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- Nova revista digital propõe a valorização da fotografia no cinema brasileiro
Revista tem a proposta de valorizar a memória cinematográfica brasileira em meio a um cenário cada vez mais fragmentado. No dia 15 de outubro, mês de aniversário da Cinemateca Brasileira, os fotógrafos Azul Serra ("Aos Teus Olhos"), Pedro Sotero ("Bacurau") e Rafael Nobre ("Mataram Meu Irmão") lançaram a revista online e gratuita Iris (iriscine.com). A revista online é a primeira dedicada à fotografia no cinema brasileiro e tem o objetivo de valorizar a memória cinematográfica brasileira em meio a um cenário cada vez mais fragmentado. Cada edição da revista é trimestral e apresenta seis relatos de diretoras e diretores de fotografia atuantes em longas-metragens de ficção, séries, curtas-metragens, documentários, comerciais e videoclipes, além de matérias especiais e conteúdos-extra veiculados nas redes sociais e em um podcast. Com aprofundamento técnico e tom pessoal, todo o material produzido reúne experiências de nomes como Adrian Teijido ("Marighella"), Pedro J. Márquez ("A Última Floresta") e Wilssa Esser ("Hit Parade"). Em cada edição são depoimentos de fotógrafas e fotógrafos que descrevem seus processos criativos e métodos de trabalho nos sets de filmagem dividindo experiências. Iris é voltada para todos os públicos, desde curiosos a profissionais e estudantes do setor audiovisual, e um projeto editorial dedicado à reflexão sobre a criação cinematográfica. Além de valorizar nos filmes que se destacam pela fotografia, a revista também tem um papel de registro histórico, de estudo e de compartilhamento de conhecimentos, experimentos e vivências. Os textos são acompanhados por frames, fotos de still, making of, infográficos, mapas de luz, vídeos, material bruto e outros recursos visuais interativos. Para acessar a Iris basta clicar no link e desvendar o mundo do cinema brasileiro!
- Próxima Live SPIA discute "Cinema como ferramenta de Educação Ambiental"
Amanda Mansur e Rafael Buda se unem para uma conversa sobre a produção de filmes ambientais. Na próxima segunda-feira, 25/10, às 18h, no perfil do Instagram da Revista Spia (@spiarevista), Amanda Mansur e Rafael Buda se unem para uma conversa sobre "Cinema como ferramenta de Educação Ambiental". Essa live faz parte da Semana Municipal de Ciência e Tecnologia, e é realizada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - Regional de Pernambuco (SBPC-PE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação da Prefeitura da Cidade do Recife (SDECTI-PCR). A Revista Spia é uma das apoiadoras do evento. Amanda Mansur é professora do Centro Acadêmico do Agreste da UFPE. Possui Pós-doutorado na University of Reading, no Reino Unido e é coordenadora do Laboratório de Imagem e Som do Agreste (LAISA) e da Revista Spia. Rafael Buda é administrador com aperfeiçoamento em Gestão Cultural (UFBA/MinC) e Gestão de Projetos e Empreendimentos Criativos (SENAC/MinC). Atualmente é coordenador Geral da MARÉ – Mostra Ambiental de Cinema do Recife O objetivo da Semana é visibilizar pesquisas e atividades científicas a fim de mobilizar as instituições e a sociedade em geral sobre temas que abordem Ciência e Tecnologia numa troca de saberes em diálogos que fomente a defesa da ciência para o desenvolvimento do país. O tema deste ano é "A transversalidade da ciência, tecnologia e inovações para o planeta”. Na live serão discutidos os curtas “Uchôa, a Mata Pulsante” e Enraizada, que estão disponibilizados no canal Cinema de Animação e a série Cidade Plástica que está disponibilizada no canal Cidade Plástica. “Uchôa, a Mata Pulsante” (Recife, 17 min, colorido), dirigido por Tiago Delácio e produzido Rafael Buda "Enraizada" (PE, 2018, 8’), dirigido por Tiago Delácio e produzido Rafael Buda. Cidade Plástica - Episódio 01 - resíduo plástico. Produzido pela Saga.
- Revista Spia é vencedora do Expocom Nacional
Estamos mais uma vez muito felizes em compartilhar outro resultado de reconhecimento com vocês. Depois de vencer a etapa regional, onde disputou com os melhores trabalhos da região nordeste, a revista SPIA foi a vencedora da etapa nacional do EXPOCOM, onde concorreu com os melhores trabalhos das outras quatro regiões do país. A Revista Spia era finalista na categoria Produção Multimídia, uma modalidade de Produção Transdisciplinar. O prêmio nacional foi divulgado no ultimo dia 09/10 no 44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, de forma virtual, que foi organizado pela Universidade Católica de Pernambuco - Unicap. O Expocom é uma exposição de pesquisas experimentais em comunicação destinada aos melhores trabalhos produzidos por estudantes no campo da Comunicação e é uma realização do Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Somos só felicidade! Obrigado a todos que acreditam no nosso projeto. Viva Caruaru! Viva a cultura pernambucana! Viva a universidade pública! Confira os vencedores: https://portalintercom.org.br/publicacoes/jornal-intercom/2021-2/10-2-2-2-2-2-2/ano-17-n-523-sao-paulo-13-de-outubro-de-2021-issn-1982-372/chamadas-1864/expocom-2021-conheca-os-vencedores-da-etapa-nacional?utm_source=newsletter-+490&utm_medium=email&utm_campaign=Informativo_05_05_2021-490
- Padim Ciço e a trajetória do Cabocolino
Relato por João Marcelo, diretor e roteirista do filme Cabocolino (2021). Que bom, poder recordar os dias de nossas gravações. Só sei que foi assim...Numa tarde ensolarada, o calendário marcava o dia 05 de fevereiro de 2021, quando iniciamos as filmagens. Deslocamo-nos até o Sítio Campo do Borba em João Alfredo, onde foram colhidas as imagens das cenas iniciais do documentário segundo o plano de filmagens elaborado. Como mostra na Fotografia 1, o personagem vestido dos trajes de caboclinhos, caminha solitário no campo e vai de encontro a árvore de Tambor (Enterolobium maximum Ducke, nome científico). No intuito de colher as sementes para preparação e plantio na cidade de Juazeiro do Norte. Prosseguimos e registramos as cenas do entardecer no campo e depois filmamos o personagem chegando à noite em sua residência, seu convívio com a esposa e interação com os animais de estimação. Por fim, registramos a cena do personagem dormindo. No sábado, 06 de fevereiro, logo cedo, fomos à residência do personagem, registramos a entrevista com ele na sala de sua humilde residência e dois fatos destacamos, os quais passamos a narrar. De repente, centenas de cigarras e outros insetos começaram a emitir os seus zunidos característicos, o que provocou interferência no som captado na fala do entrevistado, ocorrendo a paralisação de nossas atividades. Segundo Sr João, não era comum o canto dos insetos naquele horário do dia. Sanado o problema, retornamos à entrevista e, de repente, Alexandre Taquary na função de técnico de som, interrompia as gravações alegando que estava escutando nos autofalantes auriculares do equipamento um forte som de batidas de coração. Fato constatado por Marlom, que de imediato pensou ser provocado pelo microfone de lapela. Mesmo desligando o equipamento, o misterioso som persistia, quando Sr. João de Cordeira, tranquilamente pontuou: “O caboclo que me acompanha está aqui conosco, não precisa se preocupar”. Após essa fala, o som imediatamente sumiu, ficamos intrigados com o ocorrido e ficou a expectativa para, no final do dia das gravações, checar se as batidas de coração escutadas foram captadas no material sonoro da entrevista, fato este não ocorrido. No período vespertino, fomos a um monte próximo à residência do Sr. João, conhecido como a Serra da Ventania e registramos reflexões do mesmo sobre a essência do bloco, o lado místico e suas expectativas sobre o futuro da dança dos caboclinhos, evidenciado na Fotografia 2. As filmagens se encerraram no momento do pôr-do-sol e nossa equipe aproveitou o momento do jantar para checar todas as ações do dia seguinte, pois envolveria uma logística maior e um grande número de figurantes. Nossa maior preocupação eram os cuidados com as medidas preventivas contra a Covid-19 e, também o fato de que, além do personagem principal, havia muitos outros idosos que ainda são brincantes, os quais foram especialmente convidados por João de Cordeira para participarem como dançarinos nas filmagens. Para o entrevistado, era a forma de retribuir a parceria de longos anos em acompanhar o bloco. Após buscar cada um dos integrantes do bloco de caboclinhos em suas residências com a ajuda do motorista “Rosinha do Amor”, toyoteiro, fomos ao Memorial dos Severinos, no Parque dos Mamulengos Gigantes em Surubim, onde realizamos as filmagens de apresentação das danças e performance dos integrantes, juntamente com a Banda de Pífano de Surubim do mestre Sr. Sebastião. Gravamos, dirigimos os posicionamentos e movimentos dos grupos, para as cenas e finalizamos os trabalhos após checagem de todo material filmado. Todos os integrantes foram transportados de volta até suas residências, muitas delas situadas em diversas localidades da zona rural de João Alfredo e, no final da tarde, retornamos ao Memorial para realizar outras filmagens, desta vez, apenas com Sr. João de Cordeira. No final do dia, comemoramos o sucesso dos trabalhos, pois o nosso maior desafio era o cuidado com a integridade física das pessoas, filmar com o maior número de integrantes previstos no roteiro e nosso planejamento envolvia deslocamentos entre cidades, alimentação para mais de 30 pessoas e, principalmente, seguir as normas de prevenção contra a pandemia. Todas as ações transcorreram conforme o planejado. Na segunda-feira, 08 de fevereiro, registramos o percurso do personagem até a cidade do Juazeiro do Norte no Ceará. Cedinho, gravamos imagens da despedida de Sr. João com sua esposa, a saída da cidade de João Alfredo, a parada no terminal rodoviário de Caruaru, cenas na estrada em Cruzeiro do Nordeste, no município de Sertânia e nas proximidades de Serra Talhada. Chegamos às 21h na cidade do Juazeiro do Norte - CE. A varanda do quarto proporcionava uma vista defronte ao monte onde se localiza a estátua de Padre Cícero. Movido pela ansiedade e emoção, acordei cedinho e quando me dirijo à varanda para apreciar o surgimento do sol, antevejo, no horizonte, a aproximação de negras nuvens. Tudo começou a ficar nublado e, de repente, muita chuva, uma enxurrada. Nosso dilema era filmar ou não naquele dia, nossa agenda apertadíssima, pois a fotografia estava sob a responsabilidade de Marlom, que, antecipadamente, por conta de outros compromissos já havia alertado que somente poderia realizar as filmagens do dia 05 a 09 de fevereiro e, no dia 10, teríamos que retornar. A programação de gravação envolvia várias cenas externas, a previsão era de fortes chuvas durante todo o dia. Daí resolvemos alterar a ordem das filmagens. No trajeto, discutimos sobre a otimização das filmagens naquelas condições. Providenciamos a aquisição de guarda-chuvas e capas. Antes, no quarto do hotel, acondicionamos todas as toalhas possíveis em nossa bagagem de equipamentos e, por sorte ou milagre do “Padim Ciço” e dos protetores espirituais, a chuva resolveu cair de uma vez. No Horto, havia a determinação de Sr. João de Cordeira de plantar as sementes trazidas de João Alfredo somente após autorização do padre local. Pedimos a autorização de dois padres, mas acabaram direcionando nossa equipe e o Sr. João à Irmã Sônia, religiosa responsável pelo local. A Irmã foi muito receptiva, autorizou a plantação das sementes do Tambor, e nos levou a um local reservado onde, segundo a Irmã, havia sido um jardim e horta do Padre Cícero no passado. Mesmo sem estar no roteiro, conversamos com a Irmã para que participasse do documentário, já que por conta da imensa carga emotiva verificada, acabou se tornando peça importante no projeto, principalmente para o personagem em realizar a homenagem ao seu avô, cujos restos mortais repousa sobre aquele solo. De instante e instante, dirigia meus olhos para o céu, agradecendo a colaboração dos Santos em segurar a chuva nas nuvens. Após esse momento, Sr. João também pediu autorização à Irmã Sônia para se trajar com suas vestes do bloco de caboclinhos e realizar outra homenagem: apresentar-se com suas danças e passos sob os pés da estátua do Padre Cícero. De imediato, comecei a reproduzir no celular o som da banda a partir das gravações realizadas no Memorial dos Severinos e, antes de convidar o Sr. João a iniciar suas homenagens, ele começou a dançar feliz sob os pés da estátua do Padre Cícero. Naquele momento, consolidava a homenagem ao falecido avô. Na quarta-feira, 10 de fevereiro, o céu estava ensolarado. Sugeri a Marlom que, de forma rápida, retornássemos ao Horto e registrasse novamente algumas cenas, para posterior análise no momento da montagem. Feito os registros, finalizamos as gravações, a partir daí iniciamos nosso retorno para Pernambuco. Veja mais: Indicação Cabocolino (2021)
- 11º Festival Internacional de Animação de PE, o ANIMAGE tem início na próxima sexta-feira (8)
Festival contará com curtas e longas inéditos, mostras especiais, competição internacional de curtas, oficinas, e outras atividades gratuitas. Entre os dias 8 e 17 de outubro será realizada o 11º Festival Internacional de Animação de Pernambuco, o ANIMAGE. Esta edição do festival, é a primeira após a interrupção provocada pela pandemia do Covid-19, uma edição híbrida, com exibições online e sessões presenciais no histórico Teatro do Parque, localizado em Recife, Pernambuco. O festival será gratuito e a programação vai contar com a exibição de longas-metragens, competição internacional de curtas, mostras especiais, exibições especiais para crianças, oficinas para crianças, iniciantes e profissionais, além de masterclasses, entrevistas e painéis. O ANIMAGE será o primeiro festival de cinema a ocupar com sessões presenciais o tradicional Teatro do Parque, espaço cultural centenário do centro do Recife, após a restauração que durou mais de dez anos. Um dos únicos teatros-jardim do Brasil, o Teatro do Parque foi fundado em 1915 e reinaugurado em 11 de dezembro de 2020. As atividades presenciais no teatro serão limitadas a 300 lugares, e vai atender os protocolos de segurança contra a Covid-19. Entre as medidas estão o uso obrigatório de máscaras, além do distanciamento social entre as poltronas e a disponibilização de álcool em gel. Para participar, os interessados podem adquirir os ingressos de forma gratuita e fazer a retirada na bilheteria do teatro uma hora antes do início das sessões de cada dia. Toda programação online do ANIMAGE poderá ser acessada gratuitamente pelo site do evento através da plataforma Shift72, disponível para todo o Brasil. As oficinas acontecerão ao vivo pela plataforma Zoom. Acessibilidade: Os curtas-metragens brasileiros estarão disponíveis na plataforma online com Legendagem para Surdos e Ensurdecidos (LSE) e a Mostra Brasil contará também com audiodescrição. Serviço: Festival ANIMAGE – 11º Festival Internacional de Animação de Pernambuco Data: 08 a 17 de outubro de 2021 Programação: Para acessar a programação completa clique aqui.
- Indicação: Cabocolino (2021)
“Um filme fantástico, com um personagem também fantástico e uma história que encantará seu coração”, João Marcelo, diretor de Cabocolino. Cabocolino (2021), é o primeiro curta documental do comunicólogo João Marcelo como diretor e acompanha a saga do brincante Sr. João de Cordeira, um artista que luta para manter viva a tradição do Bloco de Caboclinhos do Sítio Melancia da cidade de João Alfredo PE, Agreste de Pernambuco. Sinopse: Seu João de Cordeira é um agricultor, aposentado de 78 anos, artista popular que luta para manter viva a tradição do Bloco de Caboclinhos do Sítio Melancia em João Alfredo PE, agreste pernambucano. A tradição do bloco vem passando por várias gerações ao longo dos anos. O seu avô, por conta de dificuldades climáticas, migrou para a cidade de Juazeiro do Norte/CE e conviveu muito próximo ao Padre Cícero. Ao falecer, o Padre Cícero o enterrou, segundo Seu João de Cordeira, em um solo sagrado. Nosso personagem tinha um sonho de prestar uma homenagem ao seu avô em Juazeiro do Norte/CE. O documentário traz essa jornada de fé, de lutas, de cultura e traz a simplicidade de um guerreiro em homenagear o seu antepassado.
- Árido: um caminho
Relato por Tiago Delácio. Vários pavios culturais explodiram na década de 90 em Pernambuco, mas o big bang foi o movimento mangue beat. Nessa época, a minha passagem do ensino médio para o curso de Jornalismo da UFPE seria também o sentimento de fazer parte do cinema que estava novamente brotando das ruas do Recife. E, da poltrona do Teatro do Parque, como espectador, me senti dirigindo junto com Paulo e Lírio, o Baile Perfumado para então reafirmar minha opção por viver ao lado do nosso cinema. O Baile foi tão impactante sobre as rochas dos cânions do São Francisco, ao som do Nação Zumbi, Fred Zero4 e Mestre Ambrósio que semeou a retomada da produção do cinema em Pernambuco. Esse experimentalismo foi responsável pelo impulso criativo e a percepção ampliada até de um jeito local de fazer filmes, a brodagem do cinema pernambucano. Meus dias eram de cinema e movimento estudantil. Comprei minha primeira filmadora parcelada no cartão de Chico de Assis, tocava com uma galera o Cineclube Barravento, batia ponto na Classic Vídeo e percorria os bairros de Olinda com o projeto Cinema na Praça. Até que parti para um sonho da época, cursar um taller na EICTV, em Havana. De lá, comecei a acompanhar a movimentação de duas equipes de produção. Estavam contratando para o novo filme de Lírio, Árido Movie, e outra equipe, montando para rodar o Cinema, aspirina e urubus de Marcelo Gomes. Ainda em Cuba mandei uns e-mails para as produções com o currículo e vontade, enquanto lia “Cine Imperfecto” de García Espinosa ficava mais longe minhas chances de fazer parte de uma delas. Tiago Delácio nas filmagens do filme Árido Movie - Fotos: acervo pessoal. Dias se passaram, contatos foram feitos, mas a equipe estava formada quando cheguei em Recife. De um lado as vans subiam para Arcoverde para preparar a filmagem do Árido, um pouco mais ao norte, a equipe do Cinema, Aspirina e Urubus, na Paraíba, entre Pocinhos e Cabaceira. Mesmo com os primeiros dias de set filmados, Júlia Moraes, assistente de direção do Árido, me convida para fazer a segunda assistência. No outro dia, estava eu lá em Arcoverde virado no mói de coentro. Dois dias depois, uma rearrumação na equipe e me transformei no continuísta do filme, nessa hora só tentava lembrar o que Adelina Pontual tinha falando em alguma aula. Lá fui eu com a prancheta, caneta e cronômetro vivendo aquele dias de sonho e trabalho. Os moradores de Arcoverde paravam para acompanhar as filmagens e ver rostos conhecidos de Giulia Gam, José do Monte, Matheus Nachtergaele, Paulo César Pereio, Mariana Lima, Selton Mello e José Celso Martinez. O calor massacrante da estrada, as locações sinistras, a arte oposta de Renata Pinheiro dava o ambiente subjetivo que o filme precisava. O cenário do "O POSTO" onde o protagonista Lázaro sai com Wedja ao som de Renato e seus Blue Caps destranca um roteiro aberto, cheio de fragmentos e histórias não encerradas, como é a nossa própria existência, sem fim até depois da morte. Enquanto Lírio tinha o filme na cabeça, os demais quebravam a cabeça para encaixar no plano de filmagem, o filme em si estava bem longe do próprio roteiro e essa era a ideia. Nunca li tanto um roteiro como o Árido, era imprevisível entregar a minutagem, a descrição da cena, as tomadas, o tipo de filtro e o número do negativo para a montagem fazer os encaixes. Lírio confiava nos atores e na capacidade de improvisar o texto, mandava a fotografia rodar mesmo que a película de 35mm quantas vezes precisasse, a produção ali só não fez chover e, no final, astralizava e, pronto, dava tudo certo. Não foi fácil, mais do que ter uma memória visual e um acompanhamento cirúrgico das falas, ações, gestos, figurinos, para garantir o plano de filmagem, cabia também ao continuísta lembrar do enquadramento da câmera, a lente, o filtro daquela cena, a minutagem e em qual rolo está cada cena. Entre tantos desencontros, um copião extraviado no laboratório do Rio exigiu que fosse refilmado algumas cenas meses depois de desprodução. Foi uma loucura que valeu mais que qualquer curso de cinema. Embora para quem assiste ao filme, a narrativa não se encerra, quem é o doido de fazer o segundo filme? Em 2020, fui ao Festival de Cinema do Rio de Janeiro exibir o curta-metragem Enraizada e assisti ao lançamento do Aqua Movie com Lírio e parte da equipe. O Aqua é mais que uma continuação, é uma espécie de reencarnação e que compõe mais um pouco desses fragmentos tortuosos entre mar e seca, litoral e sertão, raízes e asas. Claro, são filhos do mesmo pai, voaram pelos mesmos caminhos e também ficaram presos nas mesmas agruras e limites de seus voos. Muito distante dos sonhos da década de 2000, uma grande tormenta social descambou no Golpe de 2016 e a eleição de um presidente cuja marca é a destruição das políticas de fomento ao audiovisual e a caçada ideológica contra os artistas. Um país com mais de meio milhão de mortes pela pandemia, quase todos os cinemas fechados e um governo com viés facista, nos leva a acreditar - apenas - que a Montanha do Cachorro que está na cidade ficcional de Rocha antes dos homens existirem, vai continuar existindo. Sobre o autor: Realizador audiovisual, com especialização na Escuela Internacional de Cine y TV (Havana) e mestrado em Desenvolvimento Urbano (UFPE), Tiago Delácio é coordenador do Museu de Animação Lula Gonzaga (MUCA) e da Mostra de Cinema Ambiental do Recife (MARÉ). Dirigiu os curtas: La espera (8’, 2003), Velocidade Máxima (7’, 2013), Enraizada (8’, 2018), Eu o declaro meu inimigo (2’, 2018) e Martelo (6’, 2021).
- 'Chão de Estrelas', série inspirada no filme 'Tatuagem', estreia sexta-feira no Canal Brasil
A produção é uma releitura da trupe de teatro Chão de Estrelas, que conta com narrativa contemporânea. Estreia na próxima sexta-feira (10), a série "Chão de Estrelas" de Hilton Lacerda. Criada a partir do filme "Tatuagem", primeiro longa de Hilton, a série gira em torno de um grupo teatral anárquico formado por integrantes com origens e histórias diversas, que ocupa um casarão no Centro Histórico do Recife. Serão sete episódios, que irão ao ar às sextas, às 22h30 no Canal Brasil. De acordo com Hilton Lacerda, a série é um aprofundamento do grupo de teatro criado no filme Tatuagem, mas com uma narrativa contemporânea voltada para os problemas atuais da sociedade. A 'nova' trupe agora ocupa o casarão de Dionísio, interpretado por Paulo André, famoso e recluso artista plástico. Quando o casarão corre o risco de ser tomado por uma poderosa construtora, os integrantes do Chão de Estrelas iniciam um movimento pela manutenção do espaço. "Chão de Estrelas é puro conflito, em todos os níveis, e mergulha num universo onde várias artes comungam do mesmo fim: promover uma incômoda festa que nos sirva de barricada no presente para nos escudar lá no futuro. E com arte. Muita arte”, descreve o diretor Hilton Lacerda. Leia também: Hilton Lacerda: cinema, liberdade e a pluralidade do Cinema Pernambucano Tatuagem: de dentro para fora, um estudo do processo de criação a partir do roteiro do filme A narrativa é construída em torno de conflitos externos e internos da trupe, abordando temas como o desprezo à cultura por parte da sociedade conservadora e especulação imobiliária. A produção constrói a mistura perfeita para a batalha criativa, onde arte e resistência lutam para falar a mesma linguagem, e a memória é o combustível para enfrentar o presente e modificar o amanhã. No final de cada episódio, há depoimentos dos personagens sobre conflitos próprios e coletivos que ajudam a costurar a trama. Os episódios estarão disponíveis nos serviços de streaming Canais Globo e Globoplay +Canais ao Vivo. Informações técnicas Chão de Estrelas (2021) (7x50’) Direção: Hilton Lacerda e Milena Times Elenco: Giordano Castro, Nash Laila, Uiliana Lima, Gustavo Patriota, Dante Olivier, Mário Sérgio Castro, Matheus Tchoka, Ana Paula Gaspar, Paulo André, Ana Marinho, Sílvio Restiffe, Lívia Falcão, Titina Medeiros e Sandro Guerra. Classificação etária: 16 anos Estreia: sexta, dia 10/09, às 22h30 Horário: sexta, às 22h30 Alternativos: madrugada de domingo/segunda, às 2h; madrugada de quarta/quinta, às 4h; e segunda, às 0h30.
- Jomard Muniz de Britto: corpo-poesia, nudez e subversão
As relações corporais como narrativas em filmes de Jomard Muniz de Britto. (+18) Conhecido também pela sua ousadia e subversão como artista poeta, Jomard Muniz de Britto contribui para construção de um importante movimento cineasta em Pernambuco. Seus filmes fizeram importantes construções do movimento e marcaram o Ciclo Super-8 trazendo performances que se destacavam pela irreverência e subversão, seja com a exibição de corpos nus ou até mesmo na crítica ao contexto cultural do estado. Não somente marcou o ciclo como também se destacou construindo poesias visuais nos filmes. Em alguns deles, Jomard constrói narrativas performáticas que transcendem a imagem e demonstram a poesia dos corpos, da nudez, da transgressão e subversão. Em “Vivencial I”, vemos um grupo de teatro em apresentações pelas ruas do Recife. Jomard registra o espetáculo e os corpos que dançam, performam e trazem essa narrativa corporal, vista em outros curtas do cineasta. Em “Aquarelas do Brasil”, um dançarino se expressa num dos pontos turísticos da cidade, mais uma vez o corpo em evidência. No filme “Uma Experiência Didática”, o corpo em nudez transforma a narrativa em poesia, onde os gestos e movimentos são super expressivos. Já no filme “Toque”, os artistas dançam e performam a nudez e a subversão do corpo nu. Todos esses filmes citados e outros, demonstram a relação entre os trabalhos de JMB e o culto ao corpo, a poesia, a subversão e a transgressão. O cineasta, por meio de relações corporais em seus filmes, faz do corpo uma poesia. Diria um “Corpo-Poesia”, construindo narrativas corporais e poéticas onde a nudez é naturalizada pelo diretor, embora seja vista como transgressora pela sociedade, e as relações entre os atores dão origem a poesias visuais, narradas através das lentes da câmera de cinema. Sendo o cinema uma das formas de exercer poder sobre o público por meio das narrativas cinematográficas, a problematização do corpo nu, em evidência como referência, toma maior tempo de tela em muitos filmes de Jomard. Há a necessidade de evidenciar a experiência, o corpo, a nudez e a sexualidade, não como plano de fundo, mas com protagonismo, em narrativas fílmicas. Nos filmes de Jomard Muniz de Britto, temos a naturalização do corpo, da nudez e da sexualidade impulsionada pelas constantes narrativas corporais e poéticas do diretor. Pensando assim, apresentar e evidenciar o corpo que foge dos tabus, subvertendo as narrativas, não é só necessário, mas parte da identidade do poeta, cineasta e escritor. Argumento e Vídeo Ensaio por Cladisson.
- O Voo do Viajante Alado
Em “O Voo do Viajante Alado”, a Spia resgata o relato de Paulo Rafael para o livro "As Aventuras do Baile Perfumado: 20 anos depois". "Eu tinha feito apenas coisas bem esporádicas para cinema. Eu tinha feito a trilha de um curta para Lírio Ferreira, um curta bem experimental, que até ganhou um prêmio de melhor música num festival da Bahia. Também tinha feito a música e a trilha incidental de Pátria Amada, de Tizuka Yamazaki. Como na trilha estavam Alceu Valença e Carlos Fernando, com quem eu tinha muita intimidade, acabei assumindo. Cerca de um ano antes das filmagens do Baile Perfumado, eu estava me mudando de Olinda, voltando para o Rio. Foi quando Geraldinho Magalhães, que estava cuidando da produção musical do filme, me convidou para assumir a direção musical. Na verdade, foi nesse momento que eu fui tomando pé da situação. Havia muitos comentários, todos os meus conhecidos do Recife já estavam curtindo a informação de que havia um longa sendo rodado. Já existiam muitas lendas e histórias: “Olha, eles estão filmando, Lírio e Paulo Caldas…”. De vez em quando, chegava alguém vindo das filmagens e começava a comentar que estava rolando isso ou aquilo. E ficava todo mundo querendo participar de alguma forma daquele projeto. Mas, no meu caso, foi muito por insistência de Geraldinho. Quando Geraldinho me convidou é que comecei a me informar melhor. Fiquei mais perto. Um dia, me passaram uma versão do roteiro, mas chegava alguém para me alertar: “Olha, nem leia isso que mudou tudo…” De todo modo, li uma parte do roteiro para entender como era a história. Posteriormente, Marcelo Pinheiro me ajudou muito a entender o que estava por trás daquela história. A bem da verdade, eu diria que quando eu entrei no processo foi na função de um motorista que dá uma freada para arrumar o caminhão. Porque todo mundo estava ou tinha passado pelo estúdio do Conservatório Pernambucano de Música para gravar. Já tinha material gravado de Chico Science, Lúcio Maia, Siba (que era o Mestre Ambrósio), Fred Zero Quatro, Stela Campos… ou seja: todo mundo que estava envolvido com o que se fazia naquele momento no Recife em termos musicais. Eu sabia do trabalho de todos eles, mas na verdade não conhecia todos em profundidade, a não ser a Nação Zumbi e Siba. E a primeira impressão que eu tive quando me entregaram os rolos - porque foi tudo gravado em fita de rolo, ainda em 16 canais -, chamei um técnico de som que eu conhecia para vir ao estúdio do Conservatório. E o cara me alertou: “Olha, se prepare porque é um quebra-cabeça, Você vai ter que montar um quebra-cabeça gigante”. Comecei a ouvir as gravações, tinha muita coisa. Porque no início, antes de me chamarem, as coisas funcionaram assim: alguém convidava os músicos, passava um briefing, e eles entravam no estúdio e passavam o dia tocando, fazendo música. Disso resultaram horas e horas de gravação. Todo o material tinha uma certa orientação de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, e cerca de 90% das músicas já estavam gravadas. Embora quase tudo estivesse feito, sempre faltava um pedaço. Era tudo esboço. Um esboço que exigia que a gente voltasse para eles. Eram milhões de esboços, e comecei a filtrar, a filtrar. A partir desse momento, defini um pouco sobre o que iria ou não entrar. Fazia uma seleção e levava para os diretores, mostrava, conversava. E eles já achavam que estava resolvido: “Está tudo pronto?”. E eu dizia: “Não, não está pronto!”. Seria preciso regravar para tudo ficar realmente pronto, bem acabado. E a produção enlouquecia: “Ai, meu Deus do céu, tem mesmo que refazer?” Algumas coisas, portanto, estavam para terminar, concluir, resolver, editar no estúdio… Um bocado de coisa que precisava regravar. Nesse momento eu já estava morando no Rio. Então eu comecei a perceber que havia nessa etapa uma resistência incrível, porque todo mundo já achava que aquilo que tinha gravado estava bom, concluído. O próprio Siba, que tinha acabado de gravar o disco do Mestre Ambrósio, dizia que não estava mais com cabeça: “Porra, eu vou ter que gravar aquilo tudinho de novo?” Eu insistia: “E você vai deixar desse jeito, cara? A ideia está fantástica, mas tem que dar um acabamento”. Aos pouquinhos, comecei a convencer Siba. Depois dele foi mais fácil convencer Lúcio Maia, depois convencer Chico Science, Fred Zero Quatro, todos os outros. Todo mundo ajeitando as gravações. Eu pegava aqueles borrões, aqueles esboços e saia gravando por cima. Então essa foi a primeira etapa. A segunda etapa eu já trouxe para o Rio. Havia boas ideias porque como o projeto era fazer um disco - nem era DVD ainda - como o material era pra fazer parte de um disco uniforme, chamei o Dj Suba, que tinha uma pegada mais forte de música eletrônica. E decidi que ele também iria entrar na trilha do filme. Porque eu comecei a observar que tinha muita coisa que precisaria recombinar. Eu tinha uma banda chamada Eletro Fluminas, com o tecladista Márcio Lomiranda. Eu me propus, então, participar da trilha não apenas na direção musical. Pedi mesmo: “Deixa eu colocar umas músicas minhas aqui também”. Eram mais músicas que poderíamos chamar de músicas de fundo. Não eram os temas principais, que eram sempre cantados. As minhas músicas eram de apoio, que fomos fazendo puxando para um lado mais eletrônico, que serviria para complementar todo o resto. Por fim, eu mixei. Lírio e Paulo estavam editando em Botafogo, bem perto de onde ficava a minha casa. E comecei a frequentar. Era uma energia fantástica, os caras estavam curtindo pra caramba. Foi a primeira vez que eu vi as imagens e o som que vinha do set. Porque até então era tudo na imaginação. Nesse momento, Lírio e Paulo já sabiam exatamente onde colocar as músicas. Eles sabiam da importância que teria a trilha para conduzir a narrativa. Quando eu vi o filme pronto foi ainda surpreendente. Eu pensava: “Olha, aquela música entrou nessa sequência”. Mas quando eu vi a cena de Lampião naquela pedra, fiquei arrepiado. Aliás, eu fico arrepiado até hoje. Eu senti um impacto enorme. Tanto que pensei na hora: “Puta que pariu, isso aí vai mudar um monte de coisas” Eu senti na hora que já era uma linguagem nova do cinema. E eu digo: “Negão deu um passo”. Sangue de Bairro (Chico Science e Ortinho) Besouro/ Moderno/ Ezequiel/ Candeeiro/ Serra Preta/ Labareda/ Azulão/ Mamoeiro/ Quinaquina/ Bananeira/ Sabonete/ Catingueira/ Limoeiro/ Lamparina/ Mergulhão/ Corisco/ Voltaseca/ Jararaca/ Cajarana/ Viriato Gitirana/ Voltabrava/ Meia Noite/ Zabelê Quando degolaram minha cabeça, passei mais de dois minutos vendo meu corpo tremer E não sabia o que fazer, morrer, viver, morrer, viver Nesse universo que é o filme, eu me considero uma particulazinha. Mas os diretores não: eles deram um tiro lá na frente. Fiquei muito emocionado. Aquelas imagens ficaram perpetuadas, porque não eram imagens antigas ou novas. Ficou uma coisa atemporal. Fiquei muito feliz por ter participado do Baile Perfumado. Eu acho que o filme foi um trabalho fundamental para o cinema, para a música pernambucana, para que todo mundo pudesse se sentir valorizado. Eu acho que o Baile foi o que deu a alavancada para toda essa coisa que veio depois no cinema em Pernambuco. Eu fiquei só felicidade." Gravação da trilha sonora do filme Baile Perfumado no Conservatório Pernambucano de Música. 1- Chico Science - Foto: Fred Jordão; 2- Fred 04 - Foto: Fred Jordão. Relato extraído do livro "A Aventura do Baile Perfumado: 20 anos depois".
- O afeto das memórias pelas lentes de Géssica Amorim
A partir das fotografias de Géssica Amorim, refletimos a importância do fazer fotográfico na construção da identidade e a permanência dos afetos. Embora pensados em muitos casos de formas apartadas, a fotografia e o tempo se entrelaçam na construção da identidade e partilham um sentimento único: o afeto das memórias. Stuart Hall (1932-2014) foi um teórico cultural e sociólogo, que dedicou-se a compreender e valorizar o estudo da cultura. Em seu livro “A identidade cultural na pós-modernidade” (1992), Hall traça uma narrativa acerca da relação entre o homem e a identidade moderna, o mesmo afirma que por muito tempo as identidades eram sólidas e os indivíduos se encaixavam nas ideias já estabelecidas, com o passar do tempo as identidades se encontram menos definidas e atravessam novas significações para o espaço social e cultural. Géssica Amorim, 27, traça uma narrativa identitária a partir do seu olhar sincero, político e afetuoso acerca daquilo que conhece e perpassa seu cotidiano. A artista está cursando a segunda graduação, sendo essa, em Comunicação Social pela Universidade Federal de Pernambuco no Campus Acadêmico do Agreste (CAA) e trabalha como estagiária na Marco Zero Conteúdo. A narrativa fotográfica traçada em seu perfil no instagram (@gessicamorim) desvendava uma voz sincera, que sempre me acalentou o peito e me reafirma a importância das narrativas múltiplas acerca daquilo que conhecemos e identificamos como história. “O lugar onde vivo e que costumo registrar com mais frequência é estereotipado desde sempre. Os assuntos, o que varia, o que é singular no espaço e nas pessoas são diluídos e impressos numa mensagem só. Talvez isso confuda quem vê de longe. O meu tema é o que está ao meu redor, o que faz parte da minha existência, do que eu vivo no mundo. É mais íntimo do que parece.” Reflete a artista nascida no sertão do Pajeú, no sítio dos Nunes. O município é conhecido como uma terra cheia de poesia e retratado de maneira singular pelo olhar de Géssica, que afirma que sua fotografia “É sobre o que vejo no meu pedaço. O que cresci vendo e vivendo. Me apego ao que me é familiar. Fico andando atrás de mim, registrando o que e onde me reconheço.” Esses são os registros de Géssica Amorim: uma busca aos afetos. Quando você se descobriu fotógrafa? Qual papel a fotografia tem para você? Géssica Amorim: Na verdade, eu não me considero fotógrafa. Acho que, pra isso, eu teria de atender a uma série de critérios que envolvem técnicas e estilos que, por vezes, não domino ou não me interessam. Eu sou amadora. Pra conseguir a carteirinha de fotógrafa, é muita exigência, muita obediência (risos). Clarice Lispector dizia que não queria ser reconhecida como escritora pra manter a sua liberdade enquanto escrevia. Ela sempre se considerou amadora. E eu acho isso honesto e fantástico. Penso igual. Me agarrando a isso honestamente, eu me mantenho livre para aprender, experimentar e produzir o que eu quiser. Sem obrigação de entregar um produto "profissional", de “alto nível". Pra mim, isso é só engraçado, não um objetivo. A fotografia me ajuda a suportar. O papel dela na minha vida é esse. Esqueço de tudo quando estou fotografando. Me concentro no que vejo e quero registrar. Não existe mais nada além do que enxergo por trás da câmera. Cada fotógrafo tem um objeto de estudo, um campo particular que o encanta. Você acredita que há um objeto/campo que te encante mais na fotografia? Se sim, qual/quais? GA: Eu não sou apegada a um tema específico, nesse sentido. Olhando o que eu publico, pode ser que pareça que eu corro atrás de um tema só, mas não é isso. O lugar onde vivo e que costumo registrar com mais frequência é estereotipado desde sempre. Os assuntos, o que varia, o que é singular no espaço e nas pessoas são diluídos e impressos numa mensagem só. Talvez isso confunda quem vê de longe. O meu tema é o que está ao meu redor, o que faz parte da minha existência, do que eu vivo no mundo. É mais íntimo do que parece. Sua produção artística é um embarque ao passado-presente, há sensíveis textos que acompanham as tuas fotografias em seu perfil do Instagram. Qual o valor da escrita na tua arte? GA: Olha, eu acho que a escrita vem quando as imagens não bastam em alguns casos. Tenho escrito com menos frequência a respeito de algumas imagens e dos significados delas. E eu escrevo quando acho realmente necessário, quando o sentimento me pede. Talvez seja o que chamam de inspiração, não sei. Eu sei que não forço a barra. Não aqui, no que é meu e onde posso ser livre. Quando vem, eu deixo aparecer. É só isso mesmo. Tem uma série fotográfica em seu instagram que relata os recados deixados no verso de algumas fotografias. Como você enxerga a fotografia impressa e qual peso ela consegue verter na sua concepção? GA: Eu sempre achei e acho muito interessante essas mensagens, recados e dedicatórias que a gente escrevia nos versos das fotografias. Eu consigo imaginar o que foi revelado sem olhar a imagem - sem falar na coisa de usar essa imagem como presente, lembrança. Eu acho muito bonito. Queria entregar e receber imagens assim também. Imagem-presente-recado por Géssica Amorim Tem algum registro que você fez que pode ser considerado como seu preferido? Se sim, qual e porquê? GA: Eu ia dizer que não, pra evitar pensar e avaliar demais (risos). Mas, há pouco tempo, levei uma cama para o terreiro e fotografei o conforto que enxergo nela, ali, no meio do mundo. Tentando dizer, mesmo, que qualquer lugar do mundo é casa. Gosto muito dela. Cama no terreiro por Géssica Amorim. Entrevista pro Cecília Tavora.
- Destaque: Uma viagem ao passado sem tirar os pés do presente
Por Maria Clara Mendes. A grandeza de um disco pode ser observada de inúmeras formas. Gosto de pensar que a obra de Alceu tem a autonomia para falar por si mesma, basta colocar o disco para tocar e pronto, está dito. O Cinco Sentidos, lançado em 1981, tem a força, a sensibilidade e o atrevimento que só poderia surgir da mente de um artista como Alceu Valença. O álbum traz algumas memórias da infância do músico pernambucano, é uma viagem ao passado sem tirar os pés do presente. Com uma intensa dose de intimidade e desejo, ao longo das nove faixas, somos levados a experiências que jamais serão esquecidas. São as nossas emoções se misturando com as emoções do autor. Parece um filme cujo diretor é um cabeludo, sensível e teimoso que tem apenas trinta e dois minutos para dizer tudo e mais um pouco. E ele manifesta, de forma poética e arrebatadora, a sua mensagem e a sua essência enquanto homem, menino, artista e pernambucano. A última faixa do disco sintetiza bem. Seixo Miúdo. O Cinco Sentidos vendeu 150 mil cópias e colocou Alceu no ápice dos grandes shows, seu lugar por merecimento. É um álbum que aponta o rumo que a carreira do artista iria seguir na década de 1980, mas que ainda traz o resquício da ternura presente em sua poderosa obra setentista. Em tempos estranhos de pandemia e de tantos conflitos políticos, ouvir o Cinco Sentidos é uma boa pedida para sempre nos lembrarmos quem somos e o que nunca deixaremos de ser. “Minha língua ferina só cala no fim do espetáculo…” Link do álbum no Spotify Link do álbum no YouTube