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  • Memórias, sentidos e um olhar para outra realidade

    O cinema de Graci Guarani tem a força e a coragem de uma mulher indígena que atua com uma câmera nas mãos. Em posse desta poderosa ferramenta, Graci vem produzindo importantes registros históricos da cultura indígena. De origem Guarani Kaiowá, Graci Guarani trabalha como cineasta, comunicadora e produtora cultural. É uma das primeiras realizadoras de produções indígenas no cinema brasileiro, atuando ao lado de seu companheiro Alexandre Pankararu. Em parceria, os dois criaram o Olhar da Alma Filmes - uma produtora independente de audiovisual indígena - que tem o objetivo fomentar produções indígenas no cinema e no audiovisual brasileiro. É um cinema de intimidade e pertencimento onde o que importa mesmo é contar as histórias por uma perspectiva autêntica e fiel a identidade dos realizadores. Falar da obra de Graci Guarani é olhar para o lugar de onde ela fala e o que é dito sobre esse lugar. É um cinema realizado e protagonizado dentro de uma narrativa própria e indígena, concentrada nas vivências e percepções de uma mulher indígena quanto a realidade em que ela existe e resiste. É um cinema de intimidade e pertencimento onde o que importa mesmo é contar as histórias por uma perspectiva autêntica e fiel a identidade dos realizadores. Como documentos de memórias, os filmes apresentam a oralidade, a terra e os personagens indígenas que vivem nesses espaços. São produções divididas em curtas-metragens, vídeo-cartas e a direção de um longa-metragem. Sempre abordando temáticas que atravessam as vivências da comunidade indígena. Aqui seria o espaço em que os filmes são detalhados um por um, apresentando o significado de cada um deles. No entanto, percebi que a obra de Graci Guarani fala por si, é um trabalho forte que precisa ser visto e reconhecido pela sua importância histórica e cultural. Nada que eu escreva se aproximará da experiência de ver, ouvir e sentir o que essas produções têm a dizer. Boa parte das suas produções estão disponíveis no canal da produtora Olhar da Alma Filmes no YouTube. É possível também acompanhar outros trabalhos em seu perfil no Instagram @graciguarani . É transformador conhecer a obra de mulheres como Graci Guarani. Crítica realizada por Maria Clara Mendes para o Especial Mês da Mulher.

  • Eu Menti Pra Você

    Montamos uma playlist para o Especial Mês da Mulher e falamos do porquê de algumas escolhas. Nunca é fácil criar uma playlist. Muitos nomes e muitas músicas sempre ficam de fora, não tem jeito. Nesta playlist, nos esforçamos ao máximo para tentar reunir um grande número de artistas pernambucanas que usam da música para se expressar no mundo. Destas músicas, uma é especial para cada colaborada da nossa equipe, e elas falaram o porquê da escolha. Hanna Aragão Isabela Moraes lançou o álbum em maio de 2020, quando todos ainda estavam extasiados por causa da pandemia. A única coisa que eu e boa parte do mundo tínhamos em comum é a vontade que o apocalipse acabasse. E ai, Isabela entrega ao mundo um respiro de esperança. A primeira música do álbum, "Ao redor do sol", é um lembrete que isso é que viver ao redor do sol, trilhando e trilhando sem se perder. Já faz um ano que o fim do mundo começou, e em alguns lugares as coisas continuam as mesmas ou piores, mas seguimos brincando com a luz do arrebol, brilhando sem se esquecer. Maria Clara Mendes "A música é uma força que mexe com os sentidos e nos leva a uma viagem por memórias. Seja qual for à ocasião, escolher uma música é sempre um desafio: a chance de dizer alguma coisa. 'De sal & sol eu sou' me lembra o mar, o sol e o tempo que nos leva para bem longe. É uma música de proteção e coragem. É para ouvir com o corpo enquanto as horas passam. O mundo sangra, anda e desanda e a gente vai aprendendo junto." Samara Torres "A mulher mais importante da minha vida deixou o mundo carnal em 2014, depois de dois anos lutando com as impossibilidades da idade. Durante esse tempo, fiz o que ela fez comigo pelos 14 anos anteriores a isso. Dei comida, dei banho, dei remédio, dei amor, carinho, atenção, tempo. Dei minha alma por completo, que já era dela desde que sua mão tocou a barriga da minha mãe quando eu ainda não era eu. Minha vó não me deixou sozinha nesse mundo. Muito pelo contrário, ela permanece viva por meio de todos os ensinamentos em que ela me apresentou na maior naturalidade e paciência do mundo. Isso inclui sua fé e suas crenças. No plural. Presenciei missas matinais no domingo lá na Catedral de Caruaru, rezas de terço, hinos cantarolados enquanto fazia meus bolinhos de feijão, mesas brancas, conversas com o outro lado, velas acesas, imagens espalhadas por toda a casa. Eu sinceramente não sabia o que minha vó era, acho que nem ela sabia. Uma adolescente de 14 anos pouco iria se importar em questionar aquilo, guardei essa curiosidade por um bom tempo até começar a me interessar pelo candomblé cinco anos depois de sua transição para o espiritual. Vó, que tanto se mantinha silenciosa dentro e acima de mim, apenas observando, decidiu mostrar algo que estava na minha frente o tempo todo: no meio das imagens de santo que guardava no altar do seu quarto, encontrei uma imagem de Oxum brilhando. A Mãe do Amor me comprovou mais tarde a ligação entre as duas. Tudo fez sentido, seja o quintal de vó repleto de lírios e margaridas, o mel que nunca faltava no armário (ela era diabética!) e até mesmo as muitas (muitas mesmo) imagens de Nossa Senhora Aparecida. Mesmo que eu ainda não seja tão dedicada às doutrinas religiosas como vó, sinto o olhar da sua encantada me acompanhando e guiando entre as ruas conturbadas da vida. Outros encantados me seguem, uns possivelmente meus (Saluba, Nanã!), mas a maioria é de vó. Ela não me deixou sozinha e nunca vai deixar. Ela apareceu para mim em D'Oxum, cantada por Karynna Spinelli."

  • O cinema de Adelina Pontual

    Nesse vídeo ensaio, nossa colaboradora Samara Torres faz uma imersão nos trabalhos de Adelina Pontual e mostra como os aspectos de espacialidade, gênero e mistério se conectam dentro do universo criado pela diretora e se tornam marcas do seu trabalho.

  • Adelina Pontual, o legado do Vanretrô e a continuidade

    Entre suas obras mais famosas estão os curtas Cachaça (1995), Veio (2005) e o documentário Rio Doce CDU (2013). Tudo começou na Universidade Federal de Pernambuco, quando um grupo de amigos inquietos descobriram um interesse em comum: a vontade e o desejo de fazer cinema. Formado em sua maioria por estudantes de Comunicação, o Vanretrô, nome dado posteriormente ao grupo, foi um importante acontecimento do Cinema Pernambucano. Foram eles, os responsáveis por colocar o estado na cena do audiovisual lá nos anos de 1980. Hoje, os idealizadores daquele grupo, que tinha nome que mais parecia de uma banda de rock, são de grande importância na produção audiovisual do país. Entre eles, está Adelina Pontual. Nascida no Recife, Adelina é uma diretora, roteirista e continuísta. Entre suas obras mais famosas, estão os curtas Cachaça (1995) e Veio (2005). Com o curta Cachaça, a cineasta fez um prenúncio para a quebra de uma estrutura de fazer cinema muito tradicional. Em 2013, ela nos levou em uma viagem pelos subúrbios de Recife e Olinda, no seu primeiro longa, o documentário Rio Doce/CDU. Seguindo o itinerário da famosa linha de ônibus, Adelina revelava em seu filme uma diversidade de paisagens urbanas e de tipos humanos que habitam aquelas ruas. Como continuísta, ela é uma das mais conhecidas e prestigiadas do país. Exerceu essa função em mais de 20 longas metragens nacionais, como Central do Brasil (1998), de Walter Salles, Carandiru (2003), de Hector Babenco, Era Uma Vez Verônica (2012), de Marcelo Gomes, Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda e Piedade (2017), de Cláudio Assis. Nesta entrevista, Adelina conversou com o Spia e falou sobre sua relação com audiovisual, o papel do continuísta, o Vanretrô e como ela imagina que será o audiovisual depois que a pandemia acabar. Adelina, falar de cinema pernambucano é falar do Vanretrô, qual a importância desse período para sua formação dentro do cinema? Foi importante no sentido de descobrir uma vocação, de que era isso que eu queria fazer. E que foi onde todos descobrimos aquela época e nos juntamos e criamos o grupo para batalhar por isso. Tentar fazer um curta-metragem que a gente pensou e elaborou um roteiro. Então foi por aí, essa coisa do início mesmo, da descoberta, de descobrir juntos, de tentar juntos. Foi muito bom ter o grupo, o apoio que um dava ao outro. O cinema pra mim é aquilo: “ninguém inventou a roda”, toda invenção de cinema, de linguagem, já veio, já aconteceu, e o que a gente faz é dar um olhar próprio aquela coisa. Já fazem 35 anos do Vanretrô, naquela época vocês queriam assumir as referências passadas, mas também propor uma estética vanguardista. Você acha que o atual cinema (brasileiro/pernambucano) tem seguido essa mesma linha? O cinema pra mim é aquilo: “ninguém inventou a roda”, toda invenção de cinema, de linguagem, já veio, já aconteceu, e o que a gente faz é dar um olhar próprio àquela coisa. Dar uma reciclada. Mesmo que a pessoa não tenha uma experiência, acho que de alguma forma aquele tipo de narrativa já foi feito em algum lugar do mundo. Pra mim, esse olhar pro passado é muito importante, buscar sua linguagem e maneira de expressão do que se fez na história do cinema. O start para fazer cinema já existia quando você era criança? Na verdade, não! Foi uma coincidência astrológica de tá todo mundo ali e todo mundo ir despertando junto. Foi na faculdade mesmo. A gente entrou pra comunicação, todo mundo pensava em fazer jornalismo, mas foi ali que se descobriu que tinha afinidades cinematográficas, que a gente gostava de cinema e porque não fazer, né? E tinha Paulo Caldas que já fazia super 8, aí foi chamando atenção e despertando para isso. Eu não fiz Super 8, mas o fato dele fazer instiga a gente. Também tinha Lírio Ferreira que trabalhou em algum filme de Paulo, acho que Samuel também, mas não estávamos tão envolvidos diretamente com isso. A gente se envolveu com a ABD, que é a Associação de Documentaristas de Pernambuco, porque a gente entendeu que o caminho tinha que ser por luta política, então todos nós, em peso, entramos na ABD. Entramos juntos e tentamos maneiras de como conseguir auxílio, já que o Cinema Pernambucano tava parado, e o ciclo do Super 8 tava acabando. Na verdade, Paulo Caldas foi um dos últimos a fazer filmes Super 8. Poucos conhecem o que é e qual o trabalho de um continuísta, fala um pouco sobre essa função. É muita coisa. É uma oficina inteira sobre isso. Então, todo mundo tem uma ideia meio equivocada sobre continuidade, achando que continuidade é só pra cuidar de questões do figurino, de maquiagem, ação de ator (...), mas a gente é uma espécie de assistente de direção também e que está muito ligada a esse trabalho de direção. Porque tem uma questão de linguagem cinematográfica que o continuísta tem que dominar e estar a postos para entender o filme que está fazendo e ver como determinadas regras podem ser aplicadas ou não. Determinadas regras que vêm desde do momento que o cinema começou a se firmar como linguagem narrativa, e que essas regras foram se consolidando até o cinema clássico, e nesse cinema clássico essas regras já estavam totalmente consolidadas, que são as regras de continuidade. Hoje em dia você tem que dominar essas regras e saber até que ponto elas podem e devem ser aplicadas no filme ou não. E, além disso, cuidar também de toda essa coisa da continuidade aparente, que é figurino, maquiagem, objetos, cenografia. Confira as obras de Adelina Pontual disponíveis na Cinemateca Pernambucana O roteiro de um documentário é mais aberto que o de um filme de ficção. Seu primeiro longa-metragem (Rio Doce CDU) foi um documentário, como o teu trabalho de continuísta ajudou na produção do doc? Como continuísta eu acho que não ajudou muito, porque esse trabalho está mais ligado ao cinema narrativo de ficção. É muito mais o trabalho de montagem, de pensar e montar. Na verdade, a continuidade tá ligada à montagem, mas não no sentido de montagem documental e sim a montagem narrativa, porque você, como continuísta, tem que garantir que o filme depois de montado, seja editado. Por isso que existem essas regras. Para que o filme tenha uma edição fluida, aquela edição invisível, bem clássica do cinema americano. No documentário a gente tem que pensar mais em estrutura e isso tem a ver com montagem, mas montagem no outro sentido, que não é do cinema narrativo. Não deixa de ser uma narração, o doc, mas é outra coisa. É você pensar em estrutura e não em fluidez. É pensar na estrutura de como aquele filme vai se estruturar para resultar em um bom filme, que envolva as pessoas e que seja um filme com conteúdo e que aquele conteúdo esteja bem expresso naquele tempo de duração do filme. Assista ao trailer do documentário Rio Doce CDU E como foi o processo de montagem do documentário? Eu escrevi o projeto em vários editais até conseguir, não foi de primeira não. Eu fiz o roteiro, mas como tem a coisa do ônibus, então no roteiro eu trabalhei em cima do itinerário do ônibus. Eu tinha o roteiro bastante amarradinho, até demais pra ser um documentário. Porque tinha essa estrutura cíclica que é o trajeto do ônibus. Foram 8 semanas de trabalhos tanto dentro do ônibus, quanto fora, porque fazia parte do roteiro e da estrutura fazer as paradas. Eu chamava de paradas exploratórias, que era parar nos vários bairros que ele passava, escolhia determinados pontos e ia observando. É um documentário muito observacional. E observar os locais e ter alguns personagens que falassem. A ideia era essa, personagens anônimos dos próprios bairros, não queria gente famosa. Gente anônima dos bairros que falassem da cidade, porque na verdade o que eu queria falar era sobre a cidade, que no fim, com a escolha do Rio Doce – CDU, ficaram duas cidades, Recife e Olinda. Toda ideia dele parte dessa ideia do observador que viaja de ônibus. Uma pessoa que viaja de ônibus e observa a sua cidade. Então procuramos esses personagens de pessoas comuns e anônimas. E que tivesse alguma relação com esse ônibus, que foi escolhido por ser uma linha de ônibus muito antiga do Recife e Olinda. Uma linha tradicional e por ela fazer esse trajeto tão sinuoso de entrar por vários bairros. Depois das filmagens o processo de montagem foi bem longo, durou um ano, mas não corrido. A gente montava, parava, dava um tempo. Voltava, revia o material e aí ia trabalhando. E o contato com essas pessoas e histórias anônimas? A gente fez um trabalho de pesquisa anterior. Fizemos o percurso do ônibus em diversos horários e dos personagens a gente também fez o itinerário a pé e dessa forma a gente encontrou pessoas. Claro que durante as filmagens apareceram pessoas que não estavam nem previstas na pesquisa, mas foi muito legal encontrar e fazer. Agora, depois da pandemia as coisas mudaram completamente, como você acha que o cinema de hoje vai reagir amanhã? Eu fico me indagando como vai ser essa volta, da gente conseguir produzir de novo. É preciso a vacina pra isso acontecer, não tem como ficar fazendo teste em todo mundo, porque a gente sabe que isso ainda é arriscado e caro. Mas, acho que criativamente vão nascer várias coisas, porque tá todo mundo pensando seus projetos, escrevendo (...). Quando abrirem novamente as portas e disserem pode ir, acredito que vá sair um monte de coisa, um monte de coisa boa. Entrevista realizada por Hanna Aragão para o Especial Mês da Mulher.

  • Miremos nuestras histórias, nuestros puentes, nuestros pueblos y nuestros colores

    Um relato sobre a direção de produção de “King Kong en Asunción”, longa-metragem de Camilo Cavalcante. Por Amanda Nascimento* 5 de março de 2021 No trabalho (INT/DIA): -Alô? Quem é? -É Camilo Cavalcante. Tudo bem? Olha. Vou te enviar um email com um roteiro para um possível trabalho. Por telefone. Foi assim que “King Kong em Asunción” me chamou. Essa ligação mais pareceu a sensação de quando recebi o email, em 2008, de Patrícia Martín, coordenadora dos estudantes latino-americanos, dizendo que eu teria sido a última integrante do taller de dirección de actores, que aconteceria no verão caribenho, na Escuela Internacional de San Antonio de Los Baños (EICTV), em Cuba. Oportunidades que dividem a carreira de qualquer um que tem como propósito a integração da América Latina, através do Cinema. Reunião marcada, prestes à recusa. Sabia mais ou menos a escala que este filme iria proporcionar a quem ousasse se envolver. Ousar? Sim, ousar. Deserto, penhascos, fronteiras, estradas (quase) sem fim. Seria imprescindível ter uma equipe guerrilheira e ousada para topar tudo que viria pela frente de um projeto como este. Queria recusar, mas como fazer isso para um trabalho que tem tudo a ver com o meu propósito de vida? Repetindo sempre “propósito”, esta palavra que anda sendo espalhada por aí. Um filme de fronteiras. Ou melhor, sem fronteiras. Como já diz o nome, “King Kong en Asunción” é um drama existencial pelas “veias abertas da América Latina”, como o título icônico de Eduardo Galeano. Um desafio de produção tríplice fronteira entre Paraguai, Bolívia e Brasil. Imagina ir buscar locações/ pesquisar/ reconhecer o roteiro (Tech Scout) e encontrar Werner Herzog (filmando)? Foi exatamente isso que aconteceu. Poderia ser qualquer outra pessoa, mas era Herzog filmando o seu “Sal y Fuego”, no Salar de Uyuni, deserto de sal da Bolívia. Perdidos, chegamos bem na hora em que ele estava livre para uma foto. Coincidência ou presságio? Estar perdido nem sempre é um mau negócio. Ao voltarmos, percebemos a real escala do que seria o filme. Das mudanças climáticas a ter como realizar financeiramente como queríamos que fosse. Encontramos um Golpe de Estado no Brasil e uma hérnia de disco no meio do caminho. Era o primeiro sinal que as políticas públicas para o Cinema Brasileiro iriam retroceder. Uma longa espera pela frente. A equipe cresce. Seguiríamos na espera. Em 2016, estávamos quase prontos para a nossa rodagem. Fui sozinha na frente. Desafio dobrado. Na mala, a missão e os adjetivos: mulher brasileira, de cinema... Seria bem bom que estes fossem exemplificados (e romantizados) como os versos da música “Ela faz Cinema”, de Chico Buarque, mas, basta atravessar a fronteira, que outras camadas fronteiriças chegam rápido. Pensamos em uma estratégia diplomática para a segurança. Deu certo. Aí está a importância das embaixadas brasileiras nos road movies de fronteiras. Gratidão à Embaixada do Brasil na Bolívia pela assessoria e cuidado. Desde quando souberam do projeto, nunca soltaram a nossa mão. Além disso, tivemos a hérnia de disco adiando mais uma vez nossas filmagens. Era novembro, o Salar do Uyuni estava cinza. Realmente, ainda não era a hora de apertarmos rec. Com o diretor dentro de um bloco cirúrgico, teria que aceitar e seguir a “pré-produção” solitária, pois havia casting, negociação de locações e muito o que fazer. Pedir licença aos aimarás (povo indígena) era fundamental. Não se filma sem a autorização deles. Não só para registro audiovisual no território deles, mas também tê-los na frente das câmeras. A história de Cristóvão Colombo não vale lá. No caso do Salar de Uyuni, é um território subdividido em várias microrregiões e cada uma tem um cacique. É preciso muita negociação, diplomacia e conquista de confiança. Saindo da Bolívia e entrando no Paraguai, no Chaco paraguaio não é muito diferente. Na zona rural da cidade de Filadélfia, encontramos aldeias e caciques. Para filmar, é preciso uma permissão. A América Latina (ainda) é habitada pelos seus povos originários, aos quais se deve ter muito respeito e buscar descolonização: Ayoreos, Guaranis, Aimarás, Xukurus, Pataxós, Pankararus, entre outros. A Pachamama, grande nação. Não tem como falar neste continente geopolítico sem frisá-los. Miremos nuestras histórias, nuestros puentes, nuestros pueblos y nuestros colores. Não precisamos ir muito longe. Somos bonitos, alegres, competentes. Em 2017, passadas as filmagens na Bolívia e no Paraguai, depois de alguns meses, chegamos em Amaraji, município da zona da mata sul de Pernambuco. Apenas uma diária, mas de uma importância fundamental para a narrativa. Um novo elenco e outros técnicos que pareciam fazer parte da mesma família. Pareciam todos estarem destinados. De cima pra baixo: Alba Azevedo (controller), Amanda Nascimento (diretora de produção), Luján Riquelme (figurinista), Carol Vergolino (produtora executiva), Regiana Rial (Jaheka Casting), Pamela Paredes (assistencia de produção), Gessyka Toro Rodriguez (assistente de arte), Karen Fraenkel (diretora de Produção) - Foto: acervo pessoal Família? Neste filme, a equipe foi família. Em uma variável de 29 pessoas trabalhando em trânsito, não teria como ser diferente. Como diretora de produção, “King Kong em Asunción” não só me possibilitou conhecer um pouco de excelentes profissionais do mercado latino-americano, mas ter essa percepção do cinema horizontal que aprendi lá na EICTV, em Cuba, onde todos da equipe têm a mesma importância: os motoristas, as cozinheiras, os assistentes de todos os departamentos, as costureiras... Absolutamente todos com o mesmo tratamento. O cinema que nasci para executar. E, neste filme, teve. Foi bonito e prazeroso fazer. Um exemplo de produção colaborativa. Ou fazíamos juntos, ou não concluiríamos. Talvez todo esse relato explique os kikitos, os Labrfs, os prêmios no FEST Aruanda, a seleção no FAM, no Utopia ou a participação em outros festivais. Mas nada explicará, para além das estratégias de produção, o que fez levar nosso amigo-protagonista antes de ver o filme e de não poder viver tudo isto que estamos vivendo agora. Que o nome e trabalhos de Andrade Jr. sejam sempre honrados. Texto dedicado a Andrade Jr. (in memorian), a Camilo Cavalcante pela oportunidade e aposta no meu trabalho e a toda a nossa equipe guerrilheira, por nunca desanimar, sobretudo às mulheres, las madres del “King Kong en Asunción”. Adelante vamos. * Amanda Nascimento é diretora de produção, pesquisadora e assistente de direção de Cinema, jornalista (DRT-3931/PE) com especialização em Diplomacia e Negócios Internacionais.

  • Kátia Mesel e o cinema pernambucano: "É o cinema mais heterogêneo do Brasil"

    Cineasta já acumula 50 anos de carreira e mais de 300 filmes entre curtas e longas Dona de uma criatividade incansável e de um espírito livre e contagiante, Kátia Mesel é um dos grandes nomes do audiovisual pernambucano. Com 50 anos de carreira, e mais de 300 filmes produzidos, foi a primeira realizadora do audiovisual pernambucano que se tem registro, além de ser a primeira mulher a ter participado de um festival de cinema no Brasil, em 1973. Entre curtas e longas, passando pelo Super-8 até o digital, ela coleciona pioneirismos. Formada em Arquitetura e Artes Gráficas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a diretora, produtora e roteirista, começou a utilizar a Super-8 ainda no começo da graduação e logo iniciou a carreira de cineasta, misturando sua formação de arquiteta e dando uma nova perspectiva ao cinema. Kátia falou com a Spia sobre sua história e vida real, seu grande interesse enquanto documentarista, sua produtividade em período de confinamento e o cinema pernambucano de hoje. Como está sendo esse período de pandemia? Engraçado, na realidade não mudou muito. Eu moro sozinha e minha produtora é aqui em casa. Eu sou uma pessoa que vivo muito só. Estou sempre fazendo alguma coisa, escrevendo, revendo, pesquisando, sempre criando, então se fosse apenas o isolamento seria normal. Eu não sou mais tão festeira, que eu era muito, fui deixando de sair de noite. Passei três meses em Aldeia na casa do meu filho mais velho e quando voltei, a primeira coisa que eu fiz foi um curta. Feito aqui em casa, chama-se “A Volta”, inclusive, está no meu canal do YouTube: Kátia Mesel. Estar sozinha pra mim não é problema. Mas vou dizer, sair de máscara pra mim é uma tortura. “Olha aí, você não gosta tanto de fotografar, o moderno agora é fotografar em movimento.” Quando foi que você começou a fazer cinema? O estalo foi meio do nada, porque eu estudava arquitetura, fotografava muito. Eu tinha uma câmera maravilhosa e vivia fotografando tudo. Em 1978 meu pai e minha mãe viajaram para Europa e me trouxeram uma câmera 8mm. Chegaram e me disseram: “Olha aí, você não gosta tanto de fotografar, o moderno agora é fotografar em movimento.” Caiu do céu, eu não tinha a mínima noção, não tinha curso de cinema, não conhecia ninguém que mexesse nela. E aí a câmera chegou na minha mão, primeira coisa que vai fazer é o que? Filmar ao redor! Então foram filmagens muito experimentais, só olhando o mundo. Depois eu adquiri um super 8, aí já ficou melhor. Porque essa de 8mm demorava três meses pra gente saber o que é que tinha filmado. Mandava revelar no Panamá. Não fazia cópia, o filme, a película dele era positivo. Então, não foi uma coisa que eu gostaria de fazer, caiu do céu pra mim e eu gostei, me identifiquei. Aos poucos fui me desestimulando de arquitetura e fui entrando pra cinema e fiquei. Confira as obras de Katia Mesel disponíveis na Cinemateca Pernambucana O super 8 foi a porta de entrada para muitas cineastas no cinema, como foi o momento pra você? O ciclo super 8 foi um ciclo mais teórico do que de fato um movimento. Não eram pessoas que, eventualmente, se encontravam e construíam coisas juntas, não vejo como um movimento. Você é formada em arquitetura, queria saber como o curso influenciou e influencia nos teus trabalhos? Eu fazia arquitetura e artes gráficas. Acho que os dois cursos foram fundamentais pra minha estética cinematográfica. Arquitetura como tridimensional, noção de espaço, perspectiva, de claro e escuro, iluminação. E artes gráficas, a composição, o contraste. Foram coisas que foram se complementando, tanto esteticamente, como tematicamente, porque meu primeiro 35mm foi sobre arquitetura tropical, baseado num livro de Gilberto Freyre chamado “Oh de Casa”, o filme também tem o mesmo nome. Esse experimentalismo que eu falo tem muito de ambiências, de lentes, de estranhezas, de movimento de câmera, tudo isso e que eu acho que tá tudo ligado a esse meu lado estético e espacial de arquitetura e artes gráficas. E a coisa da técnica eu fui me adaptando ao que era, ao que eu queria. Boa parte das tuas produções são documentários. Foi uma escolha natural? Mais de 90% são documentários, embora eu transite um pouco pra ficção. Foi tudo bem natural, até pelo meu início, que foi bem experimental. Eu comecei a usar a câmera ao meu redor. O que me encanta e que eu gosto mesmo no documentário é que eu acho que a verdade é muito mais surpreendente do que o que a gente consegue inventar. Tem cada coisa tão louca nessa vida, coisas impressionantes. A ficção por mais que você se esmere, vai ser baseada em fatos reais, vai ser baseado em alguma experiência real, eu gosto muito do documentário por isso. E eu adoro filmar na luz do dia, filmar em luz natural e isso é mais difícil na ficção, não que não seja possível. Como o documentário não tinha isso de ensaiar, era a minha aproximação com a pessoa, o foco do tema, ir conversando e tornando aquele papo natural. Acho que é um dom que eu tenho, que é tornar uma conversa fluente e agradável, sem ser aquela coisa técnica. O que não tá errado, cada um faz do jeito que quiser, mas eu tenho essa facilidade de chegar. Você foi a primeira realizadora a participar de um festival de cinema no Brasil, em 1973, com seu filme “Rotor”. Como essa participação foi recebida se tratando de um contexto de ditadura militar? Era um festival promovido pela Universidade da Bahia, então era uma coisa bem oficial. Mesmo sendo na ditadura não tinha nenhum clima de guerrilha, nem de protesto. Era super 8, era uma coisa muito iniciante. Não cheguei a ir fisicamente, mandei meu filme, Rotor. Foi um trabalho de luzes, numa festa de rua com o povo, roda gigante, tudo muito iluminado. Eu fiz todo um experimentalismo com luzes, mexendo, subindo, de cima pra baixo, de baixo pra cima. Aí o pessoal da Embrafilme disse “Kátia, tem um festival na Bahia de filmes universitários, você não quer participar?”. Eu já tinha mostrado no teatro do parque também, e aí mandei. Trinta anos depois, quando foi editado o livro “ABD 30 Anos", eu soube que fui a primeira mulher a participar de um festival de cinema no país. Eu não sabia. Você foi casada com Lula Côrtes, como a obra dele influenciou seus trabalhos? Fomos casados, fomos ‘juntados’, por dez anos. Nós nos conhecemos no TPN, Teatro Popular do Nordeste. Eu estudava arquitetura ali pertinho e Lula ia lá, tinha o pessoal tocando. Ele tinha chegado a pouco tempo em Recife, tinha morado um tempo em Minas e era meio escanteado porque era aquela pessoa meio agoniada, falava muito, o tempo todo. A gente trombou e foi um magnetismo. Tinha, praticamente, um centro de artes na minha casa. Eu sou a mais velha de sete filhos e a gente tinha um quarto de estudos, laboratório de fotografia, gravador de som, ninguém tocava, mas escutamos de tudo. Todo mundo ia pra Europa, EUA, trazia os últimos lançamentos. Quando a gente se juntou, Lula Côrtes trouxe todo um repertório musical a mais, começamos um movimento musical. Eu fiz vários livros dele, vários Lp’s, exposições dos quadros dele, fiz filhos (risos). A formação dele era mais erudita, mais clássica, como sou pernambucana raiz fui introduzido ele à algumas coisas da nossa cultura. Por falar em Pernambuco, como você enxerga o Cinema Pernambucano hoje? Hoje, para mim, é o cinema mais criativo, incrível, questionador, heterogêneo que tem no Brasil. Nenhum cineasta faz parecer que é um movimento, não é um movimento cinematográfico pernambucano. Cada um faz o seu cinema, do seu jeito, usando, quase na maioria das vezes, técnicos pernambucanos, gente local, da nossa região. Hoje, para mim, é o cinema mais criativo, incrível, questionador, heterogêneo que tem no Brasil. Cada um do seu jeito, com sua pegada. Uma pegada pela sensibilidade, outra pela ferocidade, outra pelo humor, outra pela desconstrução. Adoro essa multiplicidade, essa independência do cinema pernambucano para o resto do Brasil e a independência de cada cineasta nesse panorama audiovisual local. Boa parte dessas produções, se não todas, acontecem através de algum incentivo do Estado, como você enxerga esses incentivos? Eu acho que são importantíssimos, inclusive eu fiz parte da primeira comissão que criou o Sistema de Incentivo à Cultura (SIC) estadual, que foi antes do FUNCULTURA. Agora, o que me preocupa demais é a dissociação dessas comissões julgadoras, que são pessoas de fora do nosso estado e que não levam em conta uma série de coisas, inclusive da credibilidade de execução. Disseram no projeto “em momento de pouca verba temos que ter certeza da execução”. Meu deus do céu! Eu tenho cinquenta anos no mercado, nunca deixei de fazer um projeto que submeti. Pessoas de Pernambuco jamais diriam isso. Isso me preocupa demais. Para mim é o grande defeito sermos julgados por outras cabeças, por outras estéticas. Gente que faz comediazinha carioca claro que vai ter outra mentalidade. Entrevista realizada por Hanna Aragão e Adelvando Queiroz para o Especial Mês da Mulher..

  • Carnavalença

    Como despedida do carnaval que não tivemos, nossa colaboradora Maria Clara Mendes produziu esse vídeo ensaio mostrando um dos maiores símbolos do carnaval pernambucano: Alceu Valença. As imagens desse vídeo foram retiradas de vídeos publicados no YouTube por Alceu Valença e pela Indie Records. Música: O homem da meia-noite (Alceu Valença e Carlos Fernando). Narração: Maria Clara Mendes Vídeo produzido para o Especial de Carnaval.

  • Carnaval como paixão, sangue e pesquisa de Amilcar Bezerra

    Professor e pesquisador pela Universidade Federal de Pernambuco, Amilcar Bezerra também é músico e compositor. Não por acaso, todas essas áreas tem um eixo em comum: o frevo. O frevo está presente na vida de Amilcar desde sempre. Essa relação de berço, foi construída através da relação de seus pais com o carnaval. A paixão pelo ritmo seguiu e hoje, faz parte da sua vida profissional. Através de algumas obras específicas, como o trabalho do compositor e cronista Carlos Fernando na série de discos Asas da América, o professor percebeu no frevo muito mais que um ritmo eletrizante. E esse foi um dos pontapés para inúmeros projetos seus sobre o carnaval e o frevo. Projetos esses que se misturam com a sua vida pessoal e profissional. Nesta entrevista, a Spia conversou com ele sobre carnaval, frevo e a obra de Carlos Fernando e também sobre o não tão recente trabalho como músico e intérprete. Qual sua relação com o carnaval? A minha relação com o carnaval vem desde muito cedo, porque meus pais são muito ligados ao carnaval. Quando eu nasci, meus pais já faziam parte do Bloco da Saudade. O bloco surgiu em 1974, e no carnaval de 1976 ou 1977, eles desfilaram pela primeira vez. Desde muito pequeno eu sempre me acostumei a ver meus pais se mobilizando para brincar de carnaval, se fantasiando e participando das prévias. No ano de 1980, minha mãe assumiu a presidência do Bloco da Saudade. A partir disso, a casa da gente passou a ser uma sede informal do bloco, então eu cresci numa espécie de barracão de uma escola de samba, sempre quando chega a época do carnaval a casa deles fica repleta de fantasias, com ensaios e reuniões do bloco. Minha mãe ainda é presidente do bloco, são 40 anos à frente do bloco já. Eu cresci ouvindo muito frevo, e diferente da maior parte das pessoas que gostam de carnaval e frevo, na minha casa se escutava frevo o ano inteiro. Nisso, eu acabei gostando. As vezes os filhos se rebelam contra os gostos e comportamentos dos pais, mas nesse aspecto eu acho que eu incorporei muito isso. Eu sempre gostei de frevo, sempre gostei de carnaval. Comecei a desfilar muito cedo, com 10 anos eu fui ao meu primeiro desfile. As primeiras músicas que eu aprendi a cantar foram músicas de carnaval, com dois anos de idade eu já cantarolava algumas músicas do repertório do bloco. Desde muito cedo o carnaval já estava no sangue. Foi daí que surgiu a vontade de escrever um livro contando a história do Bloco da Saudade? A ideia do livro surgiu em 2004, o Bloco da Saudade fez 30 anos em 2004. Nesse ano, o bloco lançou o terceiro CD, se eu não me engano. Eu estava concluindo o mestrado e essa ideia apareceu junto com Lucas Victor, que é um amigo de infância e também é muito ligado ao carnaval. Lucas tinha concluído o mestrado em história e eu estava concluindo um mestrado em comunicação, e tivemos essa ideia de apresentar um projeto no Funcultura para contar a história dos 30 anos do bloco da saudade. O projeto foi aprovado, tivemos quase um ano de pesquisa, fizemos uma série de entrevistas e o livro foi lançado no carnaval de 2005. Eu me lembro que a gente lançou o livro em um ensaio do Bloco da Saudade e só no dia do lançamento a gente vendeu mais de 200 livros. Esse livro está esgotado hoje, mas estamos pensando em fazer uma edição maior e mais arrojada dele. A gente fez uma pesquisa que resultou em um CD Rom, que vinha anexado ao livro, com muitas fotos, depoimentos e entrevistas. A gente tem pensado em lançar em um outro formato já que ninguém mais tem CD Rom. Foi uma experiência muito bacana, é uma espécie de livro reportagem, mas com uma contextualização histórica muito embasadas por conta das pesquisas de Lucas. Ele é um pesquisador do carnaval, a tese dele no doutorado foi sobre o carnaval do recife na primeira metade do século XX. O resultado ficou muito bacana, apesar de já ter 15 anos, eu sempre pego para reler e é uma coisa que eu me orgulho muito de ter feito. Essa foi sua primeira vez pesquisando sobre o carnaval? Não, eu já tinha feito alguns trabalhos na faculdade sobre blocos de carnaval. Em disciplinas de graduação mesmo, tinha uma disciplina de pesquisa que a gente fez algumas entrevistas, eu e meus colegas de faculdade, com alguns dirigentes de blocos de carnaval do Recife, visitamos vários blocos. Produzimos um documento falando sobre a situação dos blocos na época com essas entrevistas todas, isso no final dos anos 90. Infelizmente, esse trabalho se perdeu. Mas eu posso dizer que essa sim foi minha primeira experiência como pesquisador nessa área de agremiações de carnaval. Além do frevo em si, a obra de Carlos Fernando é uma das suas pesquisas, como foi que você chegou até ele e começou a pesquisar ele? Carlos Fernando, foi um compositor caruaruense que - apesar da principal obra dele ser a série de LPs Asas da América, que é uma série de LPs de frevo, cantado por grandes intérpretes da MPB (ele não era cantor, era só compositor) - tinha uma capacidade de articulação muito grande. Ele foi capaz de trazer para cantar no mesmo disco Chico Buarque, Caetano Veloso, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Alceu Valença, entre outros. Ele foi o primeiro produtor, que conseguiu reunir tantos medalhões da MPB em um mesmo LP. Para cantar músicas que eram dele, esses medalhões eram cada um de uma gravadora, então você tinha uma série de impedimentos legais. Ele foi capaz de passar por tudo isso e convencer as gravadoras e os artistas a cantarem as canções dele. São, ao todo, 5 LPs da série Asas da América, que foram lançados entre 1979 e 1993. Essa, é exatamente a época de minha infância e pré-adolescência, então, muito embora, na casa dos meus pais o Asas da América não fossem muito escutado, porque meus pais gostam de um tipo de frevo mais tradicional e mais antigo, meus tios e primos que eram mais jovens escutavam muito o Asas da América. Eu me lembro de adorar as musicas, que era um arranjo mais moderno, era uma pegada mais pop. Eu me apaixonei pelo Asas da América ainda criança. Uma das coisas que me incomodava, quando eu me tornei adulto e passei a pesquisar o carnaval com mais seriedade e frequentar mais prévias, era que não se tocava não se tocava as músicas do Asas da América nas prévias carnavalescas de Recife e Olinda e nem no carnaval. Dificilmente você escutava qualquer coisa do Asas da América, e eu achava aquilo um absurdo porque tem músicas muito mais antigas que tocam repetidas vezes no carnaval e tinha coisas mais recentes do Asas e as pessoas não conheciam. Eu descobri que não era o único que pensava assim. Lucas, que escreveu o livro comigo, também era fã do Asas. Essa galera da minha geração que cresceu escutando discos dos anos 80 também curtia bastante. Para entender mais da obra de Carlos Fernando, leia o artigo escrito por Amilcar Bezerra: “O Frevo vivo de Carlos Fernando”. E foi aí que surgiu o “Quero ver Quem vai”? A gente começou a tocar músicas do Asas em farras que a gente fazia. De vez em quando a gente fazia uns saraus, se junta pra cantar e tocar. Tínhamos esse hábito de nos juntarmos em um bar para tocar violão e tomar cerveja. E quando era uma farra mais próxima do carnaval a gente tocava muita coisa do Asas. Para nossa surpresa, pessoas que estavam sentadas próximas conheciam as músicas, chegavam perto, iam cantar com a gente, perguntavam como é que a gente conhecia, dizia que escutava na infância, etc. Esse feedback positivo das pessoas e o repertório que a gente gostava de cantar, fez com que a gente criasse uma agremiação, sobre o Asas da América, que é o "Quero ver quem vai". Ele foi criado em 2015, não tocamos só Asas da América, mas agregamos ao repertório vários frevos de artistas da MPB que participaram do Asas da América, mas que também tinham outros trabalhos de frevo. Então, tocamos sempre Caetano, Gilberto Gil, tocamos muitos frevos de Moraes Moreira. É uma proposta que a gente sentia muita falta aqui, que era tocar esse frevo mais próximo da MPB, que era representado tanto pelo Asas da América quanto por algumas canções que esses artistas da MPB gravaram, eventualmente, frevo. Fomos atrás desse repertório de frevo desses artistas e incorporamos ao Quero ver quem vai. Nas terças-feiras de carnaval a gente faz essa farra no bar Royal, que é um bar do Recife Antigo. Ano passado a gente tinha quase 400 pessoas assistindo. Começamos a nos profissionalizar também, colocar amplificadores, mesa de som, ensaiar mais porque vimos que estava chegando muita gente e não queríamos passar vergonha. Hoje, a brincadeira virou uma coisa mais profissionalizada. Essa coisa do "Quero ver quem vai" surgiu em paralelo com a vontade de pesquisar Carlos Fernando. O bloco surgiu em 2015, para executarmos as músicas de Carlos Fernando e ao mesmo tempo eu fui me interessando também em pesquisar sobre a obra dele. Por que o “Asas” não ganhou o mundo? Eu tenho uma hipótese sobre isso. Pelo menos aqui em Pernambuco as músicas de Carlos Fernando não são muito tocadas por dois motivos: primeiro porque ele produziu os discos no Rio de Janeiro; são discos que foram produzidos por grandes gravadoras nacionais, enquanto o repertório clássico do Recife foi praticamente todo gravado aqui pela rozenblit. Isso é uma razão. O networking de Carlos Fernando era outro, não era muito ligado ao pessoal do carnaval tradicional daqui, e sim, ligado muito aquele showbusiness das gravadoras do Rio de Janeiro, o que gerou uma certa resistência das pessoas daqui à música que Carlos Fernando produzia. Em segundo lugar, porque era diferente mesmo. O frevo de Carlos Fernando tinha guitarra elétrica, tinha baixo elétrico, não tinha muitas vezes o naipe de metais que é tão característico do frevo em Pernambuco. Então, muitos músicos e jornalistas tradicionalistas aqui de Recife acusaram ele de tá desvirtuando o frevo, diziam que ele fazia frevo "abaianado”, que aquilo não era música de Pernambuco. Havia uma resistência muito grande por conta disso. Porque ele transitava em outro círculo e que não tinha nada a ver com esse pessoal tradicional daqui, e porque a música dele, a música que ele fazia também não era tradicional. Pode ver que as letras dos frevos são diferentes. Falam eventualmente das agremiações e de temas ligados ao carnaval, mas não só isso. Os frevos de Carlos Fernando falam sobre tudo. Isso era uma coisa que ele defendia: “A gente tem que parar com esse negócio de que frevo só toca no carnaval. A gente tem que fazer frevo de todos os assuntos para que o frevo toque o ano inteiro, pra que deixe de ser uma música sazonal.” E ao mesmo tempo ele pensava que incorporando essa linguagem mais pop ao frevo, trazendo guitarra, baixo elétrico, faria o frevo se "desprovincializar", facilitaria o frevo ser escutado por pessoas fora de Pernambuco. Isso que ele achava. Isso tudo gerou muita resistência aqui. Por isso, eu acho que acabou que a música carnavalesca dele não ficou tão conhecida aqui. A parte mais conhecida da obra de Carlos Fernando são as parcerias dele com Geraldo Azevedo. Parte da obra Asas da América está disponível no YouTube. Trazer tua relação com o frevo para o acadêmico, é de certa forma resgatar personagens que normalmente não tem sua importância valorizada? Eu acho que trazer pro acadêmico permite que a gente conheça melhor, permite que a gente reflita sobre o legado dele, sobre a obra dele, mas não é o suficiente para torná-lo conhecido. Para que ele se torne conhecido é preciso que esse legado dele seja divulgado. A academia vai lá e pesquisa, descreve, dimensiona a importância da obra, mas é preciso dar um passo adiante, é preciso que essa obra se torne conhecida. É preciso que a mídia apoie, que os jornalistas produzam matérias, reportagens. É preciso que as escolas encampem isso, falem sobre esses personagens que são importantes pra cidade, para que as pessoas desde cedo tenham a dimensão da importância deles. É muito triste o que acontece com o acervo de Álvaro Lins, por exemplo, em Caruaru. Um acervo valiosíssimo que se estivesse em uma situação bem cuidada, bem acomodado; se estivesse, por exemplo, aberto à visitação pública, ou de pesquisadores, ou de turistas, você teria um foco de turismo cultural, de turismo literário; pessoas que viriam a Caruaru só pra conhecer a coleção de Álvaro Lins. Carlos Fernando era um cara que fazia música popular moderníssima, a poesia dele é super arrojada, os arranjos, tudo. Ele é um artista pop. E você ter esse acervo, esse patrimônio e a cidade não valorizar isso é até meio burro, acho meio maluco. No caso de Carlos Fernando a mesma coisa. Se tem todo um repertório, todo um cancioneiro moderno falando sobre Caruaru. Isso também porque a população não se interessa. Se a população pressionasse e valorizasse, os políticos acabariam valorizando também por tabela. Acho que é um problema geral no Brasil como um todo. Desse lado acadêmico, a gente parte pro teu lado de músico. Em 2019, você interpretou a faixa Senhor da Cartola do disco Um Frevo Impossível de Fernando Duarte . Como foi essa experiência? Isso. Eu interpretei essa música de Fernando Duarte, com ele. Inclusive, essa foi a primeira vez dele como compositor. Ele, que é artista plástico, me falou que desde os anos 90 fazia e gravava músicas em fitas cassetes e deixava esse material guardado. Então, em 2019, ele resolveu transformar essas canções em um álbum. Era um material bem volumoso, então ele selecionou alguns e fez esse álbum com 15 faixas. E aí ele chamou vários intérpretes. Cada faixa é um diferente. A gente não conhecia pessoalmente. Ele sabia de mim porque ele frequentava o Bloco da Saudade e porque ele foi um fã de primeira viagem da banda Quero Ver Quem Vai. Já no primeiro ano da banda, ele já estava lá. Ele é um cara super simples, acessível e muito talentoso. Eu acho que as músicas dele são incríveis. Esse álbum pra mim é todo bom. A música que você gravou com ele lembra um pouco as canções de Carlos Fernando, existe alguma relação? Ele [Fernando Duarte] é muito fã de Carlos. Fã incondicional. Então isso influencia a música que ele faz. Como foi concretizar essa tua experiência com a música, ver uma interpretação tua em um disco? [A faixa Senhor da Cartola] foi a minha primeira gravação em estúdio. Eu já canto há um tempo. 20 anos na verdade, mas de gravação em estúdio, essa foi a primeira vez. Eu devia ter feito isso há muito tempo, mas eu ficava protelando esse meu lado artista, deixando em segundo plano. Eu achava que tinha coisas mais importantes para fazer. Mas chegou um momento da vida, e eu acho que a Eu Quero Ver Quem Vai tem uma participação nisso, de assumir um lugar. Não só eu, mas as pessoas que tocam também. A Eu Quero Ver Quem Vai é uma banda de 10 pessoas e todos são amigos. É o pessoal que fazia farra no bar. A partir de 2015 a gente deu uma guinada quando criou de fato a banda para tocar frevos elétricos. E passou a tratar isso de maneira mais profissional, com ensaios, reuniões, definição de repertório, pesquisas. E isso também despertou um lado meu que é compositor e que estava enterrado, latente. Eu já tinha composto algumas coisas lá atrás. No início dos anos 2000 já tinha gravado um disco com marchas de la ursa, com esses meus amigos. Mas fiquei um tempo sem me envolver com isso seriamente. Foi a partir de 2015 que passei a levar mais a sério e a entender que isso podia ser uma carreira minha, que é paralelo à carreira acadêmica, mas que é uma coisa que pode alimentar a outra. A minha carreira artística pode alimentar a minha carreira acadêmica e vice-versa. Você está planejando alguma coisa, algum futuro projeto? A gente lançou o clipe da música Fogo Branco, trabalho da Joana Francesa e está em fase de produção Dissonância, outro single da Joana Francesa, com produção de Pedro Costa, produtor de Fogo Branco. Além disso, o segundo volume de Frevos Impossíveis, está em fase de execução e Eu Quero Ver Quem Vai, interpretará uma faixa. Entrevista realizada por Hanna Aragão e Márcio Correia para o Especial de Carnaval.

  • "Ao som dos clarins de momo"

    Montamos uma playlist de Carnaval e já vamos avisando: a saudade vai bater forte. Se o mundo estivesse em seu curso normal, nessa semana os carnavalescos de plantão estariam se preparando para a melhor festa do ano. Dessa vez a folia vai ser em casa, mas para aqueles que quiserem matar a saudade a Spia tem uma solução: preparamos uma playlist especial cheia de sucessos que vão fazer qualquer um se sentir dentro do melhor carnaval do mundo. Sim! Não foi fácil fazer essa playlist. Cada música que a gente escutava a saudade batia bem forte. Dessas, uma é especial para cada pessoa da nossa equipe, e como recordar é viver, decidimos falar o porquê dessas escolhas. Amanda Mansur: É a data se aproximando e as lembranças fervendo no imaginário popular. Não tem como fugir, o carnaval começa, continua e termina nas pessoas. Axé ou frevo, é inegável que nessa época a gente não consegue ficar parado, por que independentemente do ritmo nossa memória está impregnada de carnaval. Essa música que escolhi é a cara de Olinda. É impossível para mim pensar em carnaval e não pensar nessa cidade. E também é impossível você passar os dias de folia lá e não ter: chuva, suor e cerveja. "A gente se embala, se embora, se embola Só para na porta da igreja A gente se olha, se beija, se molha De chuva suor e cerveja." Márcio Correia Enquanto eu preparava o texto de divulgação desta matéria com o resto da equipe, passou na minha rua um fusquinha branco, com o som bem alto, tocando frevo. Imediatamente pulei da cadeira e fui correndo olhar pela janela. Passou rápido, mas deixou um sentimento de alegria. Queria uma música que me trouxesse isso e recorri às minhas recordações de carnaval em Garanhuns. A primeira coisa que lembrei foi daqueles jatos de água, feitos de cano. Era certo, todo carnaval meu avô fazia um desses para cada neto. Lembrei também da Garanheta, o carnaval fora de época que tinha lá. E lembrei da Ivete cantando os clássicos da Banda Eva. Minha escolha foi Beleza Rara, esse axé gostoso. Um clássico, que inclusive, só funciona na voz dela. Hanna Aragão Meu primeiro carnaval nas ladeira de Olinda foi em 2020. Eu, Duda, Kaká e um agregado, subimos e descemos aquelas ladeiras os 4 dias de carnaval. Não me arrependo de nada,, mas se a gente soubesse que o mundo acabaria dias depois do fim do carnaval, teríamos aproveitado muito mais. Antes mesmo de viajar, fizemos um grupo no whatsapp para combinar tudo, o nome do grupo quem deu foi Duda: "Elefantes de Olinda". Nem eu, nem Kaká, sabíamos que isso era uma música, na verdade, um hino. E me lembro do dia em que estávamos no meio da folia e essa música tocou, Duda olhou pra gente e disse: "O hino Elefantes de Olinda". Hoje, não posso escutar essa música sem lembrar de nós 3, suadas, lindas, cheias de glitter na cara, e felizes sem saber que o mundo acabaria. Adelvando Queiroz Sem dúvidas, enquanto pernambucano, o frevo se faz presente no meu imaginário desde que me entendo por gente. Mas Escolhi esse axé por ele me transportar para uma memória em específico. A gente cresce vivenciando o carnaval como a festa mais democrática e plural do nosso país; todos os corpos preocupados apenas em se fazerem felizes. E essa música me leva até a minha infância, lá nos anos 90, e me sinto confortável ao lembrar de como em minha inocência e no apagamento das fronteiras das diferenças a gente se permitia ser feliz. Quem imaginaria que passaríamos um ano sem o furdunço nas ruas? É claro que não somos apenas o país do carnaval, mas se tem uma coisa unânime é que ele faz parte de nós. Playlist produzida para o Especial de Carnaval.

  • Documentários de Fernando Spencer resgatam as origens do Maracatu e do Frevo

    Fernando Spencer foi um grande colaborador para a história do cinema Pernambucano. Diretor, roteirista e produtor, é autor de aproximadamente 36 filmes de curta-metragem em diversos formatos. Dos seus filmes, os documentários são os mais recorrentes. Ao resgatar filmes que tenha o Carnaval como tema, além de Capiba ontem, hoje e sempre, Spencer também documentou duas importantes manifestações: o Maracatu e o Frevo. Em Santa do Maracatu, documentário lançado em 1980, o diretor resgata as origens do Maracatu, tendo como base D. Santa, famosa rainha do Maracatu Elefante. O filme de 10 minutos, além de trazer um texto narrado sobre as origens do maracatu, resgata imagens de Dona Santa se apresentando com toda sua graça real. Passeia por seu rico acervo, que hoje se encontra no Museu do Homem do Nordeste, e nos presenteia com imagens do Maracatu Leão Coroado, onde também foi rainha. Já em Trajetória do Frevo, documentário lançado em 1988, Spencer resgata as origens políticas e sociais do frevo, a partir do século XIX. Com narração de Jomard Muniz de Britto, esse filme de 9 minutos, nos mostra como a resistência do povo pernambucano foi importante para o surgimento do frevo e como a capoeira deu forma aos passos e ao corpo do frevo. Os dois filmes estão disponíveis no site da Cinemateca Pernambucana e podem ser conferidos de forma gratuita. Indicação produzida para o Especial de Carnaval.

  • “Desde que haja frevo” é carnaval

    O mini documentário do eterno Fernando Spencer (1927-2014) começa com dois tapas na cara. O primeiro, além do tapa, é um gatilho: Capiba foliando. O segundo, é que o fragmento (sem data) que inicia o filme de Spencer, lançado em 1984, parece ser uma profecia do compositor. Em uma entrevista em meio ao povo (saudades), Capiba solta “o carnaval não tá morrendo, não, quem tá morrendo é o povo”. Claro que não passava pela cabeça do músico a existência de uma crise sanitária e nem a possibilidade de um ano sem o carnaval. O “ufa” disso tudo veio em uma fala anterior: “o [carnaval] que virá será melhor que esse”. Aparentemente Capiba sempre foi certeiro. Nascido na cidade de Surubim, no agreste pernambucano em 1904, Lourenço da Fonseca Barbosa ou Capiba, foi um homem de muitos talentos. Além de músico, pianista e compositor, também se aventurou na pintura e foi até jogador de futebol profissional. Mas é como um compositor de frevos que ele virou uma lenda. Suas canções embalam as comemorações carnavalescas e permanecem até hoje. Ele fornecia ao povo o que o povo queria. No filme, além do fragmento da entrevista, que inclusive é embalada pelo seu grande sucesso É de amargar, Fernando Spencer acompanha o músico pelas ruas de Recife e coloca suas músicas para mostrar, além da capital, as cidades de Igarassu e Olinda. Essa sobreposição das músicas e imagens mostram como Capiba cantou as ruas por onde andou. Spencer faz uma caminhada pelos lugares históricos das três cidades, mostrando o “Capiba de ontem” que canta e conta a história que ele viveu. O “de hoje” se faz presente na breve entrevista com Spencer que, sempre muito direto em suas perguntas, recebia respostas mais diretas ainda. E o “de sempre”, que mal sabia que a sua definição de carnaval, “desde que haja frevo”, faria completo sentido em 2021. Capiba faleceu em 1997 na cidade do Recife. O filme completo pode ser conferido de forma gratuita no site da Cinemateca Pernambucana: http://cinematecapernambucana.com.br/filme/?id=2344 Crítica feita por Márcio Correia para o Especial de Carnaval.

  • Livro que aborda o processo criativo do filme 'Tatuagem', será lançado no próximo dia 20/11

    Invenção de Tatuagem é um lançamento da Cepe Editora sobre a obra de Hilton Lacerda, com autoria de Paulo Cunha, Marcos Santos e Georgia Cruz. A Cepe publica um livro fundamental para jovens cineastas e interessados na nova produção audiovisual brasileira: A invenção de Tatuagem. Ricamente ilustrado, o título aborda o processo criativo do cineasta pernambucano Hilton Lacerda, Tatuagem (2013), que em 2015 entrou para a lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema entre os 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. A publicação é resultado de pesquisa feita pelos autores: Paulo Cunha, Marcos Santos e Georgia Cruz. Eles narram o processo criativo em todas as etapas do primeiro longa de Hilton, desde a ideia inicial até a montagem. O lançamento será no próximo dia 20, às 17h, no pátio térreo da Fundaj do Derby. O evento acontece logo após a exibição do filme, às 15h, na Sessão Cinemateca no Cinema da Fundação. A entrada é gratuita, mas terá limite de 100 espectadores na sala. A Fundaj adotará o protocolo anti Covid. Para quem não assistiu ao filme, Tatuagem conta o romance entre Clécio, líder de um grupo teatral, o Chão de Estrelas, e Fininha, um soldado do Exército brasileiro. A história se passa em Olinda, em 1978, nos primeiros anos da ditadura militar. No livro os autores contam que a obra faz referências afetivas ao grupo de teatro Vivencial, ao ator Pernalonga, ao pop-filósofo Jomard Muniz de Britto e ao diretor Guilherme Coelho. Os três autores leram diferentes tipos de tratamentos do roteiro, estudaram fotografias de cena, consultaram materiais da direção de arte, como cenografia, figurinos e adereços, assim como retornaram às obras que inspiraram o diretor: livros, filmes e histórias. A pesquisa foi realizada no campo dos programas de pós-graduação em comunicação e em design da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Com a força da prosa poética de Jomard no prefácio, a construção do argumento, a discussão cinematográfica sobre o âmbito do Super-8, o universo por trás do filme e o prórpio filme contemporâneo a partir da ótica passada, o livro A invenção de Tatuagem é ricamente ilustrado, com fotos do diretor de fotografia Ivo Lopes, do fotógrafo Flávio Gusmão e do autor Marcos Santos, sem falar das imagens anteriores às filmagens que são de outros fotógrafos, como Ana Farache, que cedeu imagens do Vivencial. O projeto gráfico da designer Sandra Chacon, traz para o leitor a estética do filme. SOBRE OS AUTORES MARCOS SANTOS é integrante do grupo de pesquisa Cultura e Subalternidades: Epistemologias da Subalternidade no Cinema Brasileiro Contemporâneo. Mestre em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco e Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia. PAULO CUNHA - Doutor em Artes e Ciências da Arte pela Universidade de Paris I - Panthéon-Sorbonne e diplomado em História pela École des Hutes Études en Sciences Sociales de Paris, sob orientação do historiador Marc Ferro. Está vinculado, como membro permanente, ao Programa de Pós-Graduação em Design da UFPE. GEORGIA CRUZ - Pesquisadora no LabGRIM - Laboratório da Relação Infância, Juventude e Mídia e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Narrativas Multimídia. Professora do curso de Sistemas e Mídias Digitais da Universidade Federal do Ceará. Doutora em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco e Mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará. SERVIÇO Lançamento de A invenção de Tatuagem Data: 20 de novembro Horário: 17h Onde: Sessão Cinemateca, no Cinema da Fundação do Derby, às 15h, com exibição de Tatuagem, de Hilton Lacerda. Entrada gratuita no limite de 100 espectadores. Com protocolos anti Covid usuais. Às 17h, no pátio térreo da Fundaj do Derby, lançamento do livro. Valor de venda: R$ 70,00 (livro impresso) E-book: R$ 28,00

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A SPIA é um portal colaborativo feito por alunos do curso de Comunicação Social e Design, da Universidade Federal de Pernambuco, campus Agreste. Todo o conteúdo produzido por nós é usado apenas para fins informativos e educacionais.

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