Gonzaga de Garanhuns, mestre de reisado, poeta e cordelista, dedica sua vida a paixão pela cultura popular de Pernambuco
Sammy¹

O enlace de Luiz Gonzaga de Lima com a cultura popular pernambucana é longo. Teve início no ano de 1954, no Sítio Sussuarana, zona rural de Garanhuns, quando aos 12 anos de idade teve o primeiro contato com o Reisado -folguedo popular tradicional do Agreste pernambucano.
Conterrâneo de grandes artistas, como Mestre Dominguinhos, Seu Gonzaga de Garanhuns, como é popularmente conhecido, resiste às passagens do tempo, sendo um personagem intrínseco à história da cidade de Garanhuns. Nomeado patrimônio vivo de Pernambuco, em 2018, pela Secretaria Estadual de Cultura juntamente a Fundação de Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Gonzaga de Garanhuns dedicou sua vida a arte, seja no reisado, na poesia, na música ou nos cordéis.
Além do Reisado, Seu Gonzaga, o escritor e cordelista, publicou seu primeiro trabalho de cordel em 1973, chamado “Lampião e Serrinha''. Desde então acumula mais de 300 títulos autorais, que ultrapassam as fronteiras do Nordeste e conquistam o mundo afora. Suas obras estiveram expostas em diversos países, como os Estados Unidos, França e Japão. Para manter seu legado vivo, junto de seu filho, Seu Gonzaga inaugurou em 2021 o Espaço Cultural Gonzaga de Garanhuns dedicado ao ensino a folia do Reisado, acervo fotográfico, exposição dos cordéis autorais e bodega de bebidas artesanais, além de uma viagem no tempo com a história do transporte municipal de Garanhuns em formato de miniaturas.
Mestre Gonzaga é um homem autêntico, simples e caloroso. Entusiasmado por sua própria cultura, é uma das principais figuras na manutenção da tradição da cultura popular de Pernambuco. Marcou presença no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), localizado, precisamente, no polo dedicado à cultura popular, Seu Gonzaga conversou com a Spia acerca de seu trabalho e a volta aos palcos com o retorno do festival.
Como é estar de volta ao festival de inverno de Garanhuns (FIG) após dois anos de pandemia?
Foi a maior benção que Deus nos deu, eu tenho muita alegria em estar de volta junto com meu povo no festival de inverno, depois dessa pandemia terrível que prejudicou tanta gente. É muito bom estar de volta, me sinto muito grato.
Qual a importância do festival para a valorização da cultura popular pernambucana, sobretudo a cultura do reisado?
Olhe, eu vou lhe dizer uma coisa, esse festival valoriza muito a cultura do nosso Pernambuco, é uma coisa linda de se ver. É um empenho muito grande, por isso nós estamos aqui hoje nessa apresentação, para valorizar nossa cultura popular tão rica. Dedicar um palco somente a cultura popular mostra o quanto o festival nos valoriza.

O senhor é um dos grandes nomes da literatura de cordel da região. Como surgiu o interesse e de que forma o cordel passou a fazer parte da sua vida?
Entrou na minha vida através de um artigo de jornal. Eu lendo um artigo do Diário de Pernambuco, vi que uma cidade estava sendo elogiada pela literatura de cordel e Garanhuns não tinha isso, e pensei: Garanhuns agora vai ter literatura de cordel. Isso já faz 50 anos, há 50 anos que o cordel está na minha vida.
Durante a pandemia, foi inaugurado um espaço cultural dedicado a suas obras, quais são as expectativas para o espaço com o afrouxamento da pandemia?
Eu tenho muita expectativa, é um espaço para a propagação da nossa cultura, mais um espaço na cidade. Tenho expectativa de receber todos lá.
Depois de tantos anos de luta em defesa da cultura popular em Garanhuns, o senhor foi declarado patrimônio vivo de Pernambuco, qual o seu sentimento ao receber essa nomeação?
Foi incrível, é um sentimento que não sei descrever. Foi uma grande felicidade e uma grande surpresa! Eu já vinha há mais de nove anos lutando por esse título. Em 2018, graças a Deus, reconheceram meu esforço e dois reisados, além do meu, foram declarados como patrimônio de Pernambuco. É uma honra carregar esse título.
E na sua visão, qual o futuro do reisado? O senhor enxerga as novas gerações mantendo essa cultura viva? O que fazer para despertar o interesse dos mais novos pela cultura popular?
É preciso de muito esforço para que o reisado continue vivo. É uma cultura que vem sendo esquecida, sobretudo pelos jovens, pelas gerações mais novas. Mas mesmo assim, estamos fazendo o que podemos. Levamos essa cultura para as escolas, as escolas têm colaborado com esse projeto. Nesse semestre, já vou apresentar um reisado em uma escola na rua da liberdade, próxima ao Espaço Cultural. Eu acredito que a educação é um caminho firme, já que a cultura tem sido tão desvalorizada no nosso país.
¹Sammy é graduanda do curso de Comunicação Social pela UFPE/CAA e colaboradora da SPIA.
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