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O Fantasma Capturado pela Câmera

Crítica cinematográfica por Joebson José


Trecho do Filme Retratos Fantasmas


“Vou fechar o cinema com a chave de lágrimas”.


Nas transformações do esquecido centro do Recife, o diretor e crítico de cinema, Kleber Mendonça Filho, nos conta sobre os fantasmas que habitam por lá. Retratos Fantasmas (2023) teve estreia especial no Festival de Cannes e conta a história do cinemas de rua que um dia foram cultuados, mas que hoje tornaram-se farmácias ou igrejas, ruínas de templos sagrados para a cinefilia que perderam o seu espaço para as modificações do capitalismo.


O diretor pernambucano passeia por esses lugares, presenciando as transformações na arquitetura urbana, além de dedicar atenção ao grande valor de arquivos e documentos pessoais e públicos.


Dividido em três partes, o documentário sai do micro, a relação de Mendonça com a mãe e a sua casa de infância (também cenário para alguns de seus filmes na década de 90) para o macro, as grandes salas de cinema do Recife, suas construções, auges, quedas e destruições.


Trecho do Filme Retratos Fantasmas


A obra de amor ao cinema do diretor é ainda mais poderosa para quem conhece e acompanha a sua filmografia, especialmente pela relação deste recente trabalho com alguns elementos passados, simbolismos complexos e personagens marcantes, como a participação do cachorro Nico em “O Som Ao Redor” (2012) e o problema com cupins, abordado em “Aquarius” (2016).


Kleber Mendonça Filho também referencia alguns realizadores pernambucanos, como os ilustres Katia Mesel e Cláudio Assis, com destaque para trechos de suas obras mais conhecidas e aclamadas. Também presta homenagem ao cuidador do Cine Art Palácio, seu Alexandre, com quem o diretor conviveu durante a sua juventude e recebeu vários ensinamentos e conselhos sobre o mundo da sétima arte. Sendo ele também quem cita a marcante frase: “Vou fechar o cinema com a chave de lágrimas” durante o longa.


Trecho do Filme Retratos Fantasmas


O documentário possui um belo trabalho de cuidados com restauração de imagens, pesquisa, montagem, trilha sonora e som. Tudo para falar não somente de cinemas mortos, mas também da transformação da arquitetura, disputa do público contra o privado e, principalmente, um relato pessoal e íntimo pela visão de quem presenciou o seu espaço mudar durante várias décadas e não pôde fazer nada.


Em uma mistura entre comédia, ficção e realismo, o diretor, em apenas 1h30, traz um projeto poderoso para expor o seu amor pelo cinema, mas também entrega uma investigação que servirá de referência no campo da pesquisa sobre cinemas de rua no futuro. O filme mostra que os fantasmas dos cinemas mortos do centro do Recife perpetuam em arquivos, relatos, fotos e em memórias, seja com um tom de suspense ou de melancolia.



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