estava fazendo cineclubismo. As oportunidades aparecendo, fui me guiando através delas. LF: Em relação a esse trajeto, quais foram suas primeiras influências musicais? Você acha que elas se fazem presentes durante a construção desse EP? MO: As minhas referências musicais são aleatórias. Assim como minha prática artística também acaba sendo. Eu comecei a ler sobre música erudita através do meu nome. Também lembro muito na infância de ter gostado muito de O Grande Encontro, porque tinha aquelas vozes nordestinas cantando. A partir daquilo eu comecei a criar um imaginário do que poderia ser o cantor, depois, sobre o que é o intérprete. Depois de um tempo, me enlouqueci por Maria Callas. Ao mesmo tempo, eu estava ouvindo Secos e Molhados, descobri Maria Bethânia.... E para além disso, rock and roll. Na minha adolescência foi heavy metal, punk rock, música gótica, entrei de cabeça, e acho que a estética do rock and roll não foi uma fase. Eu acho que o disco inteiro remete muito a Tom Zé, em algumas partes. A faixa Samba do Amor é completamente feita pensando em Tom Zé. LF: Esse é o seu primeiro álbum, e é autointitulado também. O que você acha que ele representa na concretização dessa trajetória? O que ele representa, nesse sentido? MO: Eu vejo esse disco como… Eu vejo ele como uma experimentação fragmentária de possibilidades. “Olha o que eu consigo fazer”. A primeira canção já mostra outro lado meu, algo que não tinha performado desde o meu início na música. Os sambas que tem no disco também, eles já talvez denotem esse caráter de experimentação também minha. Talvez, ao menos para quem me conhece, o mais provável fosse fazer um disco com guitarra, distorção, bateria, declamando muito em todas as canções e fazendo mil e uma coisas. E muito pelo contrário, o disco parece que tem esse enxugamento de ideias. Ele não é um disco de estúdio pensado como disco. Ele é realmente um EP. Enquanto EP, vou muito por esse caráter de experimentação de possibilidades. E acho realmente que ele é apenas uma demonstração de possibilidades. LF: É muito notável a forma como essa produção conta com participações a partir de diversos recortes, você colaborou com pessoas que estão na região do Agreste, mas também com pessoas que estavam do outro lado do mundo. Além disso, existem manifestações artísticas diferentes e plurais. De que forma ocorreu a união dessas potências para esse encontro? MO: Eu tinha submetido um projeto para a Lei Aldir Blanc, mas não conseguimos o fomento. Depois de um tempo, o produtor, Guira, entrou em contato comigo e disse que iria para Bezerros, ficaria na casa de Matheus Lucena, e que mesmo sem a verba, a gente poderia gravar as vozes guias do EP. Nesse meio tempo, entrei em contato com Filipe Bolgovich, um amigo lá da Suécia, que conheci enquanto ele fazia um estágio aqui no GAMR. Há mais de dez anos que a gente não conversava. Mandei mensagem pra ele, e ele topou e falou de duas músicas que ele tinha engavetado. A primeira música que ele me deu foi “Vem”, como eu lhe disse, né? Ela só tinha aquela primeira estrofe, Eu completei com o Matheus no refrão. Em “Samba de Carmen”, a música já estava em completude. Eu compus Flamenco e a gente adicionou Cizou, que toca rabeca, e estava pronto. Tendo as seis músicas do disco, eu fui pra Cidade de Bezerros e gravei as vozes de guias. A maioria das pessoas que participaram do disco, salvo alguns, como Valdemar Neto e Matheus Ferraz, eu conheci justamente na época que fui morar em Caruaru, em 2016. À parte isso, o processo de formação foi muito livre, quem fez backing vocals, Isadora França, Rosberg Adonay, Ythalla Maraysa e Joyce Noelly, estavam livres. Então, tá todo mundo aqui, e, cada vez mais, eu sinto mais preguiça de ir pra Recife. LF: Na esteira do que você falou sobre o álbum não ter conseguido apoio das leis de incentivo. Eu gostaria de saber mais se você acha que existe mais esperança de fomento, se no atual momento se abre um novo horizonte, se há novas possibilidades nesse cenário. MO: Obviamente, não é suficiente nada do que já é feito. A gente tem o mínimo, e mesmo que consiga realizar, não é ideal. O que tem de política pública no Brasil ainda não é o ideal. Esse EP foi feito sem nenhuma lei de incentivo. Como é que ele foi feito? Com boa vontade. Infelizmente, você não pode parar de produzir apenas porque você não conseguiu passar num edital. O seu sonho de ser artista não deve estar amarrado a conseguir uma aprovação de uma banca que faz parte do governo. Eu sei que parece papo de positivismo barato, de coisa quase de charlatão, mas não. Com cultura e arte você ganha abertura para um mundo de possibilidades e de noções, por exemplo, o respeito ao diferente. Eu acho que eu vejo esperança agora, porque você tinha perguntado sobre esperança. Eu vejo muita esperança. LF: Eu também sinto nesse álbum um recorte bastante romântico. Isso se transpõe também para as condições sonoras de diversos sentidos, seja nos vocais, seja nos instrumentais. Você se considera uma pessoa romântica? Como isso influencia suas obras? MO: Se a gente pensar em Baudelaire, Álvaro de Azevedo, me considero romântico. São artistas de obras que muito me influenciaram, então, pegando o romantismo enquanto esse grande movimento de lá de antigamente, sim, me considero romântico. Ao mesmo tempo, também me coloco nesse romantismo da trilha sonora de uma novela, da Maria Bethânia cantando paixões inesperadas, de coração rasgado. Lá na música “Esquecimento”, fala sobre ter um jeito de amar antigo. Eu acho que vem disso, esse jeito de amar antigo, mofado, meio démodé Nessa música tem uma inserção, eu não sei qual contexto em que aquela fala é produzida, mas eu sinto que esses ruídos sonoros se integram bastante à natureza do seu álbum. LF: A inserção dessas partículas do cotidiano e do processo de gravação estão presentes no álbum, inserindo o ouvinte nos “extras” que compõem a construção de uma totalidade. Pra mim, esse artifício representa um movimento de acolhimento, aconchego. Quais são suas impressões sobre essas adições? MO: Em “Vem”, tem um ruído de fundo, uma sonificação feita pela NASA de um conglomerado de galáxias chamado Perseu, na qual habita um buraco negro. Tinha tudo a ver com a narrativa. Em “Esquecimento” tem a minha avó, falando no final, meses antes daquela gravação, da voz dela, ela tinha sofrido um AVC. E aí eu perguntei para ela algo sobre isso. Achei interessante como registro dela também e da importância da figura dela no meu olhar, ela tem muita influência no meu olhar quase místico sobre as coisas. Ela sempre me guiou muito, mesmo sem saber, ela me inferiu um olhar menos racional e quase dionísíaco. Em “Samba do Amor”, eu faço som de percussão com um isqueiro, acendendo e apagando. Todas essas camadas, muito tem a ver com a liberdade que Guira proporcionou, enquanto produtor fonográfico do disco, ele ficou muito aberto. Todas as ideias que eu vinha trazendo, ele tentava realizar da maneira que eu estava pensando. LF: É muito interessante notar essas interseções entre seu álbum e esse espaço do Agreste. De que maneira você acha que seria possível esses artistas e produtores se organizarem por aqui? MO: Quando eu cheguei em Caruaru eu tive encantamento com tudo que acontecia, todas possibilidades do que as pessoas conseguiam com poucos recursos e com muita vontade. A gente, enquanto artista, jovens, vivenciamos a história do Brasil e suas transformações, especialmente políticas. Não podemos esquecer disso. Foram passados fatos históricos. Isso mexeu com a gente, com nossos sonhos, com a nossa realidade enquanto país. Eu vejo que agora a gente está ganhando um novo fôlego. Eu fui embora de Caruaru muito frustrado porque eu achei que a Tríplice Mistério teria tudo. Agora eu fiz o lançamento do disco em Caruaru. Quando eu saio para cantar e cantam junto comigo e eu me emociono ao ver tanta gente querida que me ajudou a construir esse disco. Eu vejo a movimentação da galera do TEA. Eu vejo coletivos, como tem as Madalenas, que é um coletivo de mulheres que está fazendo também intervenções de teatro. Eu vejo a movimentação do Sesc, das pessoas que não conseguem tocar no Sesc. Tudo isso eu fico vendo, mas realmente parece que perdeu-se mais a coisa urbana. E que cada um meio que foi para o seu nicho. LF: Eu pensei em encerrar a nossa entrevista com uma pergunta bem ao estilo Provocações. Mas é uma pergunta super simples também: existe alguma pergunta que você gostaria que eu tivesse feito, mas eu não fiz? MO: Rapaz… essa é bem complicada, viu? Talvez…se eu já tenho ideia de algum outro disco. LF: Você já tem alguma ideia, você já pensa em um outro projeto? MO: Já! Eu ainda não sei quais os músicos que estarão comigo, quero fazer algo completamente diferente desse EP. E talvez seja algo completamente de fácil assimilação para quem já me conhece. Já existe toda uma temática poética para esse novo trabalho. Por isso mesmo eu preciso encontrar mais coisas, assim como músicos que dialoguem com essa poética. Eu gostaria muito de fazer algo tendo como uma grande referência a Angela Ro Ro, tendo como referência uma Maísa, uma seresta, uma coisa densa. Gostaria muito de explorar isso. Mas daqui pra lá pode ser que eu mude completamente a ideia, pode ser que saia um livro, outro filme, sei lá.

  • Le Freak: Indie Rock no Agreste Pernambucano

    Por Nayara Nascimento Inspirada nas bandas Dinosaur Jr, Pavement, Sonic Youth, Pixies e bandas de rock dos anos 60, a banda Le Freak está em atividade há aproximadamente 20 anos. Em sua formação original, Beto Skin nos vocais, Alberto Leitao na guitarra solo, Charles na guitarra base e back vocais e Robson na bateria, a banda de indie rock santacruzense faz parte da história do movimento underground de Santa Cruz do Capibaribe. A banda, inicialmente chamada Projétil Lisérgico, surgiu do sonho em comum de quem curte rock: ter sua própria banda. Charles Marcolino, ex integrante da banda, comenta como bandas do mesmo estilo da capital pernambucana Recife, influenciou na formação da Le Freak: “ Quando a gente conheceu bandas como Supersoniques vimos que é possível ter uma sonoridade, mesmo em uma cidade do interior de Pernambuco". Em seus shows, a Le Freak sempre mantém seu repertório autoral, podendo algumas vezes homenagear com um cover as bandas que inspiraram a sua formação. Atualmente a banda possui o EP Le Freak gravado no estúdio Fábrica em Recife e o EP Aventures in Lo-fi em Surubim. Confira: A banda continua em atividade mas com a formação diferente da original, sendo Betto Skin no vocal, Alberto na guitarra, Lamarques no baixo e Eduardo na bateria. A Le Freak, assim como o Capibaribe In Rock, resistem e fazem parte da história cultural e política de Santa Cruz do Capibaribe. Confira alguns registros da banda:

  • Capibaribe in Rock através do anos

    Cartazes de todas as edições do Capibaribe in Rock desde de 1998

  • Capibaribe in Rock: há 25 anos Betto Skin, traça caminhos para cultura local

    Eu não tô sozinho, eu tô dando o sangue, mas sem tantos parceiros não teria conseguido, porque o apoio financeiro é importante também, mas não adiante fomentar se não tiver o artista, se não tiver o louco lá mostrando sua arte. Entrevista por João Rocha e Nayara Nascimento. Roberto José dos Santos Oliveira, nasceu na cidade de Limoeiro, em 31 de janeiro de 1972, sua memória fantástica se mostra presente já no início de nossa conversa quando ele lembra do horário e local que nasceu, às 08:15 da noite, em casa, recentemente completou seu quinquagésimo primeiro aniversário e nesta entrevista que você acompanhará a seguir, nos contou sobre detalhes que fazem do Capibaribe in Rock um dos eventos de maior resistência cultural de nossa cidade. Saindo de Limoeiro aos 17 anos, fugindo do alistamento militar, encontrou refúgio e aconchego na terra seca e árida que é a nossa Santa Cruz do Capibaribe, em 18 de junho de 1990 se instala nessa cidade banhada pelo rio capibaribe, por onde vive há mais de trinta anos. Mal sabia ele, naquela época, que vinte cinco anos depois estaríamos celebrando seu grande feito, movido por um coração valente, um corpo político e uma cabeça musical, o Capibaribe in Rock VIVE, trazendo músicas, cinema, artes, oficinas, desfiles, brechós, tudo que for de expressão artística, como o mesmo afirma. Quando tinha ainda pouca idade Betto já tinha uma paixão pela música, seja através de sua origem em Limoeiro que lhe apresenta o coco de roda, o maracatu e o frevo, seja pelas músicas que sua mãe ouvia, o popular brega do Odair José, seja pelo samba-canção entoado pelo Nelson Gonçalves, que seu pai tanto escutava, ou ainda pela amizade dele enquanto adolescente com Seu Zuzu, o dono da loja de discos de Limoeiro, onde adquiriu muitos de sua coleção de vinis, e onde também descobriu um universos de artistas nacionais e internacionais. Betto traz consigo nessa vinda para Santa Cruz um bisaco cheio de cultura/arte e uma vontade de movimentar, uma vez em Santa Cruz do Capibaribe agitou a cena cultural da cidade e hoje é um dos nomes na produção de arte e cultura de nossa região, ele abre seu baú de memórias para compartilhar conosco um pouco desse percurso enquanto agitador cultural, veja a entrevista a seguir: Betto, primeiramente gostaríamos que você nos contasse um pouco sobre a sua história e relação com a música. Sempre gostei de música, que da região que venho, em Limoeiro, sempre convivi com todos esses foguetes populares: coco de roda, caboclinho, ciranda, maracatu, frevo… Tenho uma proximidade com Recife também, então eu cresci absorvendo e conhecendo todas essas demonstrações culturais de nosso estado, sempre tive um apreço muito grande pelo teatro, através dos colegas do ensino médio. Inicialmente eu vim pra Santa Cruz, em janeiro, porque em Limoeiro tem tiro de guerra e eu não queria servir o exército, aí eu vim para cá e me alistei, como se já trabalhasse aqui, e morasse aqui, mas já tinha esse plano, como eu completei 18 anos em janeiro eu tinha que vim logo; No começo, comecei a trabalhar numa loja de moda praia e no ano seguinte comecei nesta empresa que trabalho até hoje. Eu tive uma boa adolescência e infância, peguei boas informações para ir montando essa construção de ser humano, em conhecimento e na parte pedagógica, e a parte da música entra através de minha mãe, de ser uma pessoa muito musical, ela gostava muito da linha popular do brega dos anos 70, Odair José, e do forró pé de serra; meu pai gostava muito de música de seresta, de cantores mais tradicionais, Celestino, Nelson Gonçalves, Silvinho, ele gostava muito de samba carioca e de Luiz Gonzaga e Quinteto Violado…Então eu cresci dentro dessa mistura de estilos, mas tudo música legal, de qualidade, tanto que se perdura até hoje, o que eu escutava, hoje em dia ainda se toca no rádio. Tem uma música que marcou minha infância, que é Sonhos de Peninha. Porque começou a me lembrar da década de 70, eu morava em Limoeiro, tocava muito na rádio, é uma lembrança que eu tenho de ouvir muito: “mas não tem revolta não…”. É uma música que perdura, porque Caetano regravou no final da década de 90 e virou sucesso de novo, provando que essas músicas perduram por muito tempo. Além da infância musical que eu tive em casa, na década de 1980, meu pai comprou uma mercearia lá em Limoeiro e tive a felicidade de morar na rua do cara que era dono da loja de disco da cidade, o nome era Primor Som, eu ia lá para comprar revistas que vendia também e comecei a olhar os discos, comentava com os amigos na escola, se eles falavam de alguma banda, eu ia lá na Primor Som procurar se tinha. E eu tive também a sorte de ouvir a rádio transamérica, a rádio cidade, a universitária de recife, que só tocava música clássica, era massa, a antena um que só tocava MPB, Jazz, Blues, ai eu anotava o nome das músicas, era Zuzu o nome do cara, ele fez parte da minha construção musical, eu pedia a ele: Zuzu traz esse disco pra mim, tenho um disco do Queens, the works, eu tenho até hoje, comprei com treze anos. Em 2022 o Capibaribe in Rock fez 25 anos de existência, um movimento já tradicional no calendário municipal, como você enxerga essa trajetória até aqui? Resistência, a primeira palavra que me vem na cabeça é resistência, é um movimento de resistência, de eu querer persistir em fazer isso, por amor mesmo, por ter continuado, conseguido manter alguns parceiros, instituições privadas ou públicas, como a UESCC (União dos Estudantes de Santa Cruz do Capibaribe), o CDL, que percebem muito a importância do evento, e eu tive a sorte de desde que criei o capibaribe encontrar com essas pessoas com sensibilidade cultural. A satisfação pessoal é grande, e por também contar com diversos amigos que sempre toparam participar do evento, seja de qualquer área que fosse, e esse foi um dos motivos que consegui manter o evento, por esse contato com esses artistas de outras áreas culturais. Aí tinha Pio e Nego que faziam os sombras, era mudo né; no teatro tinha aquela galera com Marcio Nunes, Professora Evani, com a saudosa Bethânia, com Lourdes, Ana e Márcia. Tinha também Maria Lu na fotografia, Gilberto Geraldo nas artes plásticas, tinha Edvan, Fábio Xavier, Cândido Freire… eram esses loucos que topavam a minha ideia, a gente ia se ajudando um ao outro e fazia acontecer. É a minha satisfação de tá com a galera que queria expor, que não tinha vergonha e ia lá, eu achava massa ver a arte deles sendo reconhecida. Quando eu convidava uma banda nova, ou que já tinha história na cidade, para participar do Capibaribe, eu via a satisfação, eles achavam massa demais. Acho que são um conjunto de fatores que me faz continuar resistindo, saber que eu tenho essa ideia louca de fazer e tem um bocado de doido comigo, seja participando como músico, como expositor, ou dando um apoio na produção. Acho que resumo em força de vontade e resistência mesmo, e eu sou satisfeito com o resultado que tenho, se der para fazer de determinado tamanho, eu faço, em tantos dias, eu faço, se for três bandas, eu faço, vendo que alguém quer fazer, eu faço, enquanto eu tiver convidando e a galera tiver topando, comprando a ideia, eu faço. Na década de 1990, quando inicia sua carreira artística enquanto DJ, e posteriormente na articulação do Capibaribe in Rock a partir de 1996, com participação que envolvia alguns nomes como Charles Leopoldino, Ailton e Gilberto Geraldo, estreando o festival em 1998… Gostaria que você nos contasse como foi o processo imersivo e criativo desse movimento cultural? Quando eu cheguei aqui em 1990 uma das primeiras pessoas que eu tive contato foi Carlos Felix, hoje em dia Carlos Mosca, que mora em Campina Grande, a primeira coisa que a gente se identificou é que ele gostava de The Smiths também, a gente tava conversando, não sei se era eu que tava escutando uma fita ou se foi ele que chegou ouvindo no carro e através desse papo a gente se identificou de cara pela questão musical. Carlos trabalhava com parte gráfica, e me convidou para fazer uma festa com ele: “tu vai discotecar?” - “vou sim”. A gente fez até um cartaz inspirado em uma capa do rolling stones, voodoo lounge. As primeiras festas com som mecânico foram no bar do copo sujo, que era como a gente chamava, lá na rua grande, quando a feira de mangaio era por lá, era um barzinho da parede meia suja, onde o pessoal da feira comia por lá. Foi nesse evento que surgiu o nome Betto Skin, Carlos me perguntou qual nome colocaria no encarte. A brincadeira com o Skin surgiu em um show de Zé Ramalho que eu tinha ido em São Bento do Una, e na volta a gente passou em Belo Jardim, foi quando eu comecei a usar o cabelo raspado, eu tinha um fusca com a placa de Santo André, uma triste coincidência, porque na época tava tendo os carecas da mercedes em Santo André, que metiam o pau nos nordestinos, nos gays, nos pretos, em todo mundo. Aí paramos para tomar um refrigerante, chegou um cara bêbado e veio até a minha mesa: “Você é um daqueles carecas da mercedes, que tá matando os nordestinos em São Paulo, você é um skinhead, repara na placa do carro…”, depois chegou alguém e levou o rapaz, e ficou por isso. Aí foi quando alguém sugeriu colocar no cartaz, Betto Skinhead, ai eu disse que não né, skinhead é muito pesado, mas bota Betto Skin, que é pele e a gente pode fazer uma referência a minha careca, ai ficou skin. O evento era eu tocando, a gente comprava as biritas, e lá a gente comprava um caldeirão de xerém com galinha, alugava o espaço e fazia a festa. Por isso que o Capibaribe sempre teve esse conceito de trazer a galera do rock e também o pessoal da diversidade, no primeiro Capibaribe in Rock teve Fabricio França com o grupo Sulancar, teve um desfile de Adriano Morotó, foi totalmente chocante. Eu vim conseguir fazer exposição no Capibaribe in Rock a partir de 1999, que foi no novo club, teve exposição de Carlos Felix, de Ronaldo Neves com telas, teve performance de Fabrício França, foi bem massa. Agora, hoje, eu sinto falta da renovação nas outras linguagens, a gente consegue sempre trazer novas bandas e grupos musicais, mas eu sinto falta dessa juventude participativa nas outras linguagens. Eu tentei fazer o Capibaribe por dois anos seguidos sem sucesso, eu conheci Ailton que morava uma rua depois da minha, e a gente tentava apoio nas lojas e nada, em 1996 e em 1997. Ai em 1998 eu já conhecia Charles de vista, e conheci o pessoal da Carcinose, tinha o pessoal que fazia um movimento em Surubim, também, e em maio de 1998, eles me convidaram para fazer um som lá, ai rolou essa empatia, essa conexão por identificação. E aí em juntei a Carcinose, o pessoal de surubim, uma banda de Ailton, e quando vi tinha seis bandas pra tocar na primeira edição do Capibaribe, que aconteceu na Estação do Som, onde é a farmácia Nataly, na avenida 29 de dezembro, Braz que era o dono me confiou o espaço e ai eu consegui fazer dois ou três eventos lá, até hoje Braz tem um carinho imenso por mim. Foi o que eu construí ao longo do tempo, o pouco que eu construí de respeito foram nos pontos essenciais, eu tenho uma casa que é a UESCC para fazer um evento, tenho contato de um pessoal que aluga som. O primeiro Capibaribe in Rock, aconteceu na data do aniversário da minha mãe, eu fiz involuntariamente, sem saber, depois foi que eu me toquei, em 08 de agosto de 1998, no mesmo ano, nós fizemos o halloween, em 31 de outubro e no final do ano fizemos a Zueira Natalina, então no primeiro ano foram três eventos. Tiveram pessoas essenciais para esse começo, todo o pessoal da UESCC, Gilberto Geraldo ajudou também muito, o primeiro cartaz quem fez foi Iron, e Charles foi uma pessoa essencial também, chegou junto e topou. A gente só conseguiu fazer porque deu um público da porra, deu umas 600 pessoas, tanto que a grana que deu, a gente ajudou a comprar os instrumentos da Carcinose, fui em Recife com eles comprar bateria, guitarra… Já passaram pelo palco do Capibaribe in Rock, gêneros musicais como a MPB, a música eletrônica, Indie, o Batuque e Maracatu, a voz e violão… Quando o festival foi pensado era para ser um evento direcionado ao Rock? Era para ser direcionado a todas as formas de linguagens artísticas e culturais, o rock no nome é algo ilustrativo, me lembra da raiz, porque eu sempre curti rock, mas a ideia foi espelhada no Abril pro Rock, que tinha uma feira pop, o mercado pop, tinha a galera do mangue beat, tinha expositores, e aí eu vi e queria fazer algo desse mesmo modelo, com bem muita diversidade, algo muito massa, no início, em 1994, o evento acontecia no maluco beleza e lá rolava de tudo, tatuagem, brechó, de tudo…eu pensei né, eu não vou fazer algo voltado só ao rock se o que eu quero é mesclar, tanto que a partir de 2001 eu comecei a fazer parceria com a UESCC, eles ofertavam oficinas de percussão e de DJ’s. A partir de 2000 eu comecei a fazer sozinho com a produção executiva do festival, de captar recursos, sozinho, assim, sozinho entre aspas, porque Charles sempre esteve comigo na captação de recursos, ele foi muito essencial, foi ele quem abriu as portas para o CDL, e também para outras três ou quatro empresas. Atualmente quem compõe a equipe de gestão do Capibaribe in Rock? Eu tenho como parceiros hoje em dia, na produção, Naldo Budega na parte gráfica, Jorge Luiz cuida das redes sociais, a divulgação, e apresenta o festival e a UESCC, que tá sempre como pedra fundamental, eu tô sempre contando com a UESCC, sempre é a casa, e eu. Mas assim, eu digo eu porque é quem tá correndo atrás, mas se eu não tiver banda para convidar, um segmento, um movimento para convidar, eu não consigo fazer. Esses que eu falei são os pilares mas todo ano a galera que aceita participar fazem o festival comigo também. Enquanto produtores culturais sabemos que o apoio financeiro público ou privado é bem escasso para produções artísticas, e se tratando de uma região do interior isso se torna ainda mais agravante. Dito isto, acreditar na (re)existência do evento foi difícil? E como aconteciam esses apoios no início? Muito, a questão do apoio é o seguinte, sem o fomento institucional, no caso, via pública, seja a prefeitura, a secretaria de educação e cultura, é impossível de se fazer o evento, porque a maior despesa do evento está na parte de som e de iluminação, de estrutura. Todas as bandas que se predispõem a tocar, sejam de Santa Cruz ou de fora, das cidades circunvizinhas, ou seja, que tenham o interesse em tocar no festival, mesmo sabendo que não tem cachê, por o evento ser um evento aberto, público, no máximo eu consigo dar uma ajuda de custo, hospedagem e a alimentação, alimentação sempre, é o essencial. Quando a gente consegue trazer uma banda de fora que vem tocar na irmandade, muita gente que vem me diz: arruma um lugar pra ficar aí que a gente vai por nossa conta, eu escuto muito “a gente quer tocar”. aí vem se diverte… Já teve banda que veio tocar de Mossoró, mais de 700km pra cá, eu disse que disponibilizava a hospedagem, mas o combustível não tinha como, eles disseram, não pow a gente vai por nossa conta, 30 de outubro o nome da banda, se eu não me engano vieram tocar na edição de 2013, eu acho bem legal isso ai. Mas o que eu consigo captar junto à iniciativa privada é justamente o básico para poder suprir essas necessidades. É um evento totalmente apolítico, mas sem o apoio da prefeitura eu não consigo fazer, quando eu chego em cima do palco eu não vou agradecer ao prefeito fulano de tal, mas sim a instituição, porque eu enquanto produtor cultural, eu faço um evento gratuito, tomando muitas vezes o lugar e a obrigação da iniciativa pública que é de fomentar a cultura, e trazer ao jovem e a sociedade o lazer gratuito e eu trago isso, mas ai a visão das prefeituras, das gestões, no meu ponto de vista é uma visão limitada, mínima, com relação ao evento, de interesse, apesar de eu ter esse apoio ai, mas eu sou daquele que se levar um não eu não vou para a rádio criticar, não vou perder meu tempo com isso não. E aí, eu sempre busquei ficar distante dessa disputa política que existe aqui. Mas era para se ter um direcionamento mais adequado para eu oferecer um evento melhor, com uma estrutura maior para o público, pro cidadão santacruzense que é obrigação do município, do estado, da união o que quer que seja, que é fomentar culturas públicas, e eu faço o papel da iniciativa pública. Do mesmo jeito que tem a visão limitada da iniciativa privada também, que às vezes dá o valor da cota mínima, que para o festival, não chega nem a 10% das cotas de grandes eventos ai. Outra porta que abriu nessa última edição do Capibaribe in rock foi uma parceria massa com a Rádio Polo, que cedeu espaço para divulgação, me convidou pra o programa dele, e eu conheci Silvio José pegando carona pra ir pra Surubim, ele era locutor de uma rádio de Surubim, em 1994 quando eu tava voltando para visitar Limoeiro, sempre tive esse carinho com Silvio, essa aproximação, já fez gravação pra mim, gravação de mídia sonora, sempre cedeu o espaço pra divulgação do Capibaribe, eu num sabia a rádio que Silvio tava, mas ele sempre se mostrou aberto a divulgar o festival, isso é outra coisa que eu achei massa, é outra porta que se abre, porque eu também nunca fui de forçar muito não, sempre se apresentaram pessoas sensíveis e permanecem parceiros. Eu só não tive apoio da gestão municipal nos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008, a gestão me procura em 2009 e a gente consegue destravar e eles também conseguiram compreender que o que eu faço é um festival apolítico, eu sou apolítico, o evento é direcionado pra música. Agora vê o que é um festival com o suporte de um edital, em 2009, rolou um edital para microprojetos do semiárido, que envolvia todo o semiárido do nordeste, pegou o agreste, uma parte da Bahia e de Minas Gerais, tudo que era considerado como semiárido, aí o Capibaribe foi contemplado, saiu o resultado no final de 2009, e eu executei justamente no Capibaribe de 2010. Nessa edição eu fiz um evento do jeito que eu queria, três dias, na sexta feira, primeira noite teve maracatu, chorinho, MPB e regional, na segunda noite rock, metal, indie, folk, no domingo teve grupo percussivo, três dias, todo mundo recebendo um cachê legal, um dos parceiros que sempre agregava era Alexandre Soares do Curta Taquary, esse ano de 2010 a gente colocou o projetor na calçada, na parede branca da frente da UESCC e ficou exibindo os filmes na calçada, Luciana fez as exposições dela, teve oficina de confecção de máscara, de percussão, tocou o maracatu chamado Brasilidades que tinha Rubinaldo Catanha e tinha outro Catanha, eram dois Castanhas, que os Catanha é uma etnia em Santa cruz né uma família não, uma musicalidade da porra, Santa Cruz é muito rica por isso. Aí eu digo porra como é massa uma estrutura pra um festival, foi, foi…(não conseguiu achar a palavra que descrevesse). Beto, saindo um pouco do protocolo, gostaria aqui de reverenciar a sua garra, persistência e resistência para comandar um evento que tomou essa dimensão que tomou, como ele está entalhado na história cultural e política de Santa Cruz do Capibaribe, e evidenciar o produtor cultural porret@ que você é, além de ser o vocalista de uma das bandas que mais passou no palco do festival, a banda Le Freak, que este ano completa 19 anos de carreira. Como você vê a relação entre o Capibaribe in Rock com a Banda Le Freak? Eu sou feito o dono da bola. O dono da bola era o jogador mais ruim da rua, mas ele jogava em todos os times sempre. A Projétil Lisérgico surgiu em 1998, e em 2003 fizemos um show lá na rua grande num palco bem grandão, o palco disputou espaço com os bancos da feira e os ônibus de excursão que vinha da Bahia, nessa edição veio dois amigos meus que eram do exército, mas gente boa, colocaram o rapel, montaram lá, Gilberto Geraldo desceu, quem tinha coragem desceu. Foi o último show da Projétil Lisérgico que foi em 2003, e aí em 2004 a gente já começou como Le Freak, aí tivemos um intervalo que foi o período que eu perdi meu pai, em 2005, em 2006 eu pensei em remontar a banda, mas eu vou cantar dessa vez, remontei a banda com Charles na Guitarra, eu no baixo, Beto Moura e Robson. O show de retorno foi no Capibaribe de 2006, que foi em frente ao Tibúrcio, foi na rua. Eu sempre compunha com Charles. A gente tem um EP gravado em 2014, gravado no Recife, com Charles, Renato, Lamarques, Leitão e Eu, e tem um agora que a gente gravou em 2021, gravamos em Surubim, no studio de Surubim, via Lei Aldir Blanc, que tá lá na nossa página no bandcamp (https://lefreakpe.bandcamp.com/), Adventures em Lo-FI, Aventuras de Baixa Fidelidade. No prédio de Arthur Clemente, que é pai de Lula Clemente que é um cineasta aqui de Santa Cruz que tem um filme muito cult que é a Galega da Moto. Na edição do Capibaribe in Rock de 2005, a gente tocou lá no prédio de Arthur, no térreo, chamava a garagem e em seguida teve a exibição do curta da Galega da Moto e a gente fez a trilha sonora ao vivo, eu no baixo, Carlos Mosca na Voz, Charles na Guitarra, a gente fez um bregão ficou do caralho! Para finalizar, trago um comentário que o Euzébio fez sobre você em uma entrevista para um blog da cidade, ele disse “Betto além de ser o criador do evento é o que ‘dá mais sangue’ para sua realização”. Diante desse fragmento e de tudo que conversamos aqui, o que seria, para você, o principal ingrediente para se criar e resistir um festival dessa proporção? Ter quem acredite, é como eu disse, eu não tô sozinho, eu tô dando o sangue, mas se eu não tiver banda pra tocar, se eu num tiver ninguém pra expor, se eu não tiver uma casa pra fazer, ninguém faz nada sozinho não. Se eu não tivesse todo esse apoio que eu tive e tenho…o mais massa é quando eu ligo pra alguém convido pro evento e eles dizem na hora “quero”, porque o apoio financeiro é importante também, mas não adiante fomentar se não tiver o artista, se não tiver o louco lá mostrando sua arte. Em toda história do Capibaribe tem muita gente que participou que fez esse movimento acontecer, num foi eu sozinho, eu catalizo, eu vou organizando por aqui, e sempre esperando uma ajuda maior, um reconhecimento maior, por ai.

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