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Exposição Animação Pernambucana - 5 Décadas de História

Atualizado: 21 de mar. de 2023

Por Ana Carolina Silva Duarte.



O ano de 2022 marcou a celebração de 50 anos de animação pernambucana, iniciada com o pioneiro e mestre animador Lula Gonzaga. Para comemorar essa grande jornada de produção cultural da cinematografia, o Museu de Cinema de Animação Lula Gonzaga (MUCA), através do projeto do SESC, o ANIMASESC, elaborou uma exposição para contar a história de 5 décadas da animação em Pernambuco. Visitamos a exposição e a Spia conversou com Rafael Buda, produtor e realizador audiovisual, e coordenador na área de programação do MUCA.


Carolina Duarte (CD): Como membro do MUCA, como foi idealizar e participar da exposição do ANIMASESC?


Rafaela Buda (RB): O MUCA no ano passado completou 5 anos de vida, e a gente completou 50 anos de animação em Pernambuco, então são histórias que se entrelaçam. O MUCA inicialmente foi um projeto vocacionado para cuidar da preservação e memória da obra do mestre e patrimônio vivo Lula Gonzaga, mas que ao longo do seu tempo, da sua trajetória, expandiu para que a gente pudesse dialogar com outros artistas, não só de Pernambuco, como também do Brasil e internacionalmente.


O MUCA hoje, funciona a 80 quilômetros do Recife, no agreste de Pernambuco, na cidade de Gravatá, é um espaço físico com cerca de 90 metros quadrados, onde a gente pode ir lá não só revisitar toda essa trajetória do mestre Lula, como também realizamos cineclubes, oficinas, eventos, e já recebemos inúmeras visitas, tanto de estudantes da Universidade Federal, quanto de animadores aqui do Estado e de outros países, posso destacar, por exemplo, a Alemanha, França, Argentina.


Na nossa parte de formação, realizamos cerca de 6 oficinas por ano, formando uma média de 120 jovens do Agreste neste ciclo básico de animação, possibilitando que o Agreste possa ser hoje um grande polo de referência da produção de cinema de animação aqui do estado.


Pensar a exposição foi um desafio enorme porque não foi fácil conceber o caminho que a gente ia desenvolver para poder apresentar isso para os visitantes, mas fizemos um recorte muito bacana. Queríamos não fazer uma exposição apenas historiográfica, digamos assim, mas trazer o que a animação tem de diferente das outras linguagens audiovisuais, que é a possibilidade de poder trazer cenários, objetos, matérias de jornais e experiências interativas, como por exemplo, a maioria dos filmes que nós jogamos luz aqui, trouxemos para que os visitantes pudessem apreciar, que foram cerca de 60 obras durante essas cinco décadas, elas também estão linkadas via QR Code, onde o visitante pode não só ver uma foto, ver o boneco, ver o cenário, como assistir o filme ao mesmo tempo.


Então é possível ver, principalmente, a transformação tecnológica de animações com pouca ou quase nenhuma estrutura para serem produzidas, seja de recorte, seja com câmeras analógicas, seja com o processo digital até chegar hoje na possibilidade de trabalhar com 3D. Então acredito que foi uma exposição bem pensada, com a curadoria muito legal do Tiago Delácio, com a montagem muito bacana do Bruno Cabús e toda uma equipe que se envolveu e se dedicou intensamente para que a gente pudesse entregar o melhor que a animação pernambucana tem nessas últimas 5 décadas.



(CD): Como foi que se iniciou a sua relação com a animação, esse interesse começou na infância ou veio depois?


(RB): Desde criança eu gosto muito de desenhar, de ler revistas em quadrinhos, HQs, fui muito estimulado por isso através da minha mãe principalmente. Em 2005 eu tive a oportunidade de participar de um projeto na Casa da Cultura, por meio do Mestre Lula Gonzaga, que era um projeto chamado Células Culturais: Desenhando culturas, então a partir disso eu comecei a emergir mais no mundo da animação.


Minha primeira formação é Ciência da Computação, então a gente acaba interagindo também com essa parte de design, games e de animação. Então, desde 2005, eu sou ligado à área de cinema de animação e desde 2013 eu me dedico integralmente a esse universo, ou seja, fazem 10 anos esse ano. O ano de 2013 foi quando a gente realizou o primeiro Animacine, que é o festival de animação do Agreste, com a coordenação artística do Mestre Lula Gonzaga, a coordenação do festival pelo Tiago Delácio e eu faço a produção. Nesse ano vamos realizar a quinta edição do projeto.


Além disso, eu costumo dizer que o mais legal que o MUCA vem propiciando é a gente hoje poder trabalhar com o que eu chamo de ecossistema do cinema de animação aqui no estado. Nós trabalhamos com formação, através das oficinas do OCA, o Cinema de Animação do Mestre Lula Gonzaga, a gente trabalha com difusão através do nosso festival de animação, chamado de Animacine, trabalhamos com a preservação e memória, através do MUCA, onde a gente salvaguarda a memória de Lula e de outros animadores. E também, trabalhamos com realização, desenvolvendo não só os filmes das oficinas, mas as séries que vamos desenvolvendo ao longo dos anos.


(CD): Rafael, a Spia quer perguntar se você tem algum conselho para dar para jovens estudantes e animadores ainda emergentes.


(RB): Eu acho que o primeiro conselho é persistam. Trabalhar com animação não é fácil, apesar de ser hoje um mercado muito emergente, porque a animação atua em diversos espaços do audiovisual. Se você entrar hoje na TV aberta, uma propaganda daquelas, por exemplo, de loja de móveis tem animação, saldão, liquidação, e aí vem aquelas animações apresentando o produto, seja na internet, em sites de notícias ou em sites de vendas. Além disso, hoje existe um mercado muito grande de animação, principalmente de marketing digital, e também hoje no universo das redes sociais. Então a animação permeia tudo isso e é um dos mercados que mais cresce para além do cinema autoral e do cinema artístico, é o mundo dos games, que de fato os jogos digitais em geral, cerca de 30% a 40% da equipe também são formados por animadores.


Então é possível entender a dinâmica desse universo para poder entender esse leque de mercado. A gente sempre trabalhou com a questão voltada para o cinema, que é o nosso foco de atuação, então para quem quer trabalhar especificamente com o cinema de animação, eu acho que a primeira coisa é persistir, porque não é fácil.


Nós produzimos um filme de 8 minutos, que demoramos 3 anos e meio para produzir. Ou seja, é preciso muita resiliência, muita dedicação, uma galera com uma sinergia muito boa, muito envolvida no projeto para que ele possa concluir o seu ciclo. Hoje, mesmo na universidade, você fazendo filmes mais estudantis ou que não sejam para o universo comercial, existe uma gama de festivais que aceitam filmes nessa categoria, filmes de iniciantes, filmes estudantis. Inclusive, existem festivais específicos para isso, tem a Mostra Estudantil aqui de Pernambuco também, que é um espaço bem bacana para que você possa apresentar o seu primeiro trabalho.


O Brasil tem sido uma grande vitrine não só de profissionais, inclusive, eu vi um paper esses dias de que devido, infelizmente, à pandemia, mas ao trabalho de home office, hoje muitos profissionais brasileiros pela sua qualidade, pelo seu traço, pela dinâmica do trabalhador, do animador brasileiro, digamos assim, pela perspectiva do trabalho home office, muitos animadores desenvolvem diversos trabalhos para fora do país, principalmente para o mercado do Canadá e para o mercado asiático. Então, assim, depende de onde você se posiciona, se você vai ser um animador, se você vai ser um roteirista ou um produtor.

Eu penso que a gente não deve cair nesse desestímulo que muitas vezes é jogado para nós, tendo em vista que, quando vamos pesquisar e analisar o mercado, existe uma potencialidade enorme, então acho que é muito mais de como que a gente pensa a nossa inserção no mercado de trabalho.



(CD): E nesse aspecto, como você interpreta a importância de um evento cultural como esse?


(RB): Eu e Tiago, que foi o curador da exposição, pensamos muito hoje como o cinema e o audiovisual podem ocupar outros espaços, não só as salas de cinema e não só os streamings. Então, ano passado, 2022, foi um ano muito simbólico, nós realizamos uma exposição audiovisual no Rio de Janeiro sobre o Bicentenário da Independência do Brasil. Já no FIG, que é o Festival de Inverno de Garanhuns, a gente realizou projeções e vídeo mappings sobre a Semana de 22, que no ano passado foi o 100 anos da Semana de Arte Moderna, porém, focamos nos modernistas pernambucanos, que muitas vezes, quando se fala dos modernistas do país, só focam na turma do Expo Rio São Paulo.


Foi muito bacana poder desenvolver esses dois projetos. E foi muito legal, porque a gente pegou as obras desses modernistas, animamos elas e projetamos nos prédios públicos de Garanhuns. Já esse lance da exposição era uma coisa que a gente já tinha feito no MUCA, não sobre esse tema, porque o MUCA, que eu inclusive convido todo mundo desde já a ir lá conhecer, a professora Amanda, o professor Buccini, eles sempre levam anualmente estudantes lá para conhecer o museu, então independente disso, é um espaço que está sempre de portas abertas para receber pessoas interessadas na área. Mas lá foi muito legal, porque quando a gente concebeu a expografia do museu, a gente fez uma trilha animada, que é um pouco do que vocês podem ver aqui, que são esses brinquedos óticos, os objetos, para conhecer a história do pré-cinema.


Fizemos um espaço dedicado ao mestre Lula, um espaço de formação, uma videoteca com livros e filmes que a gente em breve deve estar consolidando o nosso sistema para empréstimo, para pesquisa e tal, fizemos também um espaço para exposição. Por quê? Porque a animação permite que você também tenha produtos físicos, seja 2D, 3D, que aí você pode imprimir aquele objeto, seja stop motion, recorte, ou outras técnicas que permitem que você tenha um objeto ali para poder apresentar.


Então quando inauguramos MUCA em 2017, lançamos a nossa primeira exposição, que foi a exposição de um filme que nós fizemos abordando a comemoração dos 20 anos da banda Devotos, que é uma banda de punk rock daqui, inclusive aqui de Casa Amarela, e que na época, também em 2017, eles estavam completando 20 anos de trajetória, a gente fez uma experiência muito interessante, onde a gente juntou 100 animadores do Brasil todo para poder fazer esse trabalho.


E aí eu fiquei muito nessa ideia de que a gente deveria fazer uma exposição e trazer esse universo para o público, já que o primeiro filme de animação foi em 1972, então em 2022 a gente estava completando 50 anos de animação em Pernambuco.


(CD): E por último, que recomendações você tem, tanto de conteúdo, como de artistas, para dar aos animadores iniciantes na área.


(RB): Ah, enfim, tem muitos livros legais, né? Tem um livro, inclusive, daqui do nosso professor, parceiro e amigo Marcos Buccini, que conta a história do cinema de animação de Pernambuco. Tem um livro do professor Antônio Moreno chamado "Experiência Brasileira no Cinema de Animação" . Antônio Moreno foi muito amigo nosso, parceiro, e amigo de Lula, que inclusive, foi para Zagreb com ele nessa época, né? A Embrafilme enviou três animadores do Brasil para poderem estudar fora, e o livro dele também é sobre animação.


Tem um livro do professor lá da Unicamp, Wilson Lazaretti, que também é um livro muito legal, que trata sobre essa história da animação, como funciona a história do pré-cinema, o livro se chama "Manual do Pequeno Animador", da editora Komedi. Tem uma pessoa que eu recomendo muito, que hoje ele é professor lá em Minas, a gente já teve a oportunidade de lançar o livro dele aqui em 2015, no segundo Animacine que é o Sávio Leite, ele é professor lá da UNA, mas que hoje ele é um dos principais expoentes nosso da animação do ponto de vista de literatura, porque ele já lançou, se eu não me engano, cerca de 3 a 4 livros do universo da animação, livros inclusive de artistas, de pesquisadores americanos, onde ele a faz tradução. Mas esse livro é muito legal dele, chamado “A Maldita História da Animação Brasileira", onde ele faz entrevistas com os principais animadores do Brasil.


Tem um livro que foi lançado recentemente pela editora Martins, se eu não me engano, que é também de um grande produtor e um grande animador brasileiro, o Otto Guerra, onde ele lançou sua autobiografia e é um livro muito legal. O livro "Nem Doeu (Autopornografia)", da editora MMARTE, conta toda a trajetória dele, que é muito engraçada, e ele tem trabalhos muito interessantes, que é possível comprar pela internet. Inclusive, a gente também trouxe ele para o Animacine, no último Animacine ele foi um dos nossos homenageados.




SERVIÇO


EXPOSIÇÃO ANIMAÇÃO PERNAMBUCANA - 5 DÉCADAS DE HISTÓRIA


Onde: Galeria de Artes SESC Casa Amarela

Av. Norte Miguel Arraes de Alencar, 4490


Horário: 09h às 19h de segunda à sexta

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