Revista Spia
Crítica Musical do EP Mozart Oliveira
Crítica musical por João Rocha.

Há um bom tempo na estrada da música pernambucana, com interpretações emocionantes de artistas da música popular brasileira, como Maria Bethânia, Gal Costa e Cazuza, Mozart Oliveira lança seu primeiro EP neste ano, com canções autorais e parcerias, apresentando sambas, bossa nossa e muita poesia romântica, em letras que falam de amores diversos, o artista se desnuda, assim como na capa do álbum, criada pelo ilustrador Heitor Silva, a criação mostra Mozart nu com uma hera atrepada ao seu corpo, cheio de simbolismos e significados, identificamos o ouroboros, a cobra que morde seu próprio rabo, apresenta também a constelação de aquário, o céu estrelado, algumas tatuagens e um coração perfurado por seis flechas; na segunda faixa do disco, Mozart não pestaneja em dizer “romântico, romântico até dizer chega”, esse amor antigo e demodê se mostra presente por todo o disco.
Produzido pelo Laboratório 63, com participações de Filip Bagewitz, Matheus Lucena, Guira, Joyce Noelly, Ythalla Maraysa, Izadora França, Rosberg Adonay, Cizou José, Matheus Ferraz, Gael Vila Nova e Valdemar Neto. Mozart provoca o ouvinte a viajar nesse mundo íntimo e cru de melodias ritmadas pela ancestralidade musical de artistas muito jovens. São seis canções, que em 27 minutos e 55 segundos contam um pouco da trajetória deste artista agrestino.
1. Vem
Em uma voz aveludada e um coral que arrepia, a primeira canção conta com uma melodia predominantemente de instrumentos de cordas, Mozart chama o amor para mais próximo de si, em vem ele divide os vocais com Filip Bagewitz que também participa da composição da música. O canto dos amigos criam um coral harmônico ao fazerem a segunda voz, proporcionando essa força coletiva que canta e acredita no amor, “juntos seremos uma estrela, pra quem de longe olhar (...) e todas vão cantar.”
2. Esquecimento
Esquecimento inicia no movimento do samba, dançante, Mozart metaforiza o mar, o rio, transbordando o sentir, nos embriaga com a sensação de amar que nos faz perder o compasso ainda que o remelexo dos pés continuem, o artista nos provoca com a questão “amar é esquecimento?”. A faixa conta com uma poesia em fala, onde ele expõe sua forma de amar que por ora diz basta e em outro momento corre em ritmo alheio em busca desse amar que está fora de moda.
3. Samba do Amor
Com inspirações da bossa nova, o samba de amor pede um gingado mais lento para sambar, e sambar para esquecer ou lembrar da coragem que é preciso para amar, pois o amor dói. Mozart canta a tristeza de derramar a paixão, completude possivelmente realizada pelas vozes de Joyce Noelly, Ythalla Maraysa, Izadora França e Valdemar Neto.
4. Um Bardo
Retomando arquétipos seculares como o boêmio e o bardo, Mozart canta em uma melodia latina, espanhola, mas muito pernambucana o amor efêmero que sente o ritmo do coração de olhos fechados, performando a melancolia do sofrimento que é amar.
5. Flamenco
Como o próprio título descreve, esta canção, iniciada em língua espanhola, apresenta o flamenco, com toques de instrumentos de sopro, incentivando a dança caliente proporcionada a dois corpos, que se entrelaçam e se degeneram em amor e poesia, como descreve também a letra da música.
6. Samba de Carmen
O EP é em sua essência carregado de nostalgias, e muito samba, permitindo o embalo de quem o ouve. Samba de Carmen, a última canção do EP, retoma o coral acalorado e harmônico presente na faixa inicial, dando o último laço e fechando o ciclo desta produção que deixa o sabor de experiências vividas e daquelas que ainda viveremos, pois não há como fugir do amor e consequentemente do sofrer.