Revista Spia
FIG 2022: Para matar a saudade e esquentar o coração
Atualizado: 6 de ago. de 2022
A cidade de Garanhuns, no interior de Pernambuco, abre suas portas para a 30º edição do Festival de Inverno
Johany Medeiros¹

Desde a sua primeira edição, em 1991, o Festival de Inverno de Garanhuns - FIG pretende valorizar as mais diferentes linguagens artísticas do estado e do Brasil. Após dois anos sem festa, devido a pandemia de covid-19, o festival volta com toda a sua magia e sua imensa variedade cultural. Por 29 edições, o FIG se fez presente na vida e na memória do povo e, em sua 30º edição, é preciso compreender o seu significado em resistência dessa pluralidade artística aqui no estado e esse ano não poderia ser diferente, e não poderíamos ficar de fora: é hora de matar a saudade, espantar o frio e esquentar o coração - nem que seja só um tiquinho. Se for pra ser, deixar fluir
No último final de semana, a cidade de Garanhuns (PE) foi palco e ponto de encontro para diferentes artistas do estado e do país. Desde o dia 15 de julho a cidade celebra mais uma edição do Festival de Inverno, a primeira depois de dois anos parado por causa da pandemia do Covid-19.
O palco Som na Rural foi sucesso garantido e conseguiu trazer consigo toda a potência, magia e arte que exala do nosso estado. A sexta-feira (22/07) nos presenteou uma com uma noite para lá de especial, que nos fez lembrar que “se for pra ser, deixar fluir”, da forma que canta Isadora Melo e nos fez entender que “é no presente onde moro então eu aproveito”, da maneira que entoa Marcelo Rangel. Além destes, houve participação dos artistas Lucas Torres e Joyce Alane. A grade oficial do palco Som na Rural, na 30º edição do FIG, segue com demais atrações até o domingo (30/07).

Arte para aquecer o corpo e o coração
O segundo dia da nossa cobertura, sábado (23/07) foi repleto de arte. Assim que colocou os pés na cidade, nossa repórter Sammy deu de cara com o grupo Maracatu Estrela Brilhante, de Igarassu. Fundada por Cosme Damião Tavares, em 1906, é a nação em atividade mais antiga aqui no estado de Pernambuco e comemora seus 112 anos de pura cultura, com seu batuque contagiante e inigualável. Para Sammy, presenciar a apresentação foi uma experiência muito arrebatadora e bem emocionante. “A dança junto com as batidas da música são elementos que se encaixam perfeitamente. Eu posso dizer, dá para sentir o espírito do maracatu”, diz Sammy.

Continuando com o nosso itinerário, seguimos para o Cinema do Sesc, onde ocorreu o 2º Seminário Arte Contemporânea em Perspectiva, que nesta edição tem como temática “Arte e Política" e tem como objetivo trazer reflexões sobre o atual cenário brasileiro na arte. Os convidados da mesa Criação e Política foram: Juliana Notari (artista visual), Hilton Lacerda (cineasta) e Manoel Constantino (jornalista, escritor, ator e diretor de teatro).
Juliana Notari, doutora e mestre em Artes Visuais, trabalha com as mais diversas formas de linguagens e acredita que a arte em si já é política por natureza. Para a artista visual, “a arte lida com emoções, a arte lida com sentimentos, ela provoca o nosso modo de estar no mundo, de sentir, de perceber, de amar, de desejar”. Para Notari, a arte gera sensibilidade e empatia e conclui “a arte é muito poderosa, porque ela consegue atravessar isso e criar seres empáticos, seres sensíveis, que é isso que estamos precisando”.
O cineasta Hilton Lacerda, além de carregar uma bagagem cinematográfica imensa, como os filmes Amarelo Manga (2003) e Baixio das Bestas (2006), também é o responsável pela direção de vários videoclipes da cena do Manguebeat aqui no estado e diz que o que mais o interessa no movimento mangue “foi uma cidade se descobrir capaz de produzir e pensar arte e cultura, foi uma mudança muito drástica no comportamento de uma cidade”.

Agora no hall da entrada do Sesc, uma exposição intitulada Sete Luas de Sangue. Em homenagem à pintora Tereza Costa Rêgo, que faleceu em 2020, aos 91 anos de idade, estão em exposição um conjunto de sete obras dela. Tereza, que tem como traço forte em sua pintura os tons locais e de insolações tropicais, onde suas obras carregam os tons vermelhos e, logo em seguida, uma nudez feminina que busca romper com os discursos predominantes masculinos dentro da pintura moderna de Pernambuco.
Prestigiar as obras de Tereza é entender e sentir a libertação feminina que domina o próprio corpo e tem seu prazer conquistado, longe de qualquer submissão.

Para finalizar o corrido e maravilhoso sábado, nada melhor que se esquentar um pouco no calor humano. A equipe, dividida entre os dois palcos, conseguiu curtir o show do Palco Som na Rural, que contou com presenças como a das cantoras Luana Tavares e Larissa Lisboa. No Palco Pop, conseguimos registrar o maravilhoso show da banda de São José do Egito, Em Canto e Poesia.



Talvez tenha sido um final de semana curto, para tantos dias desse evento grandioso, mas o que resta são ótimas memórias, saudade, aperto no peito e um até logo. Nunca uma despedida.
* A Exposição Sete Luas de Sangue ficará disponível até o final do festival.
¹ Johany Medeiros é graduanda de Comunicação Social pela UFPE e faz parte da equipe da Revista Spia.