Um mergulho no ato de pensar-escrever sobre um “nós” nas métricas e rimas da arte poética.
Por: Juliana Pinheiro
Foto : Aryel Freire (Podcast Nordestino).
Empresário, graduando em direito, poeta e repentista. Aryel Freire, ou Aryel Poeta, é uma figura essencial para a movimentação do cenário cultural regional do interior de Pernambuco. Crescido em Alagoinha-PE, teve contato com a poesia logo cedo, aos nove anos de idade. Ainda criança, participou de competições escolares escrevendo cordéis e, ao chegar em casa, costumava ouvir o pai escutar toadas e cantorias de repentistas, o que contribuiu em seu interesse pela arte.
O espaço artístico local do qual Freire faz parte é conhecido por ser a “Terra dos Poetas”. A cidade, localizada no interior do Agreste Pernambucano, tornou a poesia uma constante em sua vida. Desde então, o poeta encontrou novas formas de ressignificar este gênero lírico em outros cenários. Em 2019, no início da pandemia causada pelo vírus COVID-19, passou a publicar os seus poemas em vídeos nas redes sociais.
A sua contribuição ao formato digital da poesia é notável. Os versos, assinados por “Foi Aryel!”, marcam uma identidade própria do autor. Com o sucesso dos poemas nas plataformas do TikTok e do Instagram, Freire ficou conhecido em outras regiões do Brasil. A partir das poesias, tornou-se redator na quarta temporada da série de televisão “Os Roni”. Também assina como um dos compositores da música “Nunca Foi Sorte, Sempre Foi Deus”, gravada por Tarcísio do Acordeon e Yury Pressão.
Poesia escrita por Aryel. Foto: Juliana Pinheiro
A poesia, mais do que versos simples, faz parte de uma tradição oral com raízes líricas e livres que pode ser explorada em diferentes cenários. Da necessidade da escrita, nasce uma narrativa entrelaçada às mais diversas formas de ser e dizer poesia. As regras, abordagens, inspirações e os fragmentos compõem um recorte do cotidiano que atravessa o trabalho individual e contempla um “nós”. Em entrevista exclusiva à Revista Spia, o poeta Aryel Freire explica como a poesia pode ser encaixada e mesclada com várias vertentes do dia a dia. O artista também conta um pouco sobre as suas experiências, opiniões e os desafios durante a sua trajetória e na construção do seu perfil artístico.
Espia alguns dos trechos de como foi essa conversa:
Juliana Pinheiro (JP): Pode nos explicar como é o processo criativo de escrita da poesia?
Aryel Freire (AF): A inspiração para a poesia chega até nós. Se você perguntar a qualquer compositor, essa vai ser a resposta comum. Às vezes, uma palavra, um toque; isso nos desperta. No meu caso, na maioria das situações, eu vejo uma palavra, uma publicação no Instagram, uma frase. Pode ser algo dito por uma pessoa, lido por mim ou até algo que me surge. Tento extrair poesia desses lugares. Quando é bom, eu deixo e guardo. Quando não, eu descarto.
JP: Como podemos manter uma essência poética nas metáforas e um perfil individual dentro do meio digital que hoje é rápido e bombardeado por diversos conteúdos? As pessoas se identificam com publicações mais “diretas” agora, algo menos generalista.
AF: Percebi que os meus vídeos com mais visualizações eram aqueles em que eu falava em primeira pessoa. Quando dizia: eu, eu, eu. Era mais fácil de chegar no público, porque eram situações comuns aos meus seguidores. Costumo brincar que escrevo sobre mim, mas milhares de pessoas vivem ou passam pelo mesmo. Isso acaba gerando essa identificação.
AF: A constância das postagens é um pouco difícil. Hoje em dia não me cobro tanto. “Tenho que postar três ou quatro vídeos por semana”. Quando a poesia chegar, eu posto, como algo natural. É orgânico. Muitas vezes nem me preocupo com os números. Tenho vídeos com bilhões de visualizações e vários seguidores, porém, a minha intenção é que aquela poesia sirva para alguém. Se tiver apenas uma pessoa sendo ajudada ou identificando-se com ela, é o que me satisfaz.
AF: Já recebi mensagens de pessoas com crises de ansiedade ou depressão agradecendo pelas minhas mensagens em vídeos. Isso as motivou a procurar ajuda para estas situações. Acho que esse é o método essencial da poesia, é você tocar no fundo da alma de alguém e ajudá-la de uma forma ou de outra.
Vem conferir mais dessa entrevista no canal do Youtube da Revista Spia.
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