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  • Foto do escritorHanna Aragão

Causos e contos: O São João na memória

Atualizado: 23 de dez. de 2021

Conheça pessoas e histórias que aconteceram no São João de Caruaru.


A festa junina é uma tradição muito comum em todo o país, principalmente no nordeste. Cada estado abraça o mês de junho e realiza festas de São João de acordo com suas tradições. Mas é em Pernambuco, em uma cidade do Agreste do Estado, que a festa realmente toma proporções gigantescas. É em Caruaru, que acontece o maior e melhor São João do Mundo.


O São João é um pedaço de Caruaru, a festa não é só uma das mais populares como a marca registrada da cidade que carrega o legado de ser a Capital do Forró. Uma tradição que começou com pequenas palhoças de rua, se tornou gigante, ganhou o Pátio do Forró e vários outros pólos de festa na cidade inteira.


Quando Jorge de Altinho canta: “É a capital do forró, é a capital do forró, é por isso que Caruaru é a capital do forró”, ele não estava brincando. Essa festa faz parte da cultura caruaruense e já foi palco de muitas aventuras, amores e surpresas. Pensando nisso, a Revista Spia resolveu ir atrás de algumas histórias vividas durante o São João de Caruaru. Esse será nosso jeito de manter a fogueira de São João acesa em nossos corações, até o dia em que poderemos celebrar e forrozar novamente.


Considerações importantes, caso você não seja de Caruaru, alguns termos e lugares apareceram nas histórias e pode ficar difícil o entendimento, por isso, sugerimos que leia as notas no final de cada história. Além disso, a Spia optou por deixar a história no formato original que nos foi mandado, algumas coisas são boas demais para serem editadas.


Confira:


Luis - A missão de ir ao banheiro


É uma história muito básica. Basicamente, eu tenho uma missão, que é a missão de ir ao banheiro. O pátio está muito cheio, era show de Marília Mendonça. Daí, que que eu faço? Eu me segurei em Ronaldo, que estava indo ao banheiro comigo, e começo a fingir que estava passando, comecei meu teatro. Ronaldo é uma pessoa muito doida, aí ele começou a abrir espaço dizendo: “SAI DA FRENTE, TÁ PASSANDO MAL”.

Na foto: Luis, Hellen e Sara no dia do teatro até o banheiro

E eu dizendo, “eu tô passando mal”, a gente continuou indo e eu revirando os olhos, me concentrando muito nessa tarefa de passar mal e Ronaldo me arrastando. Quando a gente chega ao banheiro, eu volto a ser uma pessoa plena. Ele olhou pra mim e perguntou, o que foi isso? Daí eu digo, tava fingindo. Ele fica puto comigo, mas enfim.


Na semana seguinte, eu encontro a minha tia. E ele me pergunta se eu estava passando mal no pátio, o que tinha acontecido. Ai ela me conta que estava desesperada no pátio, porque ela me avistou de longe, passando mal, tentou me encontrar, não me achou, chamou os bombeiros, não sabia onde eu estava, ninguém entendendo o que estava acontecendo. Ela ficou até o final do show de Marília, do lado de fora na saída esperando pra ver se eu saía, e eu como se nada só fingindo que estava mal.


*Pátio do Forró: Palco principal do São João de Caruaru. Batizado de Pátio de eventos Luiz Gonzaga, o local é o maior símbolo do São João da cidade.


Gabriel - uma quadrilha no meio do Pátio


Eu estava num grupo de umas 15 pessoas no Pátio do Forró em 2019. Era o show de Raí Saia Rodada. Depois de muita bebida, a gente inventou de montar uma quadrilha no meio da festa. E como era muita gente (mais gente foi se juntando), todo mundo ficou olhando sem entender nada. Mas foi com direito a túnel, “olha a cobra” e serrote. Não me pergunte como a gente conseguiu naquele aperto, mas me senti de volta à escola naquele momento


Ade - Show da banda Kitara


Apesar de não ser de Caruaru, durante toda a minha infância eu passei as festas de fim de ano aqui, com voinha*. Por isso o São João aqui foi por muito tempo um mistério pra mim, porque por mais que eu frequentasse a cidade em outra época, a energia junina exala das ruas e pessoas e suas histórias. Eu sabia que eu estava na cidade do maior São João do mundo, mas pra mim, ainda eram só histórias.


Foi em 2014, quando vim de fato morar com voinha, que passei a viver Caruaru e a sentir a energia junina de verdade. Agora eram minhas histórias. E de tantas vividas, desde romances no Alto do Moura, a lágrimas assistindo as quadrilhas, escolhi uma lembrança mais recente: a do nosso último São João antes da catástrofe, em 2019.


Era uma quinta-feira, dia 20 de junho, mais um dia normal de São João se arrumando na casa de um amigo, fazendo o famoso esquenta antes de ir pra festa. Como a casa desse amigo é mais próxima do palco Azulão*, fomos direto pra ele. Hoje eu não lembro a sequência de shows, mas eis que a banda Kitara entra no palco. Tomado por muitas emoções (álcool, um romance mal resolvido, amigos e São João), acabei subindo no palco.


Também não me pergunte como, mas foi pela frente. Daí em diante foi uma overdose de adrenalina. Embaixo, os amigos filmavam e gritavam. Em cima, eu aproveitava. Apesar de muitas coisas ainda terem acontecido nesse mesmo dia, subir em cima do palco em pleno maior São João do mundo vai continuar sendo uma lembrança que nunca vou me esquecer.


*Polo Azulão: É o palco alternativo do São João de Caruaru, geralmente recebe atrações diversificadas.


Carina - São João no sangue e no coração


Eu sou da região Sudoeste da Bahia e na minha cidade são tradicionais as festividades dos santos juninos, Santo Antônio, São João e São Pedro, cada um por uma comunidade específica. Tenho muito forte em mim as memórias do São João que era organizado por meus pais na minha casa, quando criança. Em especial, do ano que decidiram ser o último.


Na foto: Carina toda arrumada para a festa de São João

A tradição era tão forte que, mesmo que eu fosse bem novinha, 8 anos, minha mãe conversou comigo meses antes avisando que seria nosso último ano comemorando daquela forma, porque íamos nos mudar. Por isso, ela disse que eu poderia escolher os detalhes do que ia acontecer. Decidi o nome que queria, as comidas que não poderiam faltar. Não era nada grandioso, mas era o momento do ano mais aguardado por mim, desde acompanhar a montagem da fogueira, na véspera, a usar as cinzas da fogueira, na manhã seguinte, para assar milho, batata doce.


Todo ano, nessa época, é impossível não lembrar das pessoas que costumávamos confraternizar e a dedicação de todos em construir aquele momento.


Vitória - O amor nasce no São João


Vitória e Aldenio se conheceram na escola, mas nunca se falaram. Um dia, no final do terceiro ano do ensino médio, Aldênio conseguiu o número dela e eles começaram a conversar pelo WhatsApp, a gente começou a conversar. Quando a escola acabou, Vitória viajou e passou três meses fora do país e Aldênio ficou em Caruaru, apesar da distância, os dois continuaram conversando.


Ela voltou em março de 2014 pra casa, e eles continuaram apenas conversando. Em junho, o São João começou e ela perguntou se ele não queria ir para o pátio com ela. Ele já estaria lá com alguns amigos e marcaram de se encontrar. Eles se encontraram com seus respectivos grupos de amigo, na frente da estátua*, entraram no pátio e ficaram bebendo, dançando e cantando.


Quando começou o show de Dorgival Dantas, Camila, prima de Vitória, incentivou que ela ficasse com Aldênio, mas Vitória teve medo de achar que não seria correspondida. No entanto, o seguinte diálogo aconteceu.


Camila: Tu quer beijar ela [Vitória]? Aldênio: Só se for agora!


E o beijo aconteceu! No restante do mês, os dois não se desgrudaram mais e continuaram juntos. Até que Vitória perguntou o que era que ele queria com ela, se era alguma coisa séria ou não e ele disse que sim. Depois de três longos meses, sem estar definitivamente namorando, no dia 15 de agosto, Aldênio pede Vitória em namoro e na mesma semana conheceu os pais dela. Esse amor nasceu numa festa de São João e já dura 6 anos.


David - Luan Santana e o jogo da copa


Eu sou jornalista e trabalhei no São João de Caruaru durante 17 anos, antes de começar os shows tinha uma coletiva de imprensa com os artistas para saber as expectativas para a noite, etc. Em 2014, Caruaru receberia Luan Santana, um dos shows mais esperados da noite.

Na foto: David e Luan Santana antes do show em 2014

Então, estava esperando ele para coletiva de imprensa e era ano de copa, estava acontecendo um jogo e tinha algumas pessoas assistindo o jogo na sala de imprensa. Todos estavam assistindo o jogo quando Luan chegou e perguntou se podia sentar para assistir o jogo com a gente. Ele sentou em uma cadeira ao lado da minha.


Na hora eu não percebi que era ele, e só falei “pode sim, senta aí”. Depois de alguns minutos eu percebi que era ele do meu lado. Infelizmente ele não continuou assistindo com a gente porque colocaram a TV no camarim dele.



Artur - São João, um quase artista de rock e um bêbado


O ano era 2013, se não estou confundindo. Tinha quase 15 anos e era a primeira vez que eu ia ao São João aqui em Caruaru e, junto a Lucas e Bruno, decidimos ir ver os shows do Palco Alternativo, hoje Polo Azulão. Na época, o palco era montado dentro do galpão da estação*, mas a empolgação de estar ali pela primeira vez fez com que a gente desconsiderasse o calor.


Então que vem a memória que decidi contar: Jonathan Richard. Em algum momento do show, ele decidiu descer do palco para tocar no chão, junto ao público, até que se empolgou no momento do solo e começou a tocar deitado no chão. A performance por si só já seria memorável – ainda mais alguém vendo aquilo na primeira vez no São João – se não fosse um homem (bastante bêbado) que decidiu cruzar o galpão bem nesse momento. Ao ver Jonathan deitado no chão solando, não teve dúvidas, deitou junto e começou a “tocar” sua mochila como se fosse uma guitarra também.


*Galpão da Estação: A estação é a antiga estação ferroviária de Caruaru. Antes de existir um palco para o polo alternativo, os shows aconteciam na estação.


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