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  • A BRODAGEM NO AGRESTE PERNAMBUCANO

    Mais do que fazer, a paixão de quem preserva o cinema do Super 8, 16mm e 35mm O cinema pernambucano se caracteriza desde os seus primórdios da década de 1920, como movimento de criação coletiva entre amigos. Nesta época o denominado Ciclo do Recife, foi construído através de produções amadoras, onde a equipe de produção e elenco tinham outros ofícios e presente nas relações, a paixão pela sétima arte e aquele tom de “brodagem”, como bem conceitua a escritora e professora Amanda Mansur, na obra A Brodagem no Cinema Pernambucano, (2014). Tal característica se manteve nos movimentos marcantes que sucederam esse período, como a do Ciclo do Super 8, ocorrida entre 1973 e 1983, como também na retomada de produções profissionais pelos idos de 1985, cujo filme o Baile Perfumado desencadeia em grande estilo um leque de grandes sucessos que torna Pernambuco respeitado no cenário nacional e internacional. A mesma paixão de fazer cinema também contagia um outro público que ama preservar. Em duas cidades do agreste pernambucano, pertinho de Caruaru, encontramos dois apaixonados em preservar a história do Super 8, 16mm e 35mm. Em Bezerros, terra do carnaval dos papangus, terra do artista J.Borges, encontramos Edvaldo Mendonça, um servidor público estadual, músico e amante da sétima arte. Um colecionador de filmes, projetores, equipamentos e materiais de cinema. Edvaldo além de colecionador adora exibir para os vizinhos grandes clássicos nacionais e internacionais em sessões animadas na rua onde mora. Se deslocando mais alguns quilômetros, em Toritama, cidade que se intitula a Capital do Jeans do Brasil, tem no cinéfilo Jadiel, um colecionador de câmeras, projetores e materiais de cinema, que tem de cor a história das salas de cinemas de sua cidade e disponibiliza sempre o seu acervo para exibições em festivais e feiras de conhecimentos escolares. Nossa entrevista mergulha nesse universo apaixonante desses dois broders. Por que colecionar projetores, câmeras e demais materiais de cinema? EDVALDO: Para manter viva a sétima arte, o cinema. Através deste material preservamos a memória cinematográfica, assim como funcionam os museus que mantém a memória da humanidade. Além disso, quando mostramos esses equipamentos para às pessoas, estas ficam maravilhadas, como se vissem algo que vem do futuro, enquanto na verdade, estamos "de volta para o passado". JADIEL: Eu coleciono porque meu objetivo é preservar esse material para que as pessoas possam conhecer e entenderem como eram os primórdios do cinema. Conte-nos sobre sua coleção. EDVALDO: Na coleção em Super 8mm, temos 08 projetores (sendo a maioria de marcas japonesas) algumas adquiridas no Brasil e outras no exterior. Possuímos um acervo de mais de 150 filmes, além de carretéis, cartazes e peças para reposição. Na coleção em 16mm, temos 04 projetores, carretéis e mais de 30 filmes. JADIEL: Minha coleção começou no em 2005 na época apenas com um projetor 16mm nacional da marca IEC, hoje entre projetores, filmadoras, pôsteres, documentos e fotos são um total de mais de cem itens. Existe algum item raro, qual o maior achado? EDVALDO: Em Super 8mm possuímos raros filmes, como os de artes marciais, produzidos por uma empresa alemã nos anos 80. Enquanto em 16mm, podemos ver, uma raridade de 1912, que é o 1° filme da Paixão de cristo. Além de um raríssimo filme de minha cidade (Bezerros), que é um documentário de 1938. JADIEL: Um item bastante raro na minha coleção é um projetor Parisiense dos anos 50, trata-se de um equipamento que projeta filmes em 8mm, além disso um equipamento bastante raro de aparecer em sites de vendas e em coleções. Já o meu maior achado foi uma filmadora francesa da marca Pathé baby, essa filmadora utilizava as raríssimas e extintas películas 9.5mm. De onde vem essa paixão? EDVALDO: Essa paixão vem de criança, quando ao entrar pela 1°vez em um cinema, vi um foco de luz vindo do alto em direção à tela; que parecia uma mágica, onde uma luz distante, produzia imagens em movimento... Mas tarde fiquei sabendo, que eram projetores mecânicos com carretéis de fitas, girando numa velocidade sincronizada, de 24 quadros por segundo. Foi na adolescência que consegui adquirir meu primeiro projetor de Super. 8mm e alguns filmes, que com o passar dos anos foram aumentando o acervo. JADIEL: Essa paixão começou na minha adolescência quando eu vi um projetor de filmes que ficava de exposição numa locadora de filmes aqui na minha cidade. Edvaldo, nos conte como é essas exibições de filmes em sua rua. Em várias oportunidades cheguei a reunir a vizinhança em nossa própria rua para algumas exibições públicas de filmes diversos, desde filmes mudos de comédia de Chaplin, que ainda arrancam sonoras risadas do público até os desenhos animados que animam a garotada, mas, observo que o que também chama atenção das pessoas é de fato o barulho característico do projetor e o movimento de seus carretéis. Jadiel, é verdade que nutre o sonho de dirigir um filme? Já teve experiências com produção de cinema? Sim, tenho um sonho de fazer um filme para que as pessoas possam assistir e aprender alguma coisa com meu trabalho. Já tive uma experiência durante as filmagens do documentário Cine Aurélio aqui na cidade, na época trabalhei na captação do som, produção e pesquisa do filme, as atividades coroaram nossa participação no Curso Doc Lab, atividade formativa patrocinada pelo Curta Taquary. Inclusive o filme tem recebido premiações em festivais. Por fim, vocês mantêm contato com outros colecionadores, e se algum leitor ou colecionador desejar manter contato com vocês como fazer? Jadiel: Faço parte, juntamente com Edvaldo de um grupo de WhatsApp de colecionadores e amantes de cinema, onde postamos fotos e trocamos experiências com outros colecionadores do Brasil inteiro. Para fazer parte desse grupo basta entrar em contato comigo pelo meu telefone: 81 99258-3770. Entrevista realizada por João Marcelo.

  • Devotos: Mudando a cidade

    Este vídeo ensaio faz parte do especial 'Devotos'. Roteiro e Edição: Thallyson Silvestre. Veja mais: Indicação: A cena do Punk Rock Hardcore em Pernambuco pelos olhos do Devotos Relato: Devotos da boa-fé: a fé anarquista!

  • Devotos da boa-fé: a fé anarquista!

    Relato por Marcus ASBarr. Foi da tenacidade de Nado, memorável e emblemático vocalista da banda crossover¹ Realidade Encoberta, elo forte e inspirador, que me fez mergulhar na ação direta: passei de público a ativista cultural. Com a entrega de panfletos para o III Encontro Anti-Nuclear², ele criou um momento histórico: possibilitou o conhecer do movimento punk em flerte com a ideologia Anarquista. Ver o mundo da angulação do “faça você mesmo” liberta. Inevitavelmente outro enlace ocorreria, pois a trajetória do atual Devotos iniciou neste mesmo momento, naquele mesmo palco e ainda como Devotos do Ódio. Na noite nublada de agosto, fim dos anos 1980, o então “Devotos do Ódio” foi o descortinar da potencialidade do punk, o despertar para novas formas de expressar ideias, de interagir com a sociedade. Não eram contestações vazias, mas algo vívido, sentido, absoluto comprometimento com a conscientização social. Até os cacofônicos sons da aparelhagem precária nos shows suburbanos — característica do punk — não comprometiam e sim ressaltavam o talento e o vigor, que emanava da palavra, e a sinceridade das palavras se verteria em ações para o “transformar do mundo à sua volta”. Respaldo minha narrativa, após mais de três décadas, indicando leitura de duas letras de momentos extremos do Devotos: “Luz da Salvação” e “Incrédulo”. O essencial fica e a palavra liberta! Mas o estreitamento da relação com o Devotos do Ódio seguiu a passos largos. E o primeiro contato direto com a banda não tardaria, pouco depois daquele impacto inicial em meu primeiro show de punk rock — no qual levei um tombo no meio da roda de pogo e saí ileso comprovando que as pessoas estavam ali não para se agredirem, mas para extravasar energia — estive em outros shows, nos quais fiz questão de dar ênfase à banda para Osman Frazão, que me apresentou a cena underground local e por ser mais headbanger demais na época, não esteve III Encontro Anti-Nuclear. Ele é meu primo e juntos, pouco mais de um ano depois, adentraríamos de vez no ativismo cultural que já praticávamos, só que agora com uma chancela: MaOs Contatos, um organismo de intensivo apoio ao cenário... que de duo não tardaria a se tonar solo. Mantive a marca até meados dos anos 1990. Ambos já fãs confessos do Devotos do Ódio, motivados por nossa primeira ação, ter a banda na próxima investida era uma meta. Seria a sequência para o Nordeste Thrash, que se desdobrou em outra ação na qual a banda também estaria em palco: o Não Papai Noel. Ambas foram frustradas. Na memória ficou marcado o dia em que seguimos ao Alto José do Pinho, sem conhecer nenhum integrante da banda, e ao chegarmos defronte ao endereço chegou também a apreensão e um impasse: se chamávamos Cannibal ou não. Então batemos palmas à moda antiga, não sabíamos a relação da família com a participação dele no movimento punk, mas vivenciávamos a situação. Para nossa surpresa, a irmã dele atendeu e de imediato soltou o grito: “CANNIBAL!”. E logo em seguida, o momento que selaria esta relação ocorreria imediatamente após o fracasso da ação Não Papai Noel, pois no dia seguinte já subíamos o Alto José do Pinho novamente, e desta vez esperando ser trucidados. Parecia que a carga de responsabilidade pelo ocorrido pesava toneladas. Encontramos Cannibal —e uma turma que em breve seriam os novos nomes da cena musical do Alto José do Pinho— na primeira esquina da ladeira de acesso. Uma apreensão ainda maior que num instante se dissipou com uma acolhida onde o entendimento e total empatia com a proposta nos colocariam ladeados seguindo no mesmo sentido. Logo no início passamos de fãs na plateia a vivenciar de perto os primórdios da banda. Estávamos em ensaios, em shows, e buscando todo o tempo dar o apoio necessário na difusão. Uma estratégia era ter matérias na mídia de todo e qualquer show. Para tal, produzíamos fotos e enviávamos releases para os principais órgãos de comunicação, com bons resultados em jornais impressos. Mas parece que as ações do MaOs Contatos estavam fadadas a não darem certo com o Devotos do Ódio, pois ainda uma outra ficou registrada como o pior show na memória da banda: o Nordeste Thrashcore, este realizado em Campina Grande, Paraíba. Daí por diante eu nem sabia mais que papel desempenhava na história: eu me tornei amigo, fã, mas não produtor — embora em alguns momentos este papel coubesse a mim por necessidade de uma representatividade. Orientava apenas, não tomava decisões. Assim, sugeri rejeitarem o primeiro contrato proposto para banda por um selo local. Algo complicado, pois podem pensar: “Loucura! A banda não tinha nada naquele momento”. Mas o que se desenhava era algo grande e condizente com o seu talento. Estava já em evidência total e isso foi se avolumando de uma forma que não se poderia mais sufocar. A minha presença constante ao lado da banda ocasionaria me confundirem até como mais um integrante em alguns momentos, embora só uma vez eu estive no palco e o registro é histórico para mim. Posso assegurar que ainda hoje o talento que me levou a apostar alto — e em certos momentos até me deixar um tanto preocupado com a demora de acontecer — continua a me encantar. Revivi alguns desses momentos como editor do livro Música Para o Povo Que Não Ouve, no qual eu assino o singelo capítulo preambular: “Memórias de um devoto”. O livro está no catálogo da Cepe Editora, e foi lançado em 2018. No processo de editoração, a definição dada ao projeto editorial englobou momentos inéditos da banda, registros históricos tanto do meu acervo quanto do próprio Cannibal, e quando recebi o material ainda bruto do último álbum — trilha sonora enquanto desenvolvia a parte de criação artística para composição do livro — estava tudo lá: in natura, mesmo após tantos anos. E algo que me proporciona um imenso orgulho... de fã. Notas do autor: ¹ Crossover é estilo musical, no caso a sonoridade do Realidade Encoberta, em sua formação original, era a junção do punk hardcore e o heavy-metal. ² III Encontro Anti-Nuclear é o nome da histórica movimentação que recebeu três edições reunindo artistas e ativistas de várias partes do país, grafada originalmente como na época. Sobre Marcus ASBarr: @marcusasbarr (BioDiverCidade Produções) é Ativista cultural oriundo do movimento punk. Produtor Cultural, Compositor e Músico Experimental. Atuante no cenário cultural de música, audiovisual e editorial (projetos gráficos e editoriais; Direção de Arte; Designer; Ilustração; Diagramação; Editor de livro e revistas), com trabalhos publicados no Brasil e no exterior. Assina o projeto gráfico e capa da segunda edição do livro "Pesado" (Wilfred Gadelha), e é Editor, prefaciador e capista do livro "Música para o povo que não ouve" (Cannibal), além de ser personagem em ambos. Criador Visual filiado a AUTVIS.

  • A cena do Punk Rock Hardcore em Pernambuco pelos olhos do Devotos

    Em 1988 nascia a banda pernambucana, Devotos do Ódio (atualmente chamada apenas de Devotos). Formada por Cannibal (voz e contra-baixo), Neilton Carvalho (guitarra) e Celo Brown (bateria), a banda foi uma das principais precursoras do movimento de rock que surgiu em Pernambuco na década de 90. Criada no Alto José do Pinho, bairro periférico de Recife, desde o início da formação, o trio buscava compor letras que denunciavam a desigualdade social, o preconceito e as dificuldade vividas dentro das comunidades. A falta de saneamento, a insegurança, criminalidade, e a pobreza, eram motivos de grandes insatisfações dos moradores do Alto José do Pinho. Então, Cannibal que já participava de passeatas punks e organizava eventos teve a ideia de criar o Devotos e assim denunciar aquela realidade através do que sabia fazer: rock. Devotos faz parte de um grupo que podemos chamar de A consciência da periferia, a voz que cobra melhorias em uma realidade dividida. Ao longo da trajetória, Devotos já lançou oito álbuns em estúdio: Agora tá Valendo (1997), Devotos (2000), Hora da Batalha (2003), Sobras da Batalha EP (2004), Flores com Espinhos, Para o Rei (2006), Póstumos (2012) e O Fim Que Nunca Acaba (2018). Além de um álbum ao vivo em comemoração aos 20 anos da banda, e dois discos de vinil intitulados de Victória (2010) e Demos e Raridades (2011). Um dos grandes sucessos do trio é a música "Eu o declaro inimigo", do álbum O Fim Que Nunca Acaba. O videoclipe da música foi lançada no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), durante a exposição "A arte é um manifesto - 30 anos de Devotos". O clipe tem direção de Marcos Buccini e Thiago Delácio e teve a participação de 127 artistas brasileiros, entre ilustradores, artistas plásticos, designers, animadores e artistas gráficos. No mesmo ano, em comemoração ao aos 30 anos da banda, Cannibal lançou o livro Música Para o Povo Que Não Ouve em parceria com a Cepe Editora. O livro conta a trajetória da banda com fotografias, cartazes de shows, matérias de jornais, e letras de canções inéditas que não chegaram a ser gravadas. Este ano a banda lançou dois singles Nossa História e Orixás: O Rock em Pernambuco O Alto não foi o único lugar de Recife que passava por problemas, vários lugares de Recife viviam e presenciavam uma grande onda de insatisfação e má qualidade de vida. Em 1990, com o declínio econômico no estado, um jornalista do The Washington Posts em passagem por Recife escreveu que a capital pernambucana seria a 4ª pior cidade do mundo para se morar. Pode-se dizer que esse foi um dos gatilhos que gerou um desejo de mudança. Nas palavras de DJ Dolores: "A gente muda de cidade ou a gente muda a cidade. Não temos dinheiro para mudar de cidade, então vamos ter que mudar a cidade". - Fala tirada do documentário Passagens (2019) de Lúcia Nagib e Samuel Paiva. Assim como Devotos, durante a década de 90 surgiram diversas outras bandas que tinham o mesmo objetivo. Nesse período nasce também nomes como Sheik Tosado, Os cachorros, Eddie, Matalanamão, III Mundo, Primeira Dama, Querosene Jacaré, Faces do Subúrbio, Jorge Cabeleira, Comadre Fulosinha, entre outros. Bem como Nação Zumbi e Mundo Livre S&A que tiveram maiores projeções nacionais e internacionais misturando rock e maracatu e falando sobre o mague. Em 1995, Adelina Pontual, Cláudio Assis e Marcelo Gomes se juntaram em um documentário que retratava o dia a dia dos jovens do Alto José do Pinho e como a música mudou suas vidas e a imagem do bairro, antes marcado por sua miséria e marginalidade. A banda Devotos do Ódio, destaque no documentário, foi exemplo, possibilitando mudanças no contexto social do bairro. O filme de 14 minutos firma-se como um registro histórico sobre a cultura marginal do nosso país. O rock pode ter tido origem americana, mas em Pernambuco o ritmo tomou outras faces e foi transformado em um grande mensageiro da realidade e também uma expressão artística de luta e resistência. Acompanhe Devotos nas redes Youtube Instagram Spotify Texto por Hanna Aragão.

  • Galeria "A Peleja do Bumba Meu Boi Contra o Vampiro do Meio Dia"

    Como um esquenta para exibição especial de "A Peleja do Bumba Meu Boi Contra o Vampiro do Meio Dia", de Lula Lourenço e Pedro Aarão, selecionamos algumas fotos tiradas por Germano Coelho Filho (Still e Produção) dos bastidores do filme. Lembramos que o filme ficará disponível por 24 horas no nosso canal do Youtube. Saiba mais sobre as fotos nas legendas abaixo. 1.Luiz Lourenço e Pedro Aarão com Olegário Fernandes em sua barraca onde vendia cordéis na feira de Caruaru; 2.Mestre Galdino gravando seu depoimento em sua casa/atelier. Edinho Moraes na câmera e Wellington Branco na iluminação, que também fez a personagem de Catirina na parte filmada em Super-8 - Caruaru; 3.Germano Coelho Filho (Still e Produção), Pedro Aarão, Manoel Galdino, Edinho Moraes (câmera), Luiz Lourenço e Bela Leite (assistente de produção) - Caruaru; 4.Mestre Otilio com um mamulengo em sua residência na gravação de seu depoimento e performance para o filme - Caruaru; 5.Exibição do filme em 1988, no Centro Interescolar Luiz Delgado, no Parque 13 de maio - Recife; 6.Feira de Caruaru em 1982; 7.Mestre Gercino em foto da gravação em vídeo do Boi na praça Coronel João Guilherme - Caruaru; 8.Guiga Melo, ator que desempenhou magistralmente o papel do vampiro, na gravação de seu depoimento para o filme.em sua residência fazendo a massa do pão integral que vendia para sobreviver com a família - Caruaru; 9.Foto de cena no circo - Caruaru.

  • Um filme histórico e heroico sobre a peleja da cultura popular

    Alguns filmes tem a hora, o lugar e as pessoas certas. No início dos anos 80, no agreste pernambucano, dois amigos se uniram a outros amigos e fizeram história com o pouco que tinham ao alcance. ‘A Peleja do bumba-meu-boi contra o vampiro do meio-dia’, dirigido por Luiz Lourenço e Pedro Aarão, ao que tudo indica, é o primeiro filme realizado na cidade de Caruaru, interior de Pernambuco. Tudo começou em 1981 quando as filmagens foram iniciadas na marra com o uso de câmeras Super-8. Por dificuldades técnicas e financeiras, o trabalho foi interrompido e retomado cinco anos depois, agora utilizando também o formato u-matic. Um filme-vídeo histórico e heróico sobre a peleja da cultura popular. Esta é uma possível interpretação para uma obra que desperta curiosidade e muitos significados. Com uma pegada documental e ficcional, A Peleja tem uma proposta ousada e necessária que se reflete nos depoimentos dos artistas populares de Caruaru, e sobretudo, na imagem do vampiro. Logo de cara somos apresentados a uma paisagem escura e repleta de lixo, uma placa traz os dizeres: Terceiro Mundo. É um prenúncio do que está por vir, A Peleja tem uma mensagem direta, simbólica e com margem para muitas interpretações. De forma poética e metafórica, a narrativa traz a cultura popular (o bumba-meu-boi) em um duelo contra os poderes político e econômico (o vampiro). A caracterização do vampiro se assemelha à imagem de Tio Sam, um dos símbolos dos Estados Unidos. O vampiro aparece em várias situações dentro da narrativa - como se quisesse nos lembrar dos inimigos que nos cercam cotidianamente. Ele está nas ruas da cidade, na feira, atacando um senhor na fila do banco, ele tem posses e um aspecto teatral em sua presença marcante. Os depoimentos de nomes históricos da cultura popular são significativos. Mestre Galdino (ceramista e poeta), Antônio Medeiros (ator e diretor), Olegário Fernandes (poeta e editor), Mestre Gercino (bumba-meu-boi), Tavares da Gaita (músico e artesão), Mestre Otilio (mamulengueiro) e Francisco Sales Areda (poeta). Em cada fala um testemunho das dificuldades de quem faz a cultura popular, uma dificuldade do passado que persiste no presente. E como é importante ouvir cada depoimento. A Peleja nos permite ver e ouvir estes mestres e poetas que tinham muito a dizer. O filme é um registro histórico destes personagens e do trabalho realizado por eles, é também um registro histórico de Caruaru, uma cidade que se transformou completamente com o passar dos anos. As cenas do vampiro caminhando pelas ruas da cidade, subindo as escadas e olhando para a feira são memoráveis. A presença de tanta gente com o Boi Tira-Teima na rua, no duelo contra o vampiro, é de arrepiar. Há muito para se emocionar ao assistir ‘A Peleja do bumba-meu-boi contra o vampiro do meio-dia’. Uma das maiores emoções vem da própria existência do filme e da coragem que Pedro e Luiz tiveram para criar uma obra autêntica. A Peleja não existiria com a mesma paixão e verdade pelas mãos de outros diretores. Os dois tinham o olhar e as experiências que a obra necessitava para existir. Eles tinham o sonho de fazer o filme, e hoje, 40 anos depois, o filme ainda nos inspira a sonhar, criar e refletir sobre a nossa cultura. . . Referências: A PELEJA DO BUMBA-MEU-BOI CONTRA O VAMPIRO DO MEIO-DIA. Direção: Luiz Lourenço e Pedro Aarão. Pernambuco: 1986. DVD (30 min) SCHWARZ, Ana. Entrar e sair da tela: uma viagem móvel. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Pernambuco, Pós-graduação em Antropologia no Centro de Filosofia e Ciências Humanas, 2002. Texto por Mª Clara Mendes.

  • Memórias de um Filme Cult Popular

    Por Luiz Lourenço. Em 1981, o Brasil era governado por João Batista de Figueiredo, o 5º general no poder da ditadura militar que durou 21 anos. Nesse período havia censura que impedia a circulação livre de ideias, de peças de teatro, livros e filmes. Pessoas eram sequestradas sumariamente, interrogadas, torturadas e mortas pelo regime militar. Justificava-se que havia uma invasão comunista para tomar o poder político. Na UFPE onde estudei Comunicação Social, engajei-me na luta do movimento estudantil, quando fundamos o Diretório Acadêmico Livre de Comunicação e fui eleito como 1º presidente, em 1979. A ideia de fazer o filme, surgiu a partir do reencontro com Pedro Aarão, que havia passado uma temporada em São Paulo trabalhando com produção de Teatro e música. Havíamos participado do Cineclube Lumière criado por um grupo de intelectuais de Caruaru e presidido por Pedro Aarão. O Centro de Pesquisa e Documentação da Fafica, dirigido pelo sociólogo e professor Ivan Brandão junto com o Cineclube promoveram um curso de como operar câmeras de super-8. Fortemente influenciados pela estética e política do Cinema Novo brasileiro, além de filmes do Neo-realismo italiano de diretores como Fellini, Antonioni, Bertolucci, De Sica, e do novo Cinema alemão como Fassbinder, Schlondorff, Wim Wenders. O processo do filme começou com uma enquete que fizemos na feira de Caruaru, munidos de um gravador cassete, conversando com os feirantes. Partimos então para escrever o roteiro do filme com o mote de uma peleja imaginária do povo contra os poderes local, nacional e internacional. As dificuldades eram enormes, pois não tínhamos fonte renda na ocasião e nem havia políticas, editais nem leis de fomento para a produção cultural. A realização do filme arregimentou artistas de vários segmentos e gerou diversos tipos de reação, quando filmávamos em locais públicos, como por exemplo na frente da igreja da Conceição onde chegamos a ser apedrejados. As dificuldades técnicas surgiram quando filmamos as cenas da peleja cantada e encenada entre o Bumba meu boi e o vampiro a partir dos versos do poeta Francisco Sales Areda e musicados por Jadilson Lourenço. Não tínhamos experiência nenhuma com captação de som direto nem equipamento compatível com o desafio. Essa dificuldade gerou um impasse na hora que partimos para montar o filme porque a qualidade do som captado não tinha inteligibilidade para passar a mensagem que queríamos. Aí houve uma interrupção no processo de feitura do filme. Durante a montagem do filme em Recife que teve a inestimável colaboração de Douglas Tabosa de Almeida, surgiu a possibilidade de trabalhar com audiovisual na Prefeitura de Olinda. Passaram-se então 5 anos até que reuníssemos condições técnicas para gravar em estúdio para dublar as partes cantadas da peleja. Paralelo a isso foi um tempo de redefinição do roteiro do filme quando resolvemos agregar uma parte documental gravada em vídeo. Houve toda uma discussão com os artistas focados para que eles entendessem o processo do filme. Fizemos uma exibição do material até então filmado numa sala de exibição de um videoclube que ficava na av. Agamenon Magalhães. Nós conseguimos locar por uma diária o equipamento da Massangana Vídeo da Fundaj para que num único dia gravássemos todas as participações. A edição do material foi possível na TV Universitária de Recife, onde eu trabalhava e pegava no equipamento em sessões de edição pela madrugada adentro. O filme foi inscrito no Festival do Maranhão e chegou lá no dia da exibição, quando o júri já havia deliberado sobre as premiações e quando viram o filme tiveram que refazer e outorgaram 4 prêmios na estreia do filme. Na sequência o filme participou do I Festival de Vídeo Independente de Fortaleza onde recebeu 3 premiações. Na Bahia, onde o filme participou da jornada Internacional de Cinema e Vídeo, ganhou o Tatu de Ouro de Melhor direção. Fizemos uma sessão de estreia concorridíssima para a classe artística no auditório da Fundação de Cultura de Caruaru e uma outra para o público em geral no Teatro João Lyra Filho. A principal exibição pública que fizemos foi na Feira de Caruaru, na praça Coronel João Guilherme, onde ficava a feira de artesanato na época. Montamos nesse local na noite da sexta até a madrugada do sábado, uma barraca de campanha com televisores para todos os lados exibindo continuamente o filme e fizemos toda uma mobilização com artistas que passaram o dia se revezando em apresentações. Levamos ainda de Recife o tradicional Maracatu Leão Coroado, ainda comandado pelo Mestre Luís de França. Como ainda não havia emissora de TV local em Caruaru, conseguimos que a Rede Globo Nordeste pautasse o evento e deslocasse uma equipe de Jornalismo para exclusivamente cobrir o evento. Houve então uma repercussão bastante importante do filme nessa ocasião. Daí vieram os projetos de circuito de exibição nas comunidades de Caruaru, nas escolas públicas do estado em Recife e seguiu com estrondoso sucesso no projeto Arte nas Praças criado e produzido pelos queridíssimos amigos Prego e Ione, que deu uma grande visibilidade aos artistas participantes. O filme circulou em treinamentos de professores do ensino médio de escolas públicas, em turmas de alfabetização de adultos, em seminários dos Mestrados de sociologia e antropologia da UFPE, foi traduzido e legendado em inglês e espanhol. Gerou uma dissertação de Mestrado em Antropologia na UFPE, pesquisa realizada por Ana Schwartz. 40 anos depois do início dessa história, ao atravessar diversas mudanças tecnológicas na captação/edição de imagens/som, o filme-vídeo precisa de uma restauração pois as sucessivas transcrições de um sistema para outro, provocou uma deterioração das imagens/sons do filme. Sendo muito necessária uma ação restauradora para sua preservação para que ele siga fazendo história. O jornalista e antropólogo Celso Marconi que escrevia sobre cinema numa coluna no Jornal do Commercio classificou “A Peleja do Bumba meu boi contra o vampiro do meio dia como um filme “cult popular” pela circulação alternativa que conseguimos imprimir em vários meios e públicos. Seguiu-se exibições numa sala de vídeo da Fundaj no Derby. Fizemos uma pequena temporada no Cine Bajado em Olinda que ficava no Clube Atlântico de Olinda. Importante ressaltar a participação dos artistas nos debates que se seguiam às exibições. Destaco as presenças muito fortes e desatinadas do Mestre Galdino, Olegário Fernandes e Francisco Sales Areda, que nos debates conseguiam criar maneiras de refletir sobre o filme que iam além dele. Cito ainda outros não menos importantes que deixaram suas marcas em nossas vidas como Mestre Gercino e Dona Lindaura do Boi Tira-teima, Mestre Otílio, Antônio Medeiros, Tavares da Gaita, Carlos Sá, Iran Barreto, Nal, Marconi Edson entre outros. Quero dar um destaque todo especial ao grande amigo e parceiro de todas as horas na produção do filme, o ator Guiga Melo que hoje mora no Norte e que fez brilhantemente o papel do vampiro. Queria também citar o sociólogo e professor Ivan Brandão que foi de inestimável valor, pois sem ele nós não teríamos vencido as barreiras da incompreensão que cercavam nosso trabalho. O padre Pedro Aguiar com seu espírito humanitário nos legou muitas lições. Nosso amigo e parceiro Germano Coelho Filho que fez um still impecável de toda segunda parte do filme. E por fim, mas não por último, precisamos trabalhar filmes que coisas importantes não caiam no esquecimento, e não justifiquem o bordão que “o Brasil é um país sem memória”. Parabenizo o trabalho da equipe da Revista SPIA que provocou quase uma escavação arqueológica para desenterrar um passado que poderia ficar enterrado e esquecido ad infinitum. Ressalto a importância de termos uma universidade pública no Agreste Pernambucano que cumpre seu grande papel de fomentador do desenvolvimento regional e de aglutinador de vivências e experiências. Lutemos por mais verbas para as universidades públicas. E educação, mais educação, sempre educação. É o melhor legado que podemos ofertar para as próximas gerações, contra a ignorância, o obscurantismo e o subdesenvolvimento. Vida longa para a Revista SPIA!

  • 40 anos de uma história que se repete

    A Spia conversou com Luiz Lourenço e Pedro Aarão sobre o filme e o atual cenário em que a arte se encontra. Há 40 anos, começava a ser filmado em super 8 o filme "A Peleja do Bumba meu boi contra o vampiro do meio dia" de Luiz Lourenço e Pedro Aarão. Um processo demorado, que só foi finalizado cinco anos depois, mas que valeu muito a pena. O filme fala sobre a peleja que artesãos e artistas caruaruenses enfrentam diante da desvalorização do trabalho e da cultura em Caruaru, Agreste de Pernambuco, e é tão elogiada mundo afora. Hoje, 40 anos depois, as dificuldades que esses trabalhadores enfrentam ainda são as mesmas, na verdade, talvez estejam maiores. Para homenagear esse filme que diz tanto sobre o presente, a Spia entrevistou os dois realizadores do filme que falaram sobre como foi o processo de produção, o contexto atual e as adversidades para quem faz arte e cinema de modo geral. A pandemia nos confinou em casa e mudou o rumo de muitas coisas. Como está sendo esse período para vocês? Luiz Lourenço (LL): Está sendo muito difícil. Principalmente para quem mora só, como eu. E também para quem como nós que pertencemos ao grupo de risco. Sinto falta do trabalho presencial, estou tentando me adaptar ao trabalho remoto, o que nem sempre é fácil e adaptável. Por outro lado, tenho tido mais tempo para ler coisas que nos tempos ditos normais não pararia para fazê-lo. Agora tem o lado ruim que são as perdas, as ausências, faz um ano e meio que não vejo minha família que mora em Caruaru. Não pude ir ao enterro de minha mãe pelo nível de contágio que estava na Região Agreste, um ano atrás. Pedro Aarão (PA): A pandemia está sendo muito ruim. O isolamento, o stress, ficar em casa sem poder sair nem receber visitas. Mas de uns anos pra cá, venho melhor dividindo o meu tempo, priorizando o meu bem-estar. Cuidando do meu corpo, da minha mente. Procurando acompanhar as programações dos teatros, do cinema e principalmente a literatura que foi fundamental para encarar esta pandemia. Quando foi que o cinema entrou na vida de vocês? E em que momento vocês começaram a fazer cinema? LL: Meus pais eram cinéfilos, mas foi meu irmão Jadilson quem me levou pela primeira vez para o Cine Santa Rosa que ficava pertinho da minha casa. O filme era um desenho animado tipo Walt Disney. Eu era muito pequeno e aquela experiência tomou conta de mim e comecei a reagir às situações do filme, mas fazia muito barulho e meu irmão contou que isso estava incomodando a plateia. Um de meus irmãos, o Jonas, comprou um projetor de cinema, quebrado e que veio acompanhado de um único filme. Ele é muito habilidoso e fabricou uma peça de madeira que faltava para o projetor funcionar. Ver esse filme dentro de casa foi uma das coisas mais marcantes da infância. Minha iniciação em fazer cinema se deu com o curso de manusear câmeras de Super-8, ministrado por um Padre Marista na FAFICA em 1975. Depois de um dia teórico do curso, saímos num domingo para fazer imagens no Monte do Bom Jesus. As imagens que eu havia feito nessa primeira vez, chamou a atenção de Ivan Brandão que passou a me convidar para fazer documentações de eventos culturais e religiosos para o CEPED que era o Centro de Pesquisas e Documentação. Foi minha entrada nesse universo do fazer cinematográfico. PA: O cinema em Caruaru tinha uma programação dinâmica. Eram 3 salas de projeção: o Cine Caruaru, o Cine Santa Rosa e o Irmãos Maciel, funcionavam diariamente, com as mudanças de programação na sexta. Sempre que podia estava no cinema. Quando criança assistia Bang-Bang. Quando eu tive a oportunidade de assistir às mostras de Super-8 no Recife, me despertou o interesse em produzir. Já se passaram 40 anos do início da aventura que foi realizar ‘A Peleja do bumba-meu-boi contra o vampiro do meio-dia’. Tanto tempo depois, o que significa ter feito este filme? LL: Fazer A Peleja foi a coisa mais importante da minha vida. Foi o maior desafio fazer um filme nas condições que fizemos. Um dia estávamos na rodoviária de Caruaru indo para Recife quando surgiu a ideia de fazer o filme. Lembro que eu tinha alguns cartuchos de Super-8 com o prazo de validade vencido. Não tínhamos câmera, mas consegui emprestado três câmeras para fazer o filme. Era uma ideia na cabeça, um roteiro e uma câmera na mão. Muito influenciados pelos filmes de Glauber Rocha principalmente. E hoje, tanto tempo depois, saber que ele continua sensibilizando as pessoas, é muito gratificante. PA: Hoje quando participo de uma projeção da Peleja vejo que valeu a pena, todo o trabalho, porque o tema levanta questionamentos até hoje, mostrando a atividade do filme. A Peleja do bumba-meu-boi, está no imaginário dos artistas de Caruaru, uma das últimas apresentações da Peleja no Alto do Moura deu problema com o equipamento de projeção, mesmo assim, houve um debate muito significativo sobre a realidade do Alto do Moura. A Peleja foi um marco na mobilização de todos os segmentos da cultura de Caruaru, mostrando que a organização política poderá com empenho, determinação, alcançar melhores dias para a Arte, mostrando o cinema como objeto de transformação da sociedade. Vocês acham que o filme dialoga com o que estamos vivendo atualmente? Com o desmonte e a desvalorização da cultura. E sobre Caruaru, como vocês veem a cultura da cidade nos dias de hoje? LL: Infelizmente, sim. Digo isso porque gostaríamos que fosse diferente, que isso fosse apenas um passado distante onde a gente revisitasse através do filme. Estamos vivendo uma crise de poder, principalmente pela falta de caráter humanitário. Vivendo um desgoverno sem precedentes na história com um ditador/genocida que utilizou de mentiras para conquistar um eleitorado bombardeado através de mídias sociais e uma mídia convencional que contou meias verdades e é responsável pelo descrédito da população com a política. A cultura da cidade [Caruaru] não mudou muito. São grupos políticos que se revezam a anos no poder com visões parecidas e hegemônicas da cultura local. Houve um crescimento enorme do São João da cidade e só. Não vejo artistas como Galdino com um acervo público significativo que difunda a sua genialidade. De onde surgiu a referência para o personagem do vampiro? O que este personagem representa simbolicamente? LL: A referência do vampiro é própria do cinema mundial em filmes do Expressionismo Alemão como “Nosferatu” (1922) de F.W Murnau, Dança dos Vampiros (1967) de Roman Polanski e “Nosferatu, o vampiro da noite” (1979) de Werner Herzog. Trouxemos a referência para a realidade local e transmutamos para um personagem que suga as suas vítimas em plena luz do dia, em diversas situações cotidianas com a cena do velhinho na fila do Funrural na frente do banco, que era uma fila real onde introduzimos os personagens. Representa também o capitalismo selvagem dos Impérios-Nações que vivem da riqueza espoliada de países do Terceiro Mundo. É chocante para mim ver as cenas de travessia que presenciamos quase cotidianamente de tentativas de migração de pessoas de países arrasados pelas guerras, fome, intempéries da, etc. E maior ainda a postura desumana desses impérios responsáveis pela apropriação de riquezas e fomentador de genocídios por todo o planeta. A construção de muros e barreiras migratórias é só a “ponta do iceberg” da globalização da miséria humana. Por muito tempo, quando se falava de um cinema feito em Pernambuco, era na verdade um cinema feito no Recife. Para muitos é uma surpresa a existência de uma obra como A Peleja. Qual foi a maior dificuldade de se fazer um filme no agreste pernambucano? LL: Talvez a maior dificuldade seja, ou era, a falta de compreensão do que podemos fazer. A questão do colonialismo cultural a que nos referimos no filme, quando usamos imagens de heróis americanos nos quadrinhos, é a de se reconhecer dentro desse caldeirão multi-étnico em que estamos mergulhados. O cinema brasileiro passou muito tempo com o complexo vira-lata, pois sofremos com um domínio econômico-cultural que ditava qual eram as condicionantes para ter um filme “de verdade”. O filme nacional foi por muitos anos confundido com “mal-feito”, “escrachado” e tecnicamente ruim. Com o avanço e desenvolvimento de várias tecnologias quebrou-se vários tabus que impediam que mais pessoas tivessem acesso a um aparato técnico e estético alternativo ao modelo hollywoodiano de fazer cinema que exige milhares de dólares na produção, divulgação/distribuição e no fomento de um star system cada vez mais restrito e excludente racialmente. Qual conselho vocês dariam aos jovens de Caruaru que querem fazer cinema? LL: Pra começar eu diria que não há modelo a ser seguido. A gente primeiro se reconhece como indivíduo dentro de um espaço/tempo inserido numa cultura híbrida, e procura buscar referências de originalidade que é o que conta. Sou absolutamente contra os modelos de sucesso. A gente sempre foi muito influenciado pela linguagem do cinema americano. Precisamos observar que existem várias cinematografias no mundo, do presente e do passado que podem nos auxiliar nas escolhas narrativas. Há certamente, junto com o acesso à procura de imagens/sons uma grande banalização do discurso audiovisual, na qual não podemos cair. Para mim é tão importante referências como o filme “Limite” de Mário Peixoto (anos 1930), como “Terra em Transe” (1967) de Glauber Rocha e “Cabra marcado para morrer” (anos 80) de Eduardo Coutinho. PA: Hoje a produção tem leis de incentivo que de algum modo facilita a produção. Mas o problema é mesmo a falta de mercado para escoamento da produção. Mas quem pretende produzir tem que encarar esta realidade. Vocês estão trabalhando em algum projeto no momento? Quais são os planos para o presente e futuro? LL: O último projeto de filme que fizemos foi um que inicialmente ia ser uma curta de meia-hora financiado pelo Funcultura e que acabou virando um longa-metragem e minissérie de 5 episódios chamado “O Reinado de Lampião no raso da Catarina", documentário sobre a trajetória do rei do cangaço com foco nos dez anos que ele viveu na Bahia. Devido ao escasso orçamento levamos seis anos para concluir e tivemos dificuldade para difundi-lo. A minissérie exibida na TV universitária sofreu com a pouca divulgação, precisando de um contexto mais favorável para sua difusão. A pesquisa do filme é de Pedro Aarão, dividimos a autoria do roteiro e eu fiz a direção. Por fim, gostariamos que cada um de vocês definisse A Peleja em uma palavra. Luiz Lourenço: Resistência. Pedro Aarão: Luta Entrevista por Hanna Aragão e Maria Clara Mendes.

  • Destaque julho 2021: A Peleja do Bumba-meu-boi contra o Vampiro do Meio-dia

    Filme rodado em Caruaru há 35 anos atrás e retrata a luta da cultura contra os poderes. Para o destaque de Julho escolhemos uma produção filmada em Caruaru há 35 anos. Um filme vídeo de 30 minutos sobre a relação de produção do nível da cultura popular, a partir das alegóricas figuras do bumba meu boi, encarnando o povo contra o poder econômico, na figura mitológica do vampiro. A Peleja do Bumba-meu-boi contra Vampiro do Meio-dia é uma produção de Lula Lourenço e Pedro Aarão, com participação de Tavares da Gaita, Manoel Galdino, Francisco Sales Arreda, Mestre Gercino. Olegário Fernandes e Antônio Medeiros. . . O cartaz e o folder foram feitos por uma estudante de Design da UFPE chamada Elvira de Paula no ano do lançamento do filme em 1986.

  • São João 2021

    O São João é uma festa de mãos, chuvas e memórias. Em mais um São João na pandemia, a nossa colaboradora Maria Clara Mendes registrou o que continua existindo de significativo no dia de festa em Catende, Mata Sul de Pernambuco.

  • Causos e contos: O São João na memória

    Conheça pessoas e histórias que aconteceram no São João de Caruaru. A festa junina é uma tradição muito comum em todo o país, principalmente no nordeste. Cada estado abraça o mês de junho e realiza festas de São João de acordo com suas tradições. Mas é em Pernambuco, em uma cidade do Agreste do Estado, que a festa realmente toma proporções gigantescas. É em Caruaru, que acontece o maior e melhor São João do Mundo. O São João é um pedaço de Caruaru, a festa não é só uma das mais populares como a marca registrada da cidade que carrega o legado de ser a Capital do Forró. Uma tradição que começou com pequenas palhoças de rua, se tornou gigante, ganhou o Pátio do Forró e vários outros pólos de festa na cidade inteira. Quando Jorge de Altinho canta: “É a capital do forró, é a capital do forró, é por isso que Caruaru é a capital do forró”, ele não estava brincando. Essa festa faz parte da cultura caruaruense e já foi palco de muitas aventuras, amores e surpresas. Pensando nisso, a Revista Spia resolveu ir atrás de algumas histórias vividas durante o São João de Caruaru. Esse será nosso jeito de manter a fogueira de São João acesa em nossos corações, até o dia em que poderemos celebrar e forrozar novamente. Considerações importantes, caso você não seja de Caruaru, alguns termos e lugares apareceram nas histórias e pode ficar difícil o entendimento, por isso, sugerimos que leia as notas no final de cada história. Além disso, a Spia optou por deixar a história no formato original que nos foi mandado, algumas coisas são boas demais para serem editadas. Confira: Luis - A missão de ir ao banheiro É uma história muito básica. Basicamente, eu tenho uma missão, que é a missão de ir ao banheiro. O pátio está muito cheio, era show de Marília Mendonça. Daí, que que eu faço? Eu me segurei em Ronaldo, que estava indo ao banheiro comigo, e começo a fingir que estava passando, comecei meu teatro. Ronaldo é uma pessoa muito doida, aí ele começou a abrir espaço dizendo: “SAI DA FRENTE, TÁ PASSANDO MAL”. E eu dizendo, “eu tô passando mal”, a gente continuou indo e eu revirando os olhos, me concentrando muito nessa tarefa de passar mal e Ronaldo me arrastando. Quando a gente chega ao banheiro, eu volto a ser uma pessoa plena. Ele olhou pra mim e perguntou, o que foi isso? Daí eu digo, tava fingindo. Ele fica puto comigo, mas enfim. Na semana seguinte, eu encontro a minha tia. E ele me pergunta se eu estava passando mal no pátio, o que tinha acontecido. Ai ela me conta que estava desesperada no pátio, porque ela me avistou de longe, passando mal, tentou me encontrar, não me achou, chamou os bombeiros, não sabia onde eu estava, ninguém entendendo o que estava acontecendo. Ela ficou até o final do show de Marília, do lado de fora na saída esperando pra ver se eu saía, e eu como se nada só fingindo que estava mal. *Pátio do Forró: Palco principal do São João de Caruaru. Batizado de Pátio de eventos Luiz Gonzaga, o local é o maior símbolo do São João da cidade. Gabriel - uma quadrilha no meio do Pátio Eu estava num grupo de umas 15 pessoas no Pátio do Forró em 2019. Era o show de Raí Saia Rodada. Depois de muita bebida, a gente inventou de montar uma quadrilha no meio da festa. E como era muita gente (mais gente foi se juntando), todo mundo ficou olhando sem entender nada. Mas foi com direito a túnel, “olha a cobra” e serrote. Não me pergunte como a gente conseguiu naquele aperto, mas me senti de volta à escola naquele momento Ade - Show da banda Kitara Apesar de não ser de Caruaru, durante toda a minha infância eu passei as festas de fim de ano aqui, com voinha*. Por isso o São João aqui foi por muito tempo um mistério pra mim, porque por mais que eu frequentasse a cidade em outra época, a energia junina exala das ruas e pessoas e suas histórias. Eu sabia que eu estava na cidade do maior São João do mundo, mas pra mim, ainda eram só histórias. Foi em 2014, quando vim de fato morar com voinha, que passei a viver Caruaru e a sentir a energia junina de verdade. Agora eram minhas histórias. E de tantas vividas, desde romances no Alto do Moura, a lágrimas assistindo as quadrilhas, escolhi uma lembrança mais recente: a do nosso último São João antes da catástrofe, em 2019. Era uma quinta-feira, dia 20 de junho, mais um dia normal de São João se arrumando na casa de um amigo, fazendo o famoso esquenta antes de ir pra festa. Como a casa desse amigo é mais próxima do palco Azulão*, fomos direto pra ele. Hoje eu não lembro a sequência de shows, mas eis que a banda Kitara entra no palco. Tomado por muitas emoções (álcool, um romance mal resolvido, amigos e São João), acabei subindo no palco. Também não me pergunte como, mas foi pela frente. Daí em diante foi uma overdose de adrenalina. Embaixo, os amigos filmavam e gritavam. Em cima, eu aproveitava. Apesar de muitas coisas ainda terem acontecido nesse mesmo dia, subir em cima do palco em pleno maior São João do mundo vai continuar sendo uma lembrança que nunca vou me esquecer. *Polo Azulão: É o palco alternativo do São João de Caruaru, geralmente recebe atrações diversificadas. Carina - São João no sangue e no coração Eu sou da região Sudoeste da Bahia e na minha cidade são tradicionais as festividades dos santos juninos, Santo Antônio, São João e São Pedro, cada um por uma comunidade específica. Tenho muito forte em mim as memórias do São João que era organizado por meus pais na minha casa, quando criança. Em especial, do ano que decidiram ser o último. A tradição era tão forte que, mesmo que eu fosse bem novinha, 8 anos, minha mãe conversou comigo meses antes avisando que seria nosso último ano comemorando daquela forma, porque íamos nos mudar. Por isso, ela disse que eu poderia escolher os detalhes do que ia acontecer. Decidi o nome que queria, as comidas que não poderiam faltar. Não era nada grandioso, mas era o momento do ano mais aguardado por mim, desde acompanhar a montagem da fogueira, na véspera, a usar as cinzas da fogueira, na manhã seguinte, para assar milho, batata doce. Todo ano, nessa época, é impossível não lembrar das pessoas que costumávamos confraternizar e a dedicação de todos em construir aquele momento. Vitória - O amor nasce no São João Vitória e Aldenio se conheceram na escola, mas nunca se falaram. Um dia, no final do terceiro ano do ensino médio, Aldênio conseguiu o número dela e eles começaram a conversar pelo WhatsApp, a gente começou a conversar. Quando a escola acabou, Vitória viajou e passou três meses fora do país e Aldênio ficou em Caruaru, apesar da distância, os dois continuaram conversando. Ela voltou em março de 2014 pra casa, e eles continuaram apenas conversando. Em junho, o São João começou e ela perguntou se ele não queria ir para o pátio com ela. Ele já estaria lá com alguns amigos e marcaram de se encontrar. Eles se encontraram com seus respectivos grupos de amigo, na frente da estátua*, entraram no pátio e ficaram bebendo, dançando e cantando. Quando começou o show de Dorgival Dantas, Camila, prima de Vitória, incentivou que ela ficasse com Aldênio, mas Vitória teve medo de achar que não seria correspondida. No entanto, o seguinte diálogo aconteceu. Camila: Tu quer beijar ela [Vitória]? Aldênio: Só se for agora! E o beijo aconteceu! No restante do mês, os dois não se desgrudaram mais e continuaram juntos. Até que Vitória perguntou o que era que ele queria com ela, se era alguma coisa séria ou não e ele disse que sim. Depois de três longos meses, sem estar definitivamente namorando, no dia 15 de agosto, Aldênio pede Vitória em namoro e na mesma semana conheceu os pais dela. Esse amor nasceu numa festa de São João e já dura 6 anos. David - Luan Santana e o jogo da copa Eu sou jornalista e trabalhei no São João de Caruaru durante 17 anos, antes de começar os shows tinha uma coletiva de imprensa com os artistas para saber as expectativas para a noite, etc. Em 2014, Caruaru receberia Luan Santana, um dos shows mais esperados da noite. Então, estava esperando ele para coletiva de imprensa e era ano de copa, estava acontecendo um jogo e tinha algumas pessoas assistindo o jogo na sala de imprensa. Todos estavam assistindo o jogo quando Luan chegou e perguntou se podia sentar para assistir o jogo com a gente. Ele sentou em uma cadeira ao lado da minha. Na hora eu não percebi que era ele, e só falei “pode sim, senta aí”. Depois de alguns minutos eu percebi que era ele do meu lado. Infelizmente ele não continuou assistindo com a gente porque colocaram a TV no camarim dele. Artur - São João, um quase artista de rock e um bêbado O ano era 2013, se não estou confundindo. Tinha quase 15 anos e era a primeira vez que eu ia ao São João aqui em Caruaru e, junto a Lucas e Bruno, decidimos ir ver os shows do Palco Alternativo, hoje Polo Azulão. Na época, o palco era montado dentro do galpão da estação*, mas a empolgação de estar ali pela primeira vez fez com que a gente desconsiderasse o calor. Então que vem a memória que decidi contar: Jonathan Richard. Em algum momento do show, ele decidiu descer do palco para tocar no chão, junto ao público, até que se empolgou no momento do solo e começou a tocar deitado no chão. A performance por si só já seria memorável – ainda mais alguém vendo aquilo na primeira vez no São João – se não fosse um homem (bastante bêbado) que decidiu cruzar o galpão bem nesse momento. Ao ver Jonathan deitado no chão solando, não teve dúvidas, deitou junto e começou a “tocar” sua mochila como se fosse uma guitarra também. *Galpão da Estação: A estação é a antiga estação ferroviária de Caruaru. Antes de existir um palco para o polo alternativo, os shows aconteciam na estação.

  • Equipe Spia: "Ai que saudades que eu sinto das noites de São João"

    A data de hoje é muito significativa para a SPIA e ela não poderia deixar de ser lembrada. Tradição do lugar onde nascemos, resolvemos direcionar o conteúdo dessa semana apenas para esse dia. Todo o material produzido hoje é de memória e afetividade. Nesse, pedimos para cada membro da equipe rememorar uma foto e uma canção sobre a data. Para nós, lembrar dos bons momentos que passamos nesse mês tão especial é um modo de deixar acesa a “fogueira de São João”. Feliz São João! Ade Queiroz : Pagode Russo, Luiz Gonzaga A gente sabe que São João tem milho e derivados, fogos, roupa xadrez, fogueira, forró, e mais um ano a gente percebe o quão tudo isso faz parte de uma imensidão de elementos, que no final das contas, precisa da união de pessoas para fazer sentido. E pra escolher uma música que representasse meu sentimento junino esse ano, minha memória me levou direto pra Pagode Russo, do rei. Pra mim, ela sintetiza todas as quadrilhas que dancei, todas as fogueiras em que me esquentei e assei milho, e todas as pessoas que viveram esses momentos comigo. Não individualmente, mas, sim, as aglomerações. Tem sonho, tem dança, tem boate, tem cai não cai. Ela fala dessa vontade que a gente tem de festejar junto. Por enquanto, muitos sonhos (inclusive por uma boate e pela vacina) e mais ainda saudade. Na foto (1), eu em 1999. Hanna Aragão: Te faço meu cafuné, Dominguinhos Escutei muito essa música em 2019 na versão de Mariana Aydar, ela tocou a música no Polo Alternativo no dia 24 de junho. Foi um show muito bom e eu dancei muito forró. Em 2019, aproveitei o São João, menos do que gostaria, mas quase como se eu soubesse que seria o último. Na foto (2), um registro do show de Mariana. Maria Clara Mendes: São João triste, Trio Nordestino As músicas de forró trazem histórias encantadoras e intrigantes sobre amores, festas e costumes. Descobri a música São João Triste enquanto organizava uma playlist para ouvir no mês de Junho. Os arranjos, a história contada na letra são muito envolventes e apaixonantes, é uma música que me faz acessar o passado das festividades juninas. Estamos vivenciando o segundo ano sem o verdadeiro São João, curiosamente, por motivos diferentes do que é relatado na música, o nosso São João também está triste. Na foto (3), um registro do São João em 2019. Márcio Correia: Noites brasileiras, Luiz Gonzaga Por um bom tempo eu fui aquela pessoa que não gostava de datas festivas (de nenhuma). O fato é que criar boas lembranças é um dia recorrer a elas e sofrer pelo tempo que não pode voltar. Eu não queria isso. O São João me lembra uma pessoa muito importante na minha vida, que infelizmente já se foi. Era a pessoa mais bondosa e animada que eu tive o prazer de conhecer. Nada passava sem comemoração com ele, principalmente o mês junino. E quando a lembrança de certa forma dói, a gente tenta fugir dela, né? A música escolhida foi uma das primeiras que pensei. Além de sempre ter tocado nos nossos São João lá em Garanhuns, ela fez muito mais sentido quando resolvi buscar na memória quem sempre animou essa data pra mim. A fogueira e os milhos? Ele providenciava. As músicas? ele botava pra tocar. As bombinhas que a gente ganhava escondido? As chuvinhas e os traques? Era tudo com ele... Ainda bem que não deu tempo de fugir desses tantos São João com ele. Acho que a tristeza da perda nunca passa, mas se não fosse momentos assim, o que iria sobrar? Nessa data quando eu olho pro céu eu lembro sempre do meu querido tio Marcelo. Na foto (4), meu tio Marcelo com minha irmã Alice em 1997. Samara Torres: Tarde demais, Dorgival Dantas Diante de tantas adaptações e implantações de culturas "tradicionais" e "modernas", vivo em um momento de pura mistura. Cresci ao som de Luiz Gonzaga tocando alto na televisão de tubo do meu tio, ao mesmo tempo que senti e ainda sinto a vida ressurgindo dentro de mim quando é junho na Capital do Agreste, Caruaru. São João é sagrado ao ponto de ser impossível descrever sua importância em palavras. É sagrado. É a melhor descrição que consigo colocar aqui no segundo ano sem São João coletivo. E sendo fruto dessa mistura de ritmos e adaptação de cultura, nenhum artista poderia descrever melhor meu sentimento de renascimento que Dorgival Dantas. É reviver todas as eras do forró em uma só. De Luiz Gonzaga a Petrúcio Amorim. Do pátio do forró à Estação, lugar de tanta cultura rica e poderosa. Na foto (5), revivo o show de mamulengos de Mamusebá que acontecia e acontecerá na Estação em Caruaru, lugar também que abriga mais dessa beleza junina que o maior são joão do mundo carrega. E é com essas coisas que me seguro nesses dias de sufoco e desespero. A esperança de reviver tudo isso.

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A SPIA é um portal colaborativo feito por alunos do curso de Comunicação Social e Design, da Universidade Federal de Pernambuco, campus Agreste. Todo o conteúdo produzido por nós é usado apenas para fins informativos e educacionais.

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